Vamos falar sobre Pabllo Vittar? Nada contra como pessoa, tudo contra o que representa, ou melhor, o que lhe impuseram representar.
Se você não sabe, “a Pabllo Vittar” (não me entra na cabeça esse artigo feminino antes de um nome masculino, mas aparentemente é assim que deve ser) é uma Drag Queen que canta mal, muito mal, mas vem sendo inflada pela mídia por atender ao modismo do momento: “diversidade”, ou, na verdade, qualquer radicalismo considerado “disruptivo” de estilo de vida. Você já parou para pensar no que está por trás dessa necessidade de exaltar pessoas diferentonas?
Vemos diversos casos como esse. Pessoas que até então eram mais umas em suas profissões mas, atendendo aos interesses do momento, são alçadas à categoria de “lacradores”. Aconteceu com Cleo Pires, uma atriz medíocre que só ganhou uma chance por ter pai e mãe famosos e só virou lacradora após expor sua intimidade de uma forma radical e gerar muitas reações à sua evasão de privacidade. Já está convencionado: é isso que rende cliques hoje em dia. Falando bem ou falando mal, estas pessoas com posturas radicais (seja no falar, seja no vestir) recebem atenção em redes sociais e, para fins de lucro, qualquer atenção é bem vinda, ainda que seja negativa.
Internet e redes sociais valorizam o que desperta a atenção de seu público. Não importa qual tipo de atenção: supondo que a internet seja um teatro e que nele esteja palestrando o homem mais inteligente do mundo, prendendo a atenção de todos, este homem seria bem cotado. Mas, se no meio da palestra um idiota que resolve aparecer levanta e grita “FOGO!” e todos correm, comentam sobre um possível incêndio e ele mobiliza o teatro (nem que seja para xingá-lo pela notícia falsa), ele passa a ser mais valorizado do que o palestrante altamente preparado. Sim, é este mecanismo cruel que rege a internet e é este mecanismo que faz com que a mídia procure cada vez mais pessoas “polêmicas”.
Então, por qual motivo não colocar uma Drag caricata que canta com som simular ao de uma unha riscando um quadro negro? Que se ferrem se as pessoas vão gostar ou não, cada vez que alguém vai a redes sociais dizer o quanto a Pabllo Vittar é ridícula ou canta mal, está, na verdade, promovendo-a. Por isso tantas pessoas (não apenas famosos) estão caindo para o radicalismo, pois isso lhes rende atenção e, atenção é a grande moeda social do momento.
Só aqui podemos falar sinceramente sobre Pabllo Vittar, pois se estas opiniões forem ditas de cara limpa, nas ruas, serão taxadas de homofóbicas. A sociedade atual não concebe que se possa fazer uma crítica pertinente a qualquer minoria que seja. Gays, negros, deficientes… são todos seres humanos, portanto, muitos deles são sem caráter, más pessoas e oportunistas. Mas não, se você critica um gay é homofóbico, se critica um negro é racista e se critica um deficiente, é simplesmente um filho da …… Por supostamente levar uma vida mais difícil que a sua a pessoa recebe absolvição preventiva contra qualquer coisa, uma espécie de GreenCard social, um passe livre para fazer qualquer merda sem ser recriminado. Que bonito…
A Pabllo Vittar canta mal. Mas não é pouco não, canta muito mal. Parece que estão torturando um golfinho. Uma de suas músicas mais conhecidas, “K.O.” (que ele insiste em pronunciar “caô”) tem talvez o refrão mais mal cantado de todos os tempos. Sua voz é fraca, sua presença de palco é fraca, sua dança é fraca. A única coisa que ela tem é uma belíssima produção Drag, com cabelo, maquiagem e roupas que realmente impactam. Serviria para preencher a lacuna deixada por Elke Maravilha, mas, como cantora… por favor, não dá. Por sinal, até bem pouco tempo eu pensava que no refrão ela dizia “veio à tona, fui à lona, foi caô”, pensando que ela acusava o ex de estar mentindo. Pois é, se você resolve colocar o título da sua música uma abreviação de uma palavra estrangeira, o mínimo do mínimo que se espera é que aprenda a pronunciá-la. Caso contrário, canta “veio à tona, fui à lona, foi nocaute” e não passa vergonha.
Mas, minha revolta represada está me fazendo desviar do assunto. Voltemos ao tema do texto: o que a Pablo Vittar representa. Sugiro um exercício rápido. Em direito, quando queremos saber o quanto uma ação foi determinante para um crime, fazemos a seguinte experiência: se você suprimisse aquela ação, o crime aconteceria da exata mesma forma? Então sugiro que vocês me respondam o seguinte: se a Pabllo Vittar fosse hetero e se vestisse como um rapaz mainstream, faria sucesso? A resposta é bastante óbvia. Ela não faz sucesso por sua música, por sua voz ou por seu talento. Ela faz sucesso por ser carimbada pela militância do momento como uma “contestadora”, “lacradora”, “empoderada”, “disruptiva” ou qualquer outro termo igualmente infantil que queiram usar.
Outro exercício: pegue uma letra de música da Pabllo Vittar e inverta, como se fosse um homem cantando para uma mulher. Pense em um cantor homem, hetero, cantado esta letra direcionada para uma mulher e me diga qual seria a aceitação. Segue um exemplo:
Você já tá querendo e eu também / Mas é cheia de história e de porém / Virou covarde / tô com vontade / Mas você tá demorando uma eternidade / Se você não vem eu vou botar pressão / Não vou te esperar, tô cheio de opção / Eu não sou homem de aturar sermão / Me encara, se prepara que eu vou jogar bem na sua cara / Cheguei / Tô preparado pra atacar / Na sua cara vou jogar /
Imagina a quantidade de protestos em redes sociais, acusações de apologia a estupro, machismo e o tanto de encheção de saco que seria! Então, faço uma segunda pergunta, que vai nortear o resto do meu texto: É sobre Pabllo Vittar ser bom ou é sobre um pessoal recalcado se sentir “vingado”?
É aqui a coisa começa a esquentar. Essas minorias que sempre apanharam no colégio, que sempre sofreram olhares atravessados na vida adulta, continuam não superando o trauma e se portando de forma revanchista, vingativa, agressiva. Pegam “símbolos” do que foi discriminado nelas e se esforçam para alça-los à categoria de mitos, de modo não apenas a se sentirem representados, mas também de “enfiar goela abaixo” da sociedade aquilo que sempre foi tratado com estranhamento. Nada de novo, Zagallo, com 500 anos, já gritava “Vão ter que me engolir!”. Feio, bobo, coisa de gentinha traumatizada, complexada. Patético e até meio vergonhoso. Acho até que nem percebem o que estão fazendo, tamanho o dano causado pelo trauma da não pertinência. Dá até um pouco de pena, pois eles expõe a jugular, através daqueles que idolatram deixam bem claro quais são seus pontos frágeis. Um bom observador que entenda esse mecanismo ganha um mapa indicando exatamente onde bater para arrebentar com a autoestima desse tipo de pessoa.
A Pabllo Vittar tem culpa disso? Nenhuma. Faz ela muito bem de encher o … de dinheiro às custas desses idiotas. Bato palmas. Porém, o que ela representa me causa um pouco de nojo. Grandes chances de que ela nem ao menos entenda como está sendo usada, mas não importa, está enriquecendo, vai melhorar muito de vida, então, acho uma troca justa. Não tenho esperança que ela ou os lacradores saibam fazer esta distinção entre achar asqueroso o que ela representa porém não ter nada contra sua pessoa, mas tenho certeza de que vocês entenderão.
Cada vez que vejo um militonto falando “Pabllo Vittar em tal lugar, chora família tradicional brasileira!” como se fosse algo muito disruptivo, fico me perguntando qual é o problema cognitivo dessa pessoa. Homem que se veste de forma bizarra com adereços exagerados, canta fino e canta mal? Desculpa, Ney Matogrosso já fazia, diga-se de passagem muito melhor. Homem vestido de mulher? Rogeria já fazia. Não tem ninguém chocado na família tradicional brasileira, o preconceito está enraizado justamente dentro da cabeça dos que dizem isso: “chora família tradicional brasileira”. Eles queriam que as famílias estivessem chorando, impactadas, se sentindo agredidas. Olha que constatação terrível! Mas a verdade é que, como sempre, estas minorias são menos importantes do que se imaginam.
A família tradicional brasileira está chorando por causa do alto custo de vida, por causa das mortes decorrentes da falta de segurança pública, pelo ensino de merda (ainda que particular) que existe neste país. A família tradicional brasileira pode até dar uma desprezadinha de qualquer dez segundos em uma Drag, olhar e pensar “credo, como canta mal” e depois segue sua vida. A verdade é que essa rejeição só toma essa dimensão enorme para aquele que é rejeitado, que inflaciona o ato e fica um vida se doendo, remoendo e entende isso como algo enorme. Da parte de quem despreza, acreditem, é dez segundinhos para dar uma esculachada, rir e vida que segue.
Mas eles projetam sua dor enorme de rejeição no rejeitador, que, de boa, está cagando baldes para Pabllo Vittar, Cleo Pires, ou qualquer outro lacrador. Quando Taís Araujo diz que se arrepia toda de ver a filha querendo brincar com bonecas você olha e pensa: “que babaca, prega que a mulher pode ser o que quiser, mas desvaloriza o querer da filha se não for alinhado com o dela” e segue sua vida. Rejeição só reverbera para o rejeitado, e é isso que os lacradores não entendem. Impacta neles, mas em quem rejeita não faz nem cócegas. Dez segundinhos, depois esquecem. Mas, como dói não ter importância, os Zé-Rejeitadinhos acham que a família tradicional brasileira perde noites de sono com eles. Não. Eles é que perdem noites de sono com a família tradicional brasileira e não vão virar essa mesa no grito.
Então, fica ridículo esse revanchismo, é como um cão latindo para um carro. Estão basicamente brigando sozinhos. A família tradicional brasileira se veste de mulher no carnaval e sai no bloco das piranhas, sabe? Ninguém aqui está chocado com o layout da Pabllo Vittar, apenas com o quanto canta mal. Nesse revanchismo de querer esfregar as coisas na cara da “família tradicional brasileira” acabam fazendo é mais papel ridículo, tal qual ex que passa com outro na frente do antigo namorado e ele acha graça e nem se importa. Se a intenção era agredir, chocar ou incomodar, bom, estão passando ridículo (mais uma vez).
Pessoas discriminadas e/ou rejeitadas tem feridas que não cicatrizam. São mais frágeis, menos aptas a lidar com sentimentos. Tem um discernimento contaminado por seus traumas e muitas vezes não conseguem ver as coisas com clareza. A vontade de pertencer é tanta, que forçam uma pertinência onde não existe, tal qual filho rejeitado que faz de tudo para agradar os pais. “Olha lá, Pabllo Vittar no palco do Rock in Rio! Chora família tradicional brasileira!”.
Não, meu bem. Chora você. Nada mudou. Se você for a uma entrevista de emprego de Drag e uma pessoa da família tradicional brasileira concorrer a uma vaga com você, quem você acha que vai ser contratado? Nada mudou, não seja bobos de comemorar farelos, migalhas. Queiram mais, eu sei que quem tem autoestima detonada não costuma achar que consegue mais, mas tenho certeza de que vocês conseguem. Queiram mais. Não comemorem que X coisa está causando desconforto em quem te discriminou, pois isso é continuar a viver em função de quem te discrimina, dar uma importância a essas pessoas e ao que elas estão pensando. Pior: isso é generalizar e dizer que todas as famílias tradicionais brasileiras discriminam.
Essa postura de inimigo, de antagonista, de nós x eles… isso é tão bobo. Mas, pior ainda é reforçar isso quando se está do lado mais fraco. Se você é o elo mais fraco da corrente, não é um pouco burro reforçar a rivalidade? Um discurso conciliador seria mais inteligente, pois, no final do dia, é família tradicional brasileira quem dá as cartas e você vai acabar chorando no banho novamente depois de sentir mais uma rejeição. O fato de Pabllo Vittar estar no palco do Rock in Rio não muda a realidade destas pessoas, por mais que elas estejam desesperadas por achar que sim, por mais que estejam desesperadas para infligir um sofrimento ou desconforto na família tradicional brasileira que tanto as fez sofrer. Elas não estão vingadas, não causaram um dano a quem discrimina. A vontade de vingança é tanta que precisam de uma imaginária? Que feio…
Não se muda sociedade ou valores com uma Drag Queen que canta. Estão fazendo isso errado e, quer saber? Começo a achar que talvez isso reforce mais ainda a exclusão. Ficar desejando chocar a sociedade terá como efeito rebote a sociedade te excluir mais ainda. Quando se está do lado mais fraco, quando se é minoria, a opção mais inteligente é a conciliação. Tentar bater no mais forte nunca acaba bem. Ninguém mais do que eu despreza a família tradicional brasileira, mas, cá entre nós, essa tática está bastante equivocada e vai se voltar contra aqueles que a utilizam. Reflitam.
Texto original de Sally (www.desfavor.com)
Sally é formada em ciências sociais pela USP e possui um Ph.d em Antropologia
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Esse textão todinho recheado de ofensas pra dizer que não se dói com a tal "lacração"?
Não preciso nem dizer que só fez provar o quanto a família tradicional brasileira se dói né? E não é só 'dez segundinhos'.
Tadinha flor, vai lá fazer uma terapia e tomar um remedinho que você tá precisando muito e logo você melhora do seu ódio. Bjos