O Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa e que perdurou por grande parte do XIX. Na política, surgia o liberalismo político; no campo social, imperava o inconformismo e no artístico, o repúdio às regras. A Revolução Francesa é o clímax desse século de oposição.
Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo iluminista que marcou o período neoclássico e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.
Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espírito, o Romantismo toma mais tarde a forma de um movimento e o espírito romântico passa a designar toda uma visão de mundo centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Se o século XVIII foi marcado pela objetividade, pelo Iluminismo e pela razão, o início do XIX seria baseado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo “eu”. (Abaixo veremos os elementos centrais do movimento romântico)
O Romantismo surge inicialmente naquela que futuramente seria a Alemanha e na Inglaterra. Na primeira, o Romantismo, teria, inclusive, fundamental importância na unificação germânica com o movimento Sturm und Drang.
O Romantismo viria a se manifestar de formas bastante variadas nas diferentes artes e marcaria, sobretudo, a literatura e a música. À medida que foi se desenvolvendo e ampliando, surgiram críticos à sua demasiada idealização da realidade. Destes críticos surgiu o movimento que daria forma ao Realismo.
A visão romântica anuncia uma ruptura com a estética neoclássica e com a visão racionalista da época da Ilustração. Se o termo “clássico” remete à ordem, ao equilíbrio e à objetividade, a designação “romântico” apela às paixões, às desmedidas e ao subjetivismo. A dicotomia clássico/romântico, frequentemente acionada pelos historiadores da arte, não deve levar ao estabelecimento de uma oposição radical entre os termos, já que as diferentes orientações se combinam em diversos artistas. Por exemplo, as pinturas visionárias e fantásticas do inglês William Blake (1757 – 1827), indica Giulio Carlo Argan, ainda que próximas ao espírito romântico, tomam como modelo as formas clássicas. (Ver imagem abaixo)
Tanto o clássico quanto o romântico são teorizados entre a metade do século XVIII e meados do XIX. O contexto onde as novas ideias se ancoram é praticamente o mesmo: as contradições ensejadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa que repercutem na redefinição das classes sociais (nobreza, a burguesia em ascensão, o campesinato e operariado nascente).
O neoclassicismo parece coincidir com a Revolução Francesa e Império Napoleônico. Além disso, Anton Raphael Mengs (pintor, crítico e teórico do movimento) e Johann Joachim Winckelmann (historiador da arte) defendem a retomada da arte antiga, especialmente greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção.
Já o romantismo aparece mais diretamente ligado à ascensão da burguesia e efervescência dos movimentos de independência nacional. Sua sistematização histórica e crítica está reunida em torno dos irmãos Schlegel na Alemanha, a partir de 1797, aos quais se ligam: Novalis, Tieck, Schelling e muitos outros. Além disso, tem-se como representação filosófica os postulados de Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778), que demonstram seu pessimismo em relação à sociedade e à civilização, que apresentam uma natureza pura, corrompida pela cultura. Disso decorre a exaltação rousseauniana da natureza, da simplicidade da criação, da nostalgia do primitivo e do culto do gênio original.
Esses elementos estão presentes em toda a produção artística romântica, seja nas literaturas de Walter Scott, Chateaubriand, Victor Hugo e Goethe, seja nas músicas de Beethoven, Weber e Schubert.
As grandes extensões de mar, montanhas e planícies cobertas de nuvens ou neblina que se estendem ao infinito, as rochas e picos, e o homem solitário em atitude contemplativa, compõem a imagística do romantismo: a natureza como locus da experiência espiritual do indivíduo, a postura meditativa do sujeito, a solidão, a longa espera, etc.
O paisagismo inglês de William Turner (1775 – 1851) e John Constable (1776 – 1837) costuma ser incluído no rol da pintura romântica, a despeito das distâncias em relação à vertente alemã e das soluções diversas adotadas por cada um deles. Turner realiza telas de tom dramático, com forte movimento e luminosidade. As paisagens de Constable, por sua vez, tendem ao acento naturalista, ao tom poético e ao pitoresco: são ambientes acolhedores, compostos de casas, águas, nuvens, etc.
Na França, por sua vez, o impacto da revolução e o mito napoleônico se refletem nos temas históricos e nas cenas de batalhas, amplamente exploradas pelos pintores.
Théodore Géricault (1791 – 1824), admirador de Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564) e do barroco, retoma o passado e a história em telas como A Jangada da Medusa. O quadro trata de um naufrágio e da luta desesperada dos sobreviventes. O embate entre vida e morte, e as relações hostis entre o homem e a natureza se expressam no movimento dos corpos e da vela, enlaçados num mesmo drama, que as formas revoltas das ondas e nuvens auxiliam a enfatizar.
Eugène Delacroix (1798 – 1863), maior expoente do romantismo francês, se detém sobre a história política do seu tempo no célebre A Liberdade Guia o Povo, quando registra a insurreição de 1830 contra o poder monárquico. A liberdade, representada pela figura feminina que ergue a bandeira da França sobre as barricadas, é uma alegoria da independência nacional, tema fundamental para os românticos. A imagem da luta aparece também na obra de Delacroix associada aos temas bíblicos e religiosos (A Luta de Jacó com o Anjo, 1850 – 1861).
No Brasil, o romantismo coincidiu com a independência política em 1822, com o Primeiro Reinado, Guerra do Paraguai e com a campanha abolicionista. Ele reverbera pela produção artística de modo geral, assumindo contornos diversos nas diferentes artes e nos vários artistas.
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