Categories: Opinião

Diálogos e confrontos na Pinacoteca

Aspectos marcantes da arte sempre se distinguem no fluxo renovador das incursões criativas e reflexivas juntamente com as leituras estimulantes dos apreciadores que captam os significados exponenciais como os mais sutis.

A arte proporciona experiências incríveis, que projetam novos rumos com perspectivas desafiadoras, espelhando a condição humana em tempos diversos.

A mostra “Antilogias: O Fotográfico na Pinacoteca” reunindo 250 obras de 60 artistas tendo como referência o acervo da instituição tem como objetivo principal fazer uma reflexão da linguagem fotográfica com suas inúmeras possibilidades, confrontos reveladores de olhares e visões multifacetadas da complexidade vivencial do ser humano nas constantes transformações que influenciam a sensibilidade.

Uma releitura do acervo fotográfico com suas nuances e percurso histórico com o desenvolvimento e a produção contemporânea formada por artistas convidados do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Pará e São Paulo, abrange diversas gerações que permitindo uma ampla análise das obras expostas.

Partindo do percurso de Cristiano Mascaro enfocando nos anos 70, o tradicional bairro do Bom Retiro e passando por nomes pontuais da fotografia como Carlos Moreira, Geraldo de Barros, Fernando Lemos, German Lorca, Rosangela Rennó, Antonio Guerreiro, Armando Prado, Paulo D’Alessandro, além de trabalhos enraizados nas imagens urbanas de Alex Vallauri e nas imagens corporais de Hudinilson Jr, entre tantos outros destaques, o visitante se defronta com inúmeras linguagens em suportes dos mais variados. Uma conexão perfeita dos artistas do acervo com os convidados, delineando um precioso recorte dos diálogos e das potencialidades criativas da fotografia na sua plenitude. Aguarda-se o lançamento do catálogo para breve, que registrará toda essa fabulosa panorâmica de imagens enaltecedoras de inúmeras facetas humanas, urbanas, comportamentais, enfim olhares vivenciais.

Seguindo a linha dos confrontos, a Pina apresenta paralelamente a mostra “Coleções em Diálogo: Museu Nacional de Soares dos Reis e Pinacoteca de São Paulo” reunindo parte do precioso acervo da instituição portuguesa, obras produzidas durante o século XIX, que realçam especialmente paisagens e os hábitos rotineiros da época. As afinidades da arte portuguesa com a brasileira no século XIX ficam evidentes, período que foi profícuo para o desenvolvimento cultural e artístico das duas nações.

As 93 obras entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas expostas provenientes do importante museu português ao lado de 14 da Pinacoteca, revelam sutilezas que levam o visitante para uma outra época, uma sensação prazerosa, mas sobretudo reflexiva sobre a dimensão da arte na sua expressão pura. Vários nomes como Henrique Pousão, Silva Porto e Marques de Oliveira, Artur Loureiro, João António Correia se destacam na requintada mostra, que possibilita a difusão de consagrados artistas lusos não devidamente conhecidos no Brasil, mas que dialogam com os brasileiros como Belmiro de Almeida e Henrique Bernardelli entre alguns que fazem parte do riquíssimo acervo da Pina.

O projeto Coleções em Diálogo é uma brilhante iniciativa que enfoca a relação das obras da Pinacoteca com as de instituições marcantes como aconteceu anteriormente com o Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora e o Museu Paulista da USP, oportunidade rara, que permite ao visitante traçar confrontos e comparações de obras dos acervos de instituições que tiveram percursos diversos, resgatando inclusive a história e a forma de atuação dos museus colocados em pauta.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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