O impressionismo de Monet é visto em muitas obras com paisagens e cenas urbanas nebulosas e essa característica sempre foi atribuída aos objetivos artísticos impressionistas. Mas um novo estudo sugere que o visual esfumaçado dos quadros do pintor francês não era apenas uma questão de estilo.
Um relatório publicado no início de 2023, assinado pelo Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), argumenta que as obras de Monet e também de JMW Turner, refletem, na verdade, os efeitos da poluição do ar causados pela Revolução Industrial.
Quase 100 obras de Monet e Turner foram analisadas por meio de análises matemáticas de brilho. Notou-se que os contornos das pinturas tornaram-se mais nebulosos, a paleta parece mais ampla e o estilo mudou de mais figurativo para mais impressionista. Essas mudanças estão de acordo com as expectativas físicas de como a poluição do ar influencia a luz.
“Em geral, a poluição do ar faz com que os objetos pareçam mais nebulosos, dificulta a identificação de suas bordas e dá à cena uma tonalidade mais branca, porque a poluição reflete a luz visível de todos os comprimentos de onda”, apontou Anna Lea Albright, pesquisadora de pós-doutorado do Le Laboratoire de Météorologie Dynamique da Universidade de Sorbonne.
Foram comparados os resultados de suas descobertas com estimativas históricas de poluição do ar. De fato, o relatório identificou progressões de “contornos nítidos a mais nebulosos, mais saturados a cores pastéis e figurativos a representações impressionistas”. Essas progressões espelhavam as mudanças atmosféricas em Paris e Londres – os dois principais locais retratados pelos artistas durante o século 19, quando a quantidade de carvão extraído na Europa Ocidental aumentou vertiginosamente para atender às demandas da manufatura industrial.
“Ao longo do século 19, a realidade atmosférica em Londres e Paris mudou. Turner, Monet e outros documentam essas mudanças na pintura, fornecendo evidências representativas de tendências históricas na poluição atmosférica antes que as medições instrumentais da poluição do ar se tornem disponíveis”, comenta Albright.
“O que eu acho realmente maravilhoso nessas obras é que Monet cria belos efeitos atmosféricos a partir de algo tão feio e sujo quanto fumaça e fuligem”, disse Albright. “Ele e Turner não se afastaram da poluição, mas foram capazes de transformar essas mudanças ambientais negativas em uma fonte de inspiração criativa.” conclui a estudiosa.
O impressionismo foi um movimento artístico surgido na França em 1870 que visava romper com a estética vigente na época.
Sua principal característica era a produção ao ar livre, levando os artistas a capturar os efeitos da luz solar. De fato, o uso das cores para a criação dos efeitos de luz e sombra são técnicas muito exploradas no impressionismo.
Consequentemente, houve uma mudança no estilo de confecção das obras, com pinceladas rápidas e quebradas a fim de retratar a luz e seus movimentos.
No movimento impressionista, do qual faziam parte artistas como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Edgar Degas, Camille Pissarro, entre outros, as figuras não deviam ter contornos nítidos, já que as linhas são uma abstração do ser humano para representar imagens. As sombras deviam ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos causam, e não escuras ou pretas, como os pintores costumavam representá-las no passado.
Os contrastes de luz e sombra deviam ser obtidos de acordo com a lei das cores complementares. Assim, um amarelo próximo a um violeta produziria uma impressão de luz e de sombra muito mais real do que o claro-escuro tão valorizado pelos pintores barrocos. As cores e tonalidades não deveriam ser obtidas pela mistura das tintas na paleta do pintor. Pelo contrário, precisavam ser puras e dissociadas nos quadros em pequenas pinceladas.
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