A atual Bienal com o discutido tema Incerteza Viva é bem enxuta, as obras se conectam com as problemáticas ecológicas, sociais e políticas em clima de desavenças ideológicas. Predomina um fluxo experimental na maioria das propostas apresentadas, um dos pontos altos da mostra é a impactante obra de Frans Krajcberg, dando a impressão que a arte estará presente com toda a sua força, mas a ilusão será logo desfeita conforme o visitante for avançando pelos três andares.
As peças de Krajcberg resgatam a beleza das formas vegetais impondo uma icônica expressividade da natureza que se refaz no ritmo das transições da flora. A utilização da natureza como essência de sua obra em defesa do meio ambiente reflete a sua grande preocupação com os desmandos do homem frente à diversidade biológica do território nacional.
Envolta na cosmologia, a 32º Bienal tenta abordar os mais diversos aspectos da complexa formação do mundo, a experimentação é uma das matizes mais representativas, mas a arte em essência é bem mais complexa, ela se impõe pela sua força expressiva não tanto pelos conceitos que acabam restringindo seu campo de ação. Direcionar a atividade artística por caminhos tortuosos que desmistificam a sua autonomia consagrando temáticas oportunas que se encaixam em curadorias impregnadas de restrições conceituais acabam plastificando os resultados finais.
Reunindo 330 obras de 81 artistas e coletivos de 33 países, o evento teve um custo de R$25 milhões, respeitável soma para um evento que propõe reflexões sobre temas como ecologia, aquecimento global, questões indígenas, migrações, instabilidade econômica, crise política entre tantos outros itens cuja solução depende mais dos poderes constituídos e do povo. A arte de uma forma geral sempre propõe questionamentos sobre a condição humana nas mais mirabolantes linguagens, a dimensão da arte é muito mais ampla do que qualquer tema proposto por qualquer Bienal. A dimensão da arte não se mede por temas controvertidos, mas pela chama que desperta na alma de cada um de nós.
A justa homenagem a Frans Krajcberg, artista polonês de 95 anos, que sempre se preocupou com a questão ecológica é um belo reconhecimento, suas obras posicionadas na entrada do pavilhão representam um impacto visual marcante. Troncos, cipós e raízes se transformam em magistrais formas, envolvendo o espectador.
Gilvan Samico (1928-2013) artista pernambucano foi também homenageado com uma mostra no último piso do pavilhão reunindo mais de 30 obras abrangendo o período de 1975 à 2013, enfocando a tradição armorial do nordeste brasileiro.
Na sequência de homenagens o argentino Victor Grippo (1936-2003) que participou da 14º Bienal de 1977, ganhou um espaço especial, uma reprodução de uma instalação onde é produzida energia com batatas conectadas com fios e frascos. Foi um dos componentes do Grupo CAYC de Buenos Aires, comandado por Jorge Glusberg, num momento de efervescência ideológica e artística, época de mudança na história da arte argentina. Teve papel decisivo no desenvolvimento do conceitualismo com emprego de novas tecnologias.
Numa incursão geral pela mostra deve ser destacada a obra de Öyvind Fahlström (1928-1976) com poemas sonoros, pinturas e esculturas, artista que viveu no Brasil quando criança tendo se mudado para a Suécia, onde se notabilizou por ter concebido o primeiro manifesto da poesia concreta nos anos 50.
A obra de Wlademir Dias-Pino, um dos grandes nomes da poesia concreta, merece ser apreciada pela série de imagens realizadas a partir de apropriações incríveis de origens e épocas diversas amalgamadas em camadas, num efeito primoroso que alcança abstrações geométricas.
A atual Bienal não impressiona em termos de arte, pouca coisa se salva, mas como ponto positivo estimulou uma bela programação no circuito das visuais, notadamente no Instituto Tomie Ohtake, no MAM, no MAC, no MASP, na Pinacoteca e nas várias galerias com mostras de altíssimo nível.
Veja a pequena declaração do artista Wlademir Dias-Pino:
Imagens e vídeo – Fernanda Eva
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