Opinião

Modernismo revisto por uma mostra de 1972


A Casa de Vidro – Instituto Bardi (Rua General Almério de Moura, 200, Morumbi) abriu recentemente a exposição “De 22 a 72: Bardi e o Modernismo Brasileiro” que celebra os 50 anos da mostra “Semana de 22: Antecedentes e Consequências” concebida por Pietro Maria Bardi no Museu de Arte de São Paulo – MASP para o primeiro cinquentenário da Semana de 22, em 1972. O evento comemorativo proporcionava uma leitura ágil do movimento modernista com todas as influencias benéficas para a renovação da cultura brasileira nos diversos setores das artes, a começar pelas visuais, pela música, pela dança, pela arquitetura, pela literatura, pela poesia, pelo design, abrangendo todas as manifestações criativas, do popular ao erudito, uma oxigenação que foi essencial para a abertura de novos horizontes.

Vista Interna da Exposição no MASP. Foto: Gabriel Bonduki

Deve ser lembrado que a festa modernista, no Teatro Municipal de São Paulo, teve como inspiração o festival de Deauville, na França, formado por semanas artísticas, informação preciosa fornecida pela Sra. Paulo Prado, d. Marinette, numa reunião de modernistas que antecedeu o evento. Di Cavalcanti que participava desses encontros sugeriu que São Paulo tivesse a sua semana de escândalos literários e artísticos, era uma das tantas formas de comemorar o centenário da independência do Brasil, em 1922. Paulo Prado, um verdadeiro mecenas se dispôs a ajudar tanto Di Cavalcanti com Rubens Borba na tarefa de organizar uma exposição de artes plásticas.

Fatos marcantes da Semana de 22 são destacados na mostra comemorativa ocorrida no Masp, como a preciosa conversa de 1956, reproduzida no precioso catálogo do Masp em que Menotti del Picchia relatava a Villa-Lobos sua visão sobre o evento: “nós os autores da Semana, não fomos feitos por ela. Nós que a fizemos. Anos antes já sonhávamos com a nossa revolução. Que eram o “Moisés”, o “Juca Mulato”, senão rebeldias e discordâncias do ritmo mental dominante? “Moisés” é de 1917. Em 19, com Oswald, dirigíamos a revista “Papel e Tinta” onde exaltávamos a própria Malfatti e o rebelde criador de “Paulicéia Desvairada”. A Semana foi apenas uma data com o 7 de Setembro, a eclosão de um movimento de independência nacional que vinha de longe. A Semana foi um encontro de valores e não um ponto de partida. Foi a oficialização da rebeldia criando uma data histórica”.

Modernismo revisto em acervo

A exposição ocupou dois espaços no Masp, no primeiro andar, uma coleção de objetos e obras sobre a vida na São Paulo de 1922, numa competente expografia de Pietro Maria Bardi e cavaletes de vidros de Lina Bo Bardi. No vão livre Lina construiu uma versão reduzida do Circo Piolin, exemplo de ator moderno e popular para os modernistas, um reconhecimento de sua autenticidade como grande ator, adorado pelos participantes da Semana, representa um ícone da expressividade popular enaltecendo os valores da arte espontânea em seu fluxo vital.

Na mostra na Casa de Vidro, o visitante poderá apreciar documentos, fotografias e desenhos que documentam a montagem de 1972. Destacam-se os desenhos originais de Lina Bo Bardi para o Circo Piolin e a recriação da arte gráfica de Willys de Castro, artista neoconcreto, para o cartaz e capa do catálogo, interpretando a visão de Bardi sobre o modernismo ao colocar 16 rostos recortados de 15 pinturas e uma escultura produzidas entre 1890 e 1945. Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Portinari e Volpi integram o conjunto.

Reconstituição do gabinete de Mario de Andrade.
Reconstituição do gabinete de Mario de Andrade.

A mostra atual no Instituto Bardi pretende estimular o debate sobre a importância do evento de 22 na modernização do país tanto no âmbito cultural como social e político, todos os setores vitais do país.

Na mostra realizada em 1972, Bardi destaca a força da modernização, as obras dos “semanistas”, (assim ele se referia aos participantes da Semana) que representavam um momento único e provocador, despertando nas contradições a busca para novos desafios.

A Casa de Vidro representa um símbolo de modernidade, criado pela visão inovadora de Lina Bo Bardi, reflete o dinamismo cultural de uma cidade sempre envolta na produção artística enraizada na vanguarda.

A importância de rever o modernismo com toda as suas consequências é benéfica para se compreender o movimento artístico atual que provoca tantas transformações, revoluções intimistas e coletivas, valorizando as referências da brasilidade.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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