Movimentos

Arte Cinética, arrojo excitante

Por José Henrique Fabre Rolim - outubro 7, 2024
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A arte cinética é abstrata na essência proveniente do construtivismo concebida na ilusão ótica (op art), proporcionando mudanças de suas características com o movimento virtual ou real.

A expressão foi adotada em 1954 para designar as pesquisas fundadas pela utilização do movimento real (obtido por intervenção física do espectador, por intermédio de um elemento natural ou por um motor). O tema por acaso do movimento figurado é presente na pintura há muito tempo e especialmente também no cubismo e no futurismo. Nota-se que a produção cinética teve sua experimentação inicial em 1912 por Mikhail Larionov a Alexandre Archipenko, passando pelas construções de Gabo e Laszlo Moholy-Nagy influenciando a criação do Rotary Glass Plate (1920) e da Rotativa Meia Esfera (1925) de Marcel Duchamp. Amplas perspectivas foram abertas como as inovadoras concepções dos mobiles de Calder, sementes da pré-história do cinético. Profundamente marcado pelo aparato tecnológico dos anos 50, evidenciado pela exposição “O Movimento” na Galeria Denise René, em abril de 1955, o cinetismo se cristaliza com o surgimento do manifesto do GRAV- (Groupe de la Recherche d’Art Visuel – Grupo de Pesquisa de Arte Visual) denominado Proposição sobre o Movimento, 1961. Em decorrência desse fato surgiu a solidificação de uma organização coletiva gerido pela eficiência, influenciando tanto o Grupo Zero de Dusseldorf como a arte programada sistematizada na Itália por Carlo Giulio Argan. Inicialmente a preocupação pelo cálculo exato era essencial, a rigorosa determinação do movimento de produzir e o abandono do romantismo na arte visava ao aperfeiçoamento da técnica e dos efeitos. A arte cinética se estrutura em um conjunto de concepções e atitudes inovadoras como revelou, em 1967, a exposição “Luz e Movimento” no Museu de Arte Moderna de Paris, especialmente com as obras de artistas como Iaacov Agam e Frank Joseph Malina ou o jogo de volumes parcialmente animados de Samuel Bury e Vassilakis Takis além das primeiras proposições de Tinguely.

Início do Centro de Pesquisa de Arte Visual – CRAV

Em julho de 1960, 11 artistas da Argentina, França, Hungria e Espanha formaram o Centre de Recherche d’Art Visuel (CRAV) em uma garagem localizada no bairro boêmio Marais, em Paris. O Ato de Fundação (Acte de Fondation) reunindo Hugo Demarco, Hector Garcia Miranda, Horacio Garcia Rossi, Julio Le Parc, François Molnar, Vera Molnar, François Morellet, Sergio Moyano Servanes, Francisco Sobrino, Joël Stein e Jean Pierre Yvaral tinha como objetivo unir todas as capacidades criativas dos artistas para formar uma equipe coesa com uma visão inovativa.

Grupo de Pesquisa de Arte Visual – GRAV

Em 1961, pouco tempo depois da formação do CRAV, ocorreu uma transformação com a redução dos participantes passando para seis artistas, o grupo se renomeou GRAV (Groupe de Recherche d’Art Visuel – Grupo de Pesquisa de Arte Visual).

As pesquisas mais concernentes visavam não somente ao olhar do espectador, mas ao conjunto de sua presença física ampliando seus efeitos na utilização de espelhos para constituir ambientes desordenados como no caso da obra de Nicolas Schoffer, que desenvolveu seus estudos em torno de três materiais: espaço, luz e tempo. Esse grupo aliás formado pelos artistas Horacio Garcia-Rossi, Julio le Parc, François Morellet, Francisco Sobrino, Joël Stein e Jean Pierre Yvaral ficou ativo até 1968, com o intuito de compreender as pesquisas sobre o movimento além da superfície do quadro, se aproximando notadamente de Victor Vasarely. A arte cinética com seus recursos tecnológicos, objetiva colocar em evidência certos condicionamentos psicossensoriais inéditos. O modernismo com seus novos materiais (néon, alumínio, aço cromado, plástico, etc.) com a definição dos efeitos pela engenhosidade empregada conduz a um resultado final sempre surpreendente. Fazendo uma comparação com a síntese das artes antigas (pintura, escultura, relevo), percebe-se que a arte cinética surge num período histórico impregnado por uma euforia dos recursos tecnológicos que rapidamente tornavam-se obsoletos. Assim os melhores representantes do cinético são finalmente aqueles que utilizam aplicações monumentais onde desaparece todo o elemento mecânico (Jesús Rafael Soto) ou aqueles que não continuam a usar motores para animar todo o conjunto de formas, mas utilizando simples reflexos como se pode apreciar nas obras de Jean Tinguely e Vassilakis Takis.

Duas mostras em cartaz, atualmente em São Paulo, permitem ao espectador vislumbrar alguns aspectos da arte cinética que ativam a sensibilidade com requintes técnicos aprofundados na pesquisa e na prática criativa.

Arte Cinética
Le Parc

Le Parc

Julio Le Parc, um dos mestres da arte ótica e cinética, ativo em Paris, desenvolveu uma obra revolucionária inovadora sempre com elementos essenciais como luz, movimento e cor possibilitando desafios constantes em telas, esculturas e instalações. Participou do GRAV, permanecendo até a sua dissolução.

Arte Cinética
Le Parc

Sua obra é intensamente lúdica, seus efeitos sobre a retina em movimentos intensos e variáveis proporcionam sensações inesperadas. Atualmente, a sua obra pode ser apreciada na Galeria Nara Roesler, “Julio Le Parc Couleurs” , uma exposição que reúne 45 trabalhos entre pinturas, desenhos e um mobile de grande dimensão que envolve o visitante. A sua paleta é constituída de 14 tonalidades que vem utilizando desde 1959, e que vai desde tons mais quentes como o vermelho e o laranja até os mais frios como azul e roxo.

Cruz Diez (1923-2019)

Nota-se também que Carlos Cruz Diez, artista venezuelano, se destaca nessa revolução cinética tendo feito seus primeiros estudos na Escola de Artes Plásticas e Aplicadas de Caracas (1940-1945), se tornando professor. Descobre a arte cinética durante uma viagem na Espanha e na França (1955) e desenvolve a partir de 1959 a série de Fisiocromias : panneau de lâminas metálicas pintadas, distribuídas na vertical e na horizontal destinadas a provocar um efeito retiniano cintilante dinâmico. Suas obras se nutrem da teoria de Johannes Itten sobre a percepção simultânea das cores diferentes e propõe ao espectador de se locomover diante delas para apreciar um happening cromático.

Arte Cinética
Cruz-Diez

Curz-Diez realiza em 1967 as Transcromias para um grande conjunto em Caracas, como também a Cromosaturação para um lugar público em Paris. Participou frequentemente de exposições organizadas por Denise René em Paris, onde viveu desde 1960. Atualmente, uma mostra com 11 obras de sua autoria foi aberta recentemente na Simões Assis Galeria.

Arte Cinética
Cruz-Diez

A série Physiocromias se destaca ao lado da instalação Laberinto de Transcomia (2017). A exposição Indução Cromática permite ao espectador vislumbrar o ritmo das cores e das formas numa linguagem cinética surpreendente.

Johannes Itten (1888-1967)

Itten foi um pintor e pedagogo suíço extremamente importante, criou sua própria escola em Viena, em 1919. Foi encarregado por Walter Gropius de ministrar o Curso Preliminar na Bauhaus de Weimar, cria uma série de tensões devido ao seu método de ensino, provocando uma oposição feroz. Sua adesão ao mazdeísmo complica ainda mais a sua posição, deixando a Bauhaus em 1923. Entre 1925 e 1934, dirige sua própria escola em Berlim, mas teve que abandoná-la com a ascensão do regime nazista. Após um período na Holanda, ele assume em 1938 a direção da Escola de Artes e Profissões de Zurich. Num livro publicado em 1961, A Arte da Cor, ele expõe suas teorias elaboradas ao curso da sua longa carreira no ensino.

Mazdeísmo

Mazdeísmo, religião persa antiga que se caracteriza pela dualidade entre o bem versus o mal, forças representadas pelos deuses Ahura- Mazda e Arimã, conforme os ensinamentos do profeta iraniano Zoroastro.

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Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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