A Arte Concreta surgiu na Europa no início do século XX, com o objetivo de criar obras que utilizassem elementos próprios das linguagens artísticas, como planos e cores. Com o tempo, a Arte Concreta expandiu-se para outras áreas, trabalhando com superfícies, sons, silêncios, enquadramentos cenográficos, entre outros. Houve um esforço significativo para desenvolver uma linguagem autônoma, desvinculada dos temas figurativos tradicionais.
Formas geométricas dominaram as primeiras experiências plásticas. Movimentos de vanguarda como o construtivismo russo, o suprematismo, a Bauhaus e o Neoplasticismo (De Stijl) já incorporavam ideias da Arte Concreta em suas expressões antes mesmo do manifesto de Theo van Doesburg ser escrito.
O termo “arte concreta” foi cunhado pelo artista holandês Theo van Doesburg em 1930, em seu manifesto intitulado “Art Concret”. Van Doesburg defendia que a arte deveria ser totalmente autossuficiente e não representar nada além de si mesma. O manifesto enfatizava a importância da precisão, clareza e ordem, e sugeria que a arte concreta deveria ser criada a partir de elementos puramente visuais, como linhas, formas e cores.
A arte concreta é frequentemente associada a formas geométricas simples e abstratas. Essas formas são cuidadosamente compostas para criar uma harmonia visual e uma sensação de equilíbrio. A ênfase está na matemática e na precisão, com muitos artistas concretos utilizando grelhas e cálculos para planejar suas obras.
A paleta de cores na arte concreta tende a ser limitada a cores primárias (vermelho, azul e amarelo) e neutras (preto, branco e cinza). Essas cores são escolhidas por sua clareza e pureza, permitindo que as formas e a composição se destaquem sem a distração de variações tonais complexas.
Uma das premissas fundamentais da arte concreta é a rejeição da representação de qualquer forma de realidade objetiva ou subjetiva. Ao contrário do expressionismo abstrato, que muitas vezes explora emoções e experiências pessoais, a arte concreta busca ser uma forma de arte universal e objetiva, acessível a todos.
Como fundador do movimento, Theo van Doesburg é uma figura central na arte concreta. Suas obras, como “Composition VIII (The Cow)” (1918), exemplificam o uso de formas geométricas e cores primárias.
Max Bill, um artista suíço, é outro nome importante na arte concreta. Sua obra “Eidola” (1947) é um exemplo clássico de como a arte concreta utiliza a geometria e a precisão matemática para criar uma composição equilibrada e harmoniosa.
No Brasil, a arte concreta ganhou força nos anos 1950 com artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica. Clark é conhecida por suas “Bichos”, esculturas móveis que podem ser manipuladas pelo espectador, desafiando a tradicional passividade do observador. Oiticica, por sua vez, criou as “Núcleos” e “Parangolés”, obras que integravam a participação do público e exploravam a relação entre arte e espaço.
A arte concreta teve um impacto significativo em várias áreas além das artes visuais, incluindo o design gráfico, a arquitetura e a arte digital. Sua ênfase na simplicidade, clareza e precisão continua a influenciar artistas e designers contemporâneos.
O movimento concreto influenciou fortemente o design gráfico, especialmente durante o desenvolvimento do estilo internacional na década de 1950. A tipografia limpa, a utilização de grelhas e a preferência por formas geométricas simples são características que podem ser rastreadas até a arte concreta.
Na arquitetura, a influência concreta é evidente em edifícios que enfatizam linhas claras, formas geométricas e a integração de arte na estrutura arquitetônica. O trabalho de arquitetos como Le Corbusier e Oscar Niemeyer incorpora princípios da arte concreta.
Na era digital, os princípios da arte concreta encontraram nova relevância. A precisão matemática e a ênfase na forma e cor são facilmente traduzíveis para os meios digitais, resultando em um renascimento da estética concreta em arte digital e design de interface.
A arte concreta no Brasil foi um dos movimentos mais importantes e inovadores do século XX. Surgindo no contexto das transformações culturais e sociais do pós-guerra, a arte concreta brasileira destacou-se pela sua abordagem rigorosa e científica à criação artística. Inspirados pelos princípios do concretismo europeu, os artistas brasileiros deram uma nova dimensão a essa corrente, incorporando elementos locais e inovando em suas técnicas e conceitos.
A introdução da arte concreta no Brasil está fortemente ligada ao Grupo Ruptura, formado em São Paulo em 1952 por artistas como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Lothar Charoux, Kazmer Féjer, Leopoldo Haar, Hermelindo Fiaminghi e Anatol Wladyslaw. Esse grupo publicou um manifesto onde declarava a necessidade de uma nova arte, que rejeitasse o subjetivismo e a informalidade em favor de uma abordagem objetiva e racional.
No Rio de Janeiro, o movimento ganhou força com o Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa e contando com a participação de artistas como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape e Aluísio Carvão. Esses artistas também procuravam explorar a forma, a cor e o espaço de maneira inovadora, embora com uma abordagem menos rígida que o grupo paulista.
Waldemar Cordeiro é considerado um dos líderes do concretismo em São Paulo. Suas obras são conhecidas pela precisão geométrica e pelo uso de cores puras. “Idéia visível” (1956) é uma de suas peças mais icônicas, onde linhas e formas geométricas se entrelaçam para criar uma composição harmoniosa e equilibrada.
Geraldo de Barros, outro membro do Grupo Ruptura, explorou o potencial da fotografia e da pintura concretista. Sua série “Fotoformas” (1951) é uma das primeiras incursões na arte abstrata fotográfica no Brasil, onde ele manipula negativos fotográficos para criar composições geométricas abstratas.
Lygia Clark, inicialmente ligada ao Grupo Frente no Rio de Janeiro, evoluiu de uma abordagem concreta para uma exploração mais sensorial e participativa da arte. Suas “Bichos” (década de 1960), esculturas móveis de metal articulado, são obras que convidam o espectador a interagir e manipular a forma, desafiando a passividade tradicional do observador.
Hélio Oiticica é um dos artistas concretos mais reconhecidos internacionalmente. Ele começou com obras geométricas, como os “Metaesquemas” (1957-1958), e evoluiu para criações que exploravam a relação entre o espaço e o espectador, como os “Parangolés” (1964-1965). Essas são capas e bandeiras que o público pode vestir, transformando a obra de arte em uma experiência corporal e dinâmica.
Lygia Pape, também parte do Grupo Frente, explorou a interação entre arte e espectador. Sua obra “Livro da Criação” (1959-1960) é um exemplo dessa abordagem. Trata-se de um livro-objeto com páginas geométricas que podem ser rearranjadas, permitindo ao espectador participar ativamente na criação da obra.
A arte concreta no Brasil não apenas introduziu novas formas de expressão artística, mas também influenciou profundamente o design, a arquitetura e a cultura visual do país. O movimento foi um ponto de partida para o neoconcretismo, que buscou uma maior liberdade e subjetividade na arte, rompendo com as rígidas regras do concretismo.
O impacto do concretismo é visível no design gráfico e na arquitetura brasileira. A racionalidade e a clareza formal do concretismo encontraram eco nas obras de arquitetos como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que integraram elementos geométricos e espaciais inovadores em seus projetos.
O movimento neoconcreto, surgido no final da década de 1950, pode ser visto como uma evolução e reação ao concretismo. Artistas como Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape foram figuras chave nesse novo movimento, buscando explorar a subjetividade, a sensorialidade e a interatividade na arte.
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Boa noite!
Texto extremamente interessante, entretanto poderiam ser adicionadas imagens das artes em si ao corpo do texto, já que é justamente esse o objeto de análise estética do concretismo; caso contrário o texto vira um mero parecer historiográfico.
Abraços
Temos um grande problema com direitos autorais, o arteref, mesmo sendo uma revista de arte, já recebeu inúmeros processos por usar imagens, mesmo que com fim editorial