Opinião

A separação dos códigos culturais

Por Equipe Editorial - maio 29, 2017
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Atualmente, em virtude da globalização, é fácil percebermos que distintas culturas podem coexistir simultaneamente. É nítido também, que os museus são os espaços que deveriam abrigar as coleções de artes das mais diversas culturas. Porém, para toda produção que não seja do europeu ou norte-americano branco, há separadamente seu museu específico: dos índios, das mulheres, etc.

Será que está faltando uma exposição mais democrática nos museus? Alguma que reflita o multiculturalismo atual? Que exponha a conexão entre vida e arte na velocidade da fibra ótica? Se voltarmos no tempo, veremos que os próprios atenienses da Grécia Antiga percebiam a arte como reflexo das ideias e emoções associadas à vida cotidiana, o que contribui para pensarmos a ligação estreita entre belas-artes e vida social. A representação de atividades cotidianas também é vista na produções artísticas dos Assírios, embora de uma maneira mais hostil. Escavações em Nínive revelaram que Assurbanipal, além de um conquistador cruel, era apreciador de obras raras.

Em seu palácio encontrava-se uma espécie de museu, ainda que o termo seja anacrônico, cujo colecionismo denunciava os saques e pilhagens dos povos conquistados. Este modelo prevaleceu de tal maneira que, quase todos os museus da Europa evidenciam fins memoriais da ascensão do imperialismo e do nacionalismo ao exibirem a grandeza de seu passado artístico. Quer mais um exemplo? O acúmulo de espólios de guerra por Napoleão Bonaparte pode ser visto atualmente no Museu do Louvre. No acervo deste encontra-se ainda Sardanapalo, último rei dos assírios, retratado por Eugène Delacroix.

Na época, este trabalho foi recusado no Salão de 1827-1828, ficando de fora do acervo do Museu de Luxemburgo e obrigando Delacroix a se defender das críticas que reprovaram o quadro e colocaram em risco sua boa reputação enquanto artista. Contudo, a autonomia criativa do pintor, também ligada aos interesses da vida, foi levada em consideração quando o Estado francês, enfim, adquiriu a obra em 1921. Estas são apenas pequenas amostras do colecionismo dominante que rege os museus onde, supostamente, deveriam expor o fator humano que nos liga independente da cultura de origem. De fato, os museus ainda são espaços pouco democráticos e não vemos estas instituições exibindo a diversidade de produções artísticas e culturais lado a lado. Podemos, todavia, tentar reverter esta situação se, como um mantra, entoarmos infinitamente o conselho da inestimável Ana Mae Barbosa: “Essa separação dos códigos culturais em caixinhas pode ser perigosa”.

Texto:André Onishi Ver perfil

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