A Missão Artística Francesa gerou uma infinidade de consequências benéficas para a cultura do Brasil registrando a natureza, a história, as cidades e o povo em pleno século XIX dando uma nova dimensão e difundindo os contrastes de um Reino nos trópicos. Dentre tantos artistas que aqui aportaram, Jean Baptiste Debret (1768-1848) foi um dos que mais se destacaram por retratar um país em formação com as suas características sociais num ambiente tropical deslumbrante, deve-se frisar que ele não foi um artista viajante, mas um artista residente por ter permanecido aqui por mais de 10 anos.
O seu importante livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” mereceu uma nova edição organizada e prefaciada por Jacques Leenhardt com um ensaio extremamente contundente sobre a construção da nação brasileira. A primorosa obra lançada recentemente editada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo reuniu num só volume os três tomos originais publicados entre 1834 e 1839, pela Editora Firmin Didot de Paris.
Na França, Debret é pouco conhecido, curiosamente só em 2014, a obra foi relançada por iniciativa de Jacques Leenhardt e da Imprimerie Nationale Edition, Actes Sud, com pequena colaboração da IMESP.
No Brasil, algumas edições foram realizadas no século XX, nos anos 40 e no final dos anos 60, respectivamente, pela Livraria Martins Editora, pela Itatiaia e USP, todas esgotadas, mas cujas imagens eram de baixa qualidade pelos escassos recursos tecnológicos da época.
O elaborado livro da edição brasileira da IMESP resgata a belíssima tradução de Sérgio Milliet e conta com a organização e prefácio de Jacques Leenhardt, sendo ricamente ilustrada acopla 150 litografias do acervo da Biblioteca Nacional e da coleção da Chácara do Céu possibilitando a apreciação das refinadas imagens que abrangem temas como a corte, os costumes da época, a arquitetura do Rio de Janeiro como os eventos políticos. As litografias foram coloridas por artistas contemporâneos de Debret dando um requintado acabamento em cada peça.
As pinturas, as aquarelas, os desenhos e as gravuras do mestre francês retratam um Brasil vivenciado por D. João VI e a sua corte, dois séculos atrás. A sua obra realça também a privacidade de uma sociedade em formação no reinado de D. Pedro I. Focaliza cenas populares, criando uma iconografia preciosa realçando aspectos de suma importância para a compreensão de uma época, como as vestimentas do povo, as diversões em geral e tantos outros detalhes que impressionam, como o trabalho escravo, as danças indígenas, os estudos de plantas, além de magníficas paisagens do Rio de Janeiro e de outras cidades na sua exuberância tropical decifrando as suas sutilezas.
Na pintura, Debret sofreu influência do seu primo Louis David, pintor de Napoleão, especialmente quando eternizava nas telas solenidades pomposas, como cenas de casamento reais e retratos de nobres. Ao chegar ao Brasil, em 1818, com a Missão Francesa comandada por Joachin Lebreton, Debret pôde desenvolver um trabalho primoroso, livre das preocupações que o afligiam na França. Eram seus companheiros na Missão o pintor Nicolas Antoine Taunay, os escultores Auguste Marie Taunay, Marc e Zèpherine Ferrez, o gravador Charles Simon Pradier e o arquiteto Grandjean de Montigny.
Deve-se frisar que Debret foi o autor do projeto da bela bandeira do Império do Brasil, cujo desenho foi baseado nas bandeiras regimentais de Napoleão, que possuíam o mesmo losango central. Em 1831 regressou a Paris, tendo contribuído para o resgate da memória artística e histórica do Brasil numa agradável incursão, imagens que espelham paixão, foi essencialmente, um visionário.
Fotos:
http://cultura.estadao.com.br/
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