Opinião

Hilma af Klint, complexidade filosófica da existência

Por José Henrique Fabre Rolim - março 8, 2018
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Hilma af Klint. A força da arte está nas sutilezas das suas linguagens, infinitas formas de expressão, interpretações do ser humano no limite da consciência e do inconsciente coletivo. Vislumbrar novos caminhos ou desafios constantes são algumas das motivações que permitem reflexões e confrontos dos percursos dos verdadeiros artistas que transformam a intimidade criativa em revoluções na forma de perceber a complexidade vivencial.

Certos artistas porém estão numa escala bem superior, à frente do seu tempo, visualizam outras dimensões, tanto num plano científico como filosófico, embrenhando-se em aspectos até religiosos.  A artista sueca Hilma af Klint (1862-1944) trilhou um caminho essencialmente revelador, lhe permitindo experiências marcantes, refletidas em seu labor, tendo herdado de sua família uma grande paixão pela Botânica e Matemática.

A mostra na Pinacoteca do Estado “Hilma af Klint: Mundos Possíveis” que reúne 130 obras, a grande maioria produzidas entre 1906 e 1920, estabelece uma rara oportunidade para os apreciadores perscrutar a real dimensão de um percurso extremamente inovador mas sobretudo sensível, uma artista pioneira do abstracionismo que desenvolveu toda uma linguagem revolucionaria precedendo artistas de ponta como Wassily Kandinsky, Kazimir Maliévitch, Piet Mondrian e Frantisek Kupka.

A influência de certos movimentos espirituais como a Teosofia, a Antroposofia ou o Rosa-cruz, proporcionaram à artista uma percepção bem diversa, mais apurada, além de ter estudado profundamente A Doutrina das Cores (1810), uma obra fundamental de Goethe, que além de escritor e poeta, era um cientista, tendo atuado na área da Botânica e da Zoologia, um pesquisador da Natureza, um espírito matemático sem ser matemático assim disse certa vez Rudolf Steiner.

Hilma desenvolveu sutilezas surpreendentes, formando composições abstratas de notável resultado, conectando um mundo paralelo repleto de surpresas.

A mostra permite ao visitante assimilar a representação física do mundo espiritual em tela. Hilma pintou o invisível, encarna o lado enigmático no campo astral, foi uma das primeiras gerações de mulheres educadas na Academia Real de Artes de Estocolmo. Deixou um rico legado formado por 1.200 pinturas, 124 cadernos de notas e desenhos e ao redor de 26.000 páginas manuscritas e datilografadas espelhando a espiritualidade na sua misteriosa dimensão.

Em 1890, Hilma e outras quatro mulheres formaram um grupo que ficou conhecida como De Fem (As Cinco), mas a partir de 1896 as integrantes do grupo praticaram a escrita e o desenho automático, durante as sessões que eram semanais, trinta anos antes dos surrealistas.

Um dos pontos marcantes da importante exposição é a série “As dez maiores”, pintada em 1907, reconhecida como uma das mais grandiosas obras abstratas do mundo, um conjunto impressionante que reflete a visão de uma artista conectada com as manifestações espirituais, um vasto campo para pesquisas mais profundas, ultrapassando os parâmetros da Física e questionando os limites da própria existência.

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Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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