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Staatliches Bauhaus: uma estética revolucionária


Uma das mais inovadoras escolas de arquitetura e artes aplicadas do século XX foi incomparavelmente a Bauhaus, fundada por Walter Gropius, em 1919, em Weimar na Alemanha, transferida posteriormente para Dessau e depois para Berlim. A Staatliches Bauhaus espelhou uma revolução de ideias dando grande vitalidade às atividades artísticas, uma postura revolucionária que influenciaria as futuras gerações.

A Bauhaus é originária da Deutscher Werkbund (Associação Alemã do Trabalho) tendo como meta a formação de pessoas com talento artístico na área do design industrial, notadamente artesãos, escultores, pintores e arquitetos com foco na treinamento manual e no aprimoramento da técnica e da organização, visando qualidade da produção industrial e o compromisso social de reconstruir um país destruído pela Primeira Guerra Mundial com a democratização da produção de objetos do cotidiano.

A Bauhaus deu um grande impulso para que o design industrial se tornasse funcional, estipulando formas que se posicionaram como clássicas e extremamente atuais. Deve-se frisar que Le Corbusier, importante arquiteto, urbanista e pintor francês de origem suíça, apesar de não pertencer à Bauhaus, mas sendo amigo de Mies van der Rohee e inspirado numa declaração de Paul Cézanne, fazia uma advertência aos seus colegas de profissão: “os cubos, cones e esferas (por extensão, cilindros e pirâmides) são as três grandes formas primárias, que a luz revela com destaque, e sua imagem nos é perceptível de forma limpa, palpável e clara. Por isto, são elas as formas belas, as mais belas de todas.

A arquitetura egípcia, a grega ou romana representam a arte de construir a partir de prismas, dados, cilindros e esferas – o gótico ao contrário, não parte das formas primárias. A catedral não é obra de arte plástica, é um drama”.

Interessante observar que as três formas fundamentais no desenvolvimento da arquitetura e do design surgem também nas telas de Kandinsky, Klee, Itten, Muche e Feininger, envoltas numa infinidade de combinações cromáticas que definem rumos na busca do fundamental, uma visão matemática que assume uma poética transparente e inovadora.

A escola, com as oficinas e cursos de diversas vertentes da arte e do design, proporcionava uma formação ímpar, um novo olhar com concepções plásticas arrojadas. Gropius dizia: “a forma segue a função e todo o ornamento deve ser abolido”.

Cadeira Marcel Breuer

Importante salientar que a fotografia foi introduzida como matéria dos cursos com a chegada de Walter Peterhans à Staatliches Bauhaus em 1929. Objetivando uma linha profissional e reflexiva com um referencial de qualidade de altíssimo nível, os integrantes do curso se aperfeiçoaram em matérias enraizadas no campo científico, direcionado na matemática, na ótica e na química além é claro na análise da textura, da estrutura, da forma do modelo entre alguns itens como iluminação e tempo de exposição da câmera.

Acoplando o lado prático com o teórico os alunos assimilaram uma série de experiências nas naturezas mortas, reportagens e retratos como na liberdade de temas variados. Obtendo assim uma sólida formação, muito dos alunos da Bauhaus, tornaram-se fotógrafos excepcionais colaborando para o desenvolvimento de linguagens vanguardistas que romperam barreiras impondo novas perspectivas tanto no olhar como na solidificação de obras que revolucionaram as artes na complexidade de momentos cruciais do século passado com reflexos no dias atuais.

Os exponentes fotógrafos da Bauhaus se posicionaram como referência para se aquilatar a revolução criativa de uma instituição que abriu perspectivas inovadoras na linguagem artística.

Bauhaus Museum Dessau. Créditos: Faruk Pinjo, 2019.

O arquivo Bauhaus/ Museu de Design de Berlim possui um acervo formado por mais de 40 mil fotos de nomes consagrados como László Moholy-Nagy, Lucia Moholy, Irene Bayer, Elsa Thiemann, Grit Kallin Fischer, Walter Peterhans, Kattina Both, Etel Fodor-Mittag, Erich Consemüller, Grete Stern, Eugen Batz, Gertrud Arndt, Andreas Feininger, Walter Funkat, Marianne Brandt, Herbert Bayer, T.Lux Feininger entre alguns destaques.

Os mestres da Staatliches Bauhaus consolidaram uma dialética concepção filosófica na harmonia perfeita de requintadas técnicas, tanto no fulcro experimental como no avanço do futuro.


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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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