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Escândalo no British Museum: como superar a crise?

Após o escândalo no British Museum envolvendo o roubo de 2 mil objetos, o diretor do museu, Hartwig Fischer renunciou ao cargo. Na sequência, o vice-diretor, Jonathan Williams, também foi afastado. Além disso, houve a demissão do veterano curador de antiguidades gregas Peter Higgs, suspeito de ser o autor dos crimes, considerado um dos maiores casos de roubo a museus dos últimos tempos.

Nessa semana, o presidente do museu, George Osborne, anunciou Carl Heron como o atual vice-diretor da instituição e Mark Jones como diretor interino, substituindo temporariamente Hartwig Fischer.

Relembre o escândalo no British Museum

Em 2021, o negociante e historiador de arte holandês Ittai Gradel entrou em contato com Fischer, Williams e Osborne relatando que os artefatos da instituição estavam à venda na plataforma de e-commerce eBay. No entanto, embora tenha se comprometido a investigar a denúncia, o conselho do Museu não levou o caso a sério, retornando a Gradel a garantia de que não haviam indícios de problemas nos procedimentos padrão do acervo da instituição.

Em 16 de agosto de 2023, os roubos foram confirmados e o museu anunciou a demissão de Peter Higgs, que trabalhava no Museu Britânico há três décadas, sendo este o principal suspeito, atualmente sob investigação.

Itens não catalogados

De acordo com o Telegraph, uma das principais causas do crime foi a falta de documentação de grande parte da coleção na reserva técnica do museu. “Alguém com conhecimento do que não está registado tem uma grande vantagem na remoção desses artefatos”, informou Osborne.

“Isso certamente prejudicou a reputação do Museu Britânico, o que é uma afirmação do óbvio, e é por isso que peço desculpas em seu nome”, disse Osborne, reconhecendo a necessidade de melhorar a segurança no museu.

Especialistas chamaram a perda do British Museum de “ a pior da história moderna ”. O anúncio inicial do Museu Britânico afirmava que os itens desaparecidos e roubados eram do século 15 a.C. ao século 19 e foram mantidos principalmente para fins acadêmicos e de pesquisa. Nenhum deles estava em exibição recentemente.

Um dos artefatos, de valor estimado em US$ 64 mil, foi anunciado no eBay por US$ 51.

Artigos recuperados

O presidente George Osborne disse que cerca de 2 mil dos itens desaparecidos, roubados e danificados estão agora sendo investigados, mas que alguns deles já foram recuperados, descrevendo a situação como “uma fresta de esperança para uma nuvem escura”. “Alguns membros da comunidade de antiquários estão cooperando ativamente conosco”, disse Osborne.

Embora Osborne tenha expressado confiança de que “pessoas honestas” devolveriam algumas das joias de ouro, pedras semipreciosas e peças de vidro desaparecidas, o antigo chanceler do Reino Unido e editor de notícias reconheceu à BBC que “outros não poderão ” . “Acreditamos que temos sido vítimas de roubos durante um longo período de tempo e, francamente, mais medidas poderiam ter sido tomadas para evitá-los”, disse Osborne.

Pedidos de repatriação ganham força

Acredita-se que o volume total do acervo do British Museum esteja na ordem de 4 milhões de artigos. Os britânicos colecionaram artefatos culturais de diversos países durante os tempos coloniais, muitas vezes à força, e sustentam que instituições como o Museu Britânico estão mais bem equipadas para salvaguardar tesouros como os Mármores do Partenon e os Bronzes do Benim. Agora, alguns países argumentam que um crime em grande escala que passou despercebido durante anos é outra razão convincente para a devolução definitiva de artefatos culturais saqueados ao seu país de origem.

Nigéria, Grécia, China, País de Gales e Egito, apelaram à repatriação imediata do seu património cultural

Autoridades nigerianas reivindicam a grande coleção de Bronzes do Benim; a Grécia pede os Mármores do Partenon; a China afirma que o Museu Britânico tenha 23 mil relíquias, com cerca de 2 mil delas em exibição, além de 1,5 milhão de obras de arte e artefatos saqueados durante a Segunda Guerra do Ópio em 1860.

Os Mármores de Elgin, também conhecidos como Mármores do Partenon, são uma grande coleção de esculturas em mármore levadas da Grécia para a Grã-Bretanha em 1806 junto ao império Otomano. Valendo-se do domínio deste sobre os territórios da Grécia, obteve uma autorização do sultão para removê-los do Partenon. As esculturas encontram-se no Museu Britânico, em Londres.
Bronzes do Benim são uma coleção formada por mais de mil peças que provêm dos palácios reais da cidade do Benim, capital do antigo Reino do Benim. Foram criadas pelos povos edos desde o século XIII. Em 1897, os britânicos apoderaram-se da maior parte delas. Centenas foram levadas para o Museu Britânico, em Londres, enquanto o resto foi repartido entre outros museus. Crédito: Wikipedia


O País de Gales também se apresentou, com políticos exigindo a devolução de itens como o Mold Gold Cape e o Moel Hebog Shield. “Já é hora de encararmos o fato de que o Museu Britânico não detém o direito a esses tesouros”, disse o político Liz Saville Roberts.

Mold Gold Cape é uma capa cerimonial feita de de ouro maciço que data de cerca de 1900–1600 a.C. Foi encontrada no cemitério de Bryn yr Ellyllon, no País de Gales, em 1833 e agora no Museu Britânico em Londres, onde costuma ser exibido.
Moel Hebog Shield é um grande escudo de liga de cobre do tipo Yetholm encontrado no País de Gales em 1784, e agora no Museu Britânico em Londres. Data de 1300–1000 a.C.

O renomado egiptólogo Zahi Hawass também renovou o apelo inicialmente feito no ano passado para que o Museu Britânico devolvesse a Pedra de Roseta e outros artefatos históricos ao Egito. Ele pediu ajuda à UNESCO para convocar uma conferência internacional para discutir os próximos passos.

A Pedra de Roseta, o objeto mais visitado do museu, é um fragmento cujo texto foi crucial para a compreensão moderna dos hieróglifos egípcios e deu início a um novo ramo do conhecimento, a egiptologia. Frequentemente descrita como “a pedra mais famosa do mundo”, sua inscrição guarda um decreto de um conselho de sacerdotes estabelecendo o culto ao faraó Ptolemeu V. Em 1801, tropas britânicas e otomanas derrotaram os franceses no Egito e o artigo acabou na posse do Reino Unido. Transportada para Londres, desde 1802 está em exibição no Museu Britânico.

Por fim, o diretor do museu, George Osborne, disse que sua equipe tem uma oportunidade real de superar este momento difícil e emergir mais fortes. “Precisaremos aprender a lição do que acabou de acontecer, mas também precisamos focar na missão curatorial do museu, defender todo o trabalho brilhante que fazemos e começar a grande obra de reforma das instalações do museu britânico.“

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Thais de Albuquerque

Thais de Albuquerque é Relações Públicas, artista visual e criadora de conteúdo. Atua há mais de 15 anos em marketing e criação de identidade visual para empresas, projetos e instituições. Em seu Instagram, desenvolve conteúdos autorais ligados a curiosidades sobre o mundo das artes.

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