Você já se perguntou por que algumas obras de arte são tão caras? Por que possuem um preço mais alto ou vendem mais do que outras, mesmo que tenham basicamente a mesma aparência?
Quer você seja um artista, vendedor ou colecionador, quanto melhor entender a dinâmica do mercado, como os preços são definidos e como fatores externos podem influenciar os valores das obras, mais você poderá se beneficiar.
Separamos alguns motivos que poderão te ajudar a entender quais razões, situações ou condições podem justificar preços de venda mais altos nas artes.
Na verdade, a maioria não é.
É importante já deixar claro: o valor não tem relação com a complexidade na execução da obra. Nem com o material utilizado.
As vendas que chegam às manchetes, como essa escultura de 91 milhões de dólares ilustrada acima, são cada vez mais comuns e, ao mesmo tempo, uma anomalia no mundo da arte.
Essas vendas são impulsionadas por um pequeno grupo de colecionadores ricos que pagam preços astronômicos por obras feitas por um grupo ainda menor de artistas, que por sua vez são representados por um pequeno número de galerias de alto perfil. Enquanto isso, o trabalho da maioria dos artistas vivos nunca será vendido na faixa de seis ou sete dígitos, e as galerias que os representam estão cada vez mais sendo deixadas para trás.
“O mercado de arte funciona como uma grande máquina de marketing de consenso”, diz Olav Velthuis, professor da Universidade de Amsterdã que estuda sociologia nas artes.
“Então o que as pessoas fazem é olhar para os sinais de qualidade. Esses sinais podem ser, por exemplo, o que um curador importante está dizendo sobre um artista; se [o artista] faz exposições em museus; se colecionadores influentes estão comprando seu trabalho. Porque todo mundo está, pelo menos até certo ponto, olhando para os mesmos sinais, em um ponto eles começam a concordar [sobre] quem são os artistas mais desejáveis. ”
Em outras palavras, o motivo pelo qual o trabalho de alguns artistas é vendido por milhões de dólares é porque existe um consenso no mundo da arte de que esses trabalhos deveriam ser vendidos por milhões de dólares. E uma vez que a arte é “um mercado para objetos únicos”, acrescenta Velthuis, também há uma sensação de escassez – embora artistas como Jeff Koons e Damien Hirst produzam trabalhos em escala industrial.
Tudo é uma questão de marca. O artista se torna uma marca.
Apenas 0,2% dos artistas têm obras vendidas por mais de 10 milhões de dólares, de acordo com relatório UBS e Art Basel. 32% das vendas em 2017 (que totalizaram mais de 63 bilhões de dólares) vieram de obras vendidas por mais 10 milhões.
Uma análise conduzida pela Artnet naquele ano descobriu que apenas 25% dos artistas representaram quase metade de todas as vendas em leilões contemporâneos nos primeiros seis meses de 2017. Apenas três desses artistas eram mulheres.
Gravamos um podcast sobre a desigualdade de gênero no mercado de arte (Mulheres artistas representam 2% do mercado. Como mudar isto?)
Ainda sobre essa situação, as feiras de arte possuem influência no fechamento de pequenas galerias.
Geralmente, as organizadoras desses eventos cobram das galerias entre US$50.000 e US$ 100.000 pelo espaço do estande, tornando extremamente difícil para galeristas terem algum lucro. Mas, uma vez que as feiras estão se tornando a forma preferida de colecionadores ricos comprarem arte, as galerias não têm escolha a não ser participar.
O problema é que as galerias menores são quem normalmente representam artistas emergentes. Além disso, a demanda por arte não é distribuída uniformemente entre todos os artistas vivos: muitas pessoas estão atrás de um pequeno número de artistas. Isso, inevitavelmente, eleva os preços.
A venda de “Salvator Mundi” reacendeu as discussões sobre o papel do dinheiro no mundo da arte.
A liberalização de certas economias, incluindo a China, Índia e de vários países da Europa Oriental, levou a um boom de coleções de arte fora dos EUA e da Europa Ocidental.
Como resultado, o mercado explodiu no que a escritora Rachel Wetzler descreveu como “uma indústria global ligada ao luxo, moda e celebridade, atraindo uma gama ampliada de compradores ultra-ricos que competem agressivamente por obras”.
A arte não é apenas um bem de luxo: é um investimento, ou pelo menos pode ser. Se os compradores investirem com sabedoria, as obras adquiridas podem valer muito mais no futuro.
O exemplo mais famoso de colecionador / investidor de arte é Robert Scull, um magnata que leiloou peças de sua extensa coleção em 1973 por um valor muito maior do que o gasto inicial. Uma pintura de Robert Rauschenberg que custou 900 dólares em 1958, foi vendida por 85.000.
Uma obra de arte altamente valorizada é um bem de luxo, um investimento e, em alguns casos, um veículo pelo qual os milionários podem evitar o pagamento de impostos.
Até muito recentemente nos EUA, os colecionadores eram capazes de explorar uma brecha no código tributário conhecida como “câmbio similar”, que lhes permitia diferir os impostos sobre ganhos de capital sobre certas vendas se os lucros gerados por essas vendas fossem colocados em um investimento semelhante.
No caso das vendas de arte, isso significava que um colecionador que comprou uma pintura por uma certa quantia – digamos 1 milhão de dólares – e a vendeu por 5 milhões alguns anos depois não precisou pagar impostos sobre ganhos de capital se transferiu aquele ganho de 4 milhões para a compra de outra obra de arte.
As obras de artistas não precisam necessariamente acabar em museus públicos para serem vistas.
Na última década, um número crescente de colecionadores de arte milionários abriu museus privados para exibir as obras que adquiriram.
Ao contrário dos museus públicos, que são prejudicados por orçamentos de aquisição relativamente limitados, os colecionadores podem comprar praticamente qualquer obra que quiserem para seus museus privados, desde que tenham o dinheiro. E como esses museus são abertos ao público, eles vêm com uma série de benefícios fiscais.
“Os ricos compram arte”, declarou a escritora de artes Julie Baumgardner em um editorial do Artsy. “E os super-ricos, bem, eles fazem museus.”
Economicamente falando, os artistas só se beneficiam das vendas quando são realizadas no mercado primário, ou seja, quando um colecionador comprou a obra de uma galeria ou do próprio artista.
Durante décadas, os artistas tentaram corrigir isso lutando para receber royalties das obras vendidas no mercado secundário.
A maioria dos escritores, por exemplo, recebe royalties das vendas de livros para sempre. Mas, uma vez que um artista vende uma obra para um colecionador, o colecionador ou casa de leilões são os únicos que se beneficiam com a venda dessa obra em uma data posterior.
Pudemos observar que conforme os ricos ficam mais ricos, os colecionadores vão pagando preços cada vez mais altos pelas obras feitas por uma parcela de artistas vivos, deixando para trás os artistas emergentes e as galerias que os representam.
Precisamos lembrar também que as obras caras, muitas vezes, carregam um enorme contexto, uma narrativa que transcende a própria arte. E muitas pessoas estão dispostas a pagar por estes pesos históricos.
Entretanto, a maioria das vendas não são em valores milionários. A mídia não notifica eventos simples, apenas os extraordinários. Emily Kaplan, a vice-presidente de vendas de arte do pós-guerra e contemporâneas da Christie’s, relatou que muitas vezes são vendidas obras por dois, três mil dólares.
Feiras de arte acessíveis, que geralmente vendem obras por alguns milhares de dólares, são outra alternativa para pessoas que querem comprar arte, mas não podem gastar milhões em uma única escultura. A Superfine, feira fundada em 2015, se autodenomina como uma forma de levar arte às pessoas em resposta a este mercado inflacionado.
De acordo com seus co-fundadores: “A maioria das transações no mercado de arte realmente ocorre abaixo de US$ 5.000, e é isso que estamos divulgando: o movimento da arte real por artistas reais que constroem uma carreira sustentável, não necessariamente artistas superestrelas com cifras de vendas inatingíveis para o artista médio – se igualmente qualificado. ”
O mercado de arte movimenta preços absurdos? Sim. A tendência é piorar, haja vista que o ciclo se alimenta: novos milionários surgem, usam a arte como um artigo de luxo, selecionam artistas já reconhecidos pelo mercado e disputam cada vez mais por uma obra.
Porém, isso não é o fim do mundo. As redes sociais vieram para ajudar drasticamente na ascensão da carreira dos artistas. As facilidades de compartilhamento e possibilidades de viralização, abriram ótimas oportunidades para o reconhecimento do talento de diversos artistas, que, inclusive, conseguiram se sair bem no mercado mesmo sem ser representados por uma galeria.
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