Opinião

Athos Bulcão: a poética na plasticidade das formas

As revoluções propostas pelos artistas visionários, à frente do tempo presente, amplia o campo das conexões ao envolver multifacetadas reações que aprimoram o olhar, a apreciação da arte na sua ampla dimensão em seus confrontos e experimentações.

Resgatar o percurso de artistas que marcaram época proporciona leituras mais profundas, que geram surpresas ao confrontar aspectos significativos com o fluxo dos desafios.

O vínculo das artes visuais com a arquitetura se manifesta na obra de diversos artistas, envolvidos com o espaço e a forma, que perscrutam caminhos e propostas inovadoras e reflexivas.

A mostra comemorativa do centenário de nascimento de Athos Bulcão (1918-1995), no CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, reúne 300 obras que demonstram a versatilidade de um artista mais conhecido por ter realizado magníficos murais de azulejos em edifícios projetados por Oscar Niemeyer em Brasília. A raiz construtivista do carioca Bulcão se alia com a arquitetura como no caso do excepcional relevo do Teatro Nacional de Brasília.

A mostra no CCBB, no entanto, engloba além dos trabalhos em azulejaria, a sua incursão pelas pinturas, ilustrações, capas de discos, livros, revistas como cenários e figurinos para teatro. A sua rica produção pode ser vista e analisada do 1º ao 4º piso do charmoso espaço expositivo. A linha geométrica de Bulcão se coadunou primorosamente com as concepções de mestres como Roberto Burle Marx, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, desenvolvendo uma obra alicerçada no desenho e na pintura.

A exposição é dividida em 8 núcleos que cobrem as várias facetas de sua obra desde as suas pinturas do carnaval passando pela fase sacra até chegar ao geométrico com a impactante azulejaria. Dentre as variadas obras expostas se destacam as pinturas de máscaras com técnica mista e as fotomontagens em clima surrealista.

No início de sua carreira, depois de abandonar o curso de Medicina, para se empenhar na atividade artística, se tornou assistente de Candido Portinari na execução do painel São Francisco de Assis, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, uma fase importante que moldou a sua projeção futura para a arte da azulejaria, caracterizada pela composição modular, presente notadamente com mais intensidade em Brasília, onde permaneceu até o final da vida. Ele dizia: “Eu gostei muito de Brasília. Fiquei hipnotizado com aquela falta de paisagem, o céu, esta vastidão…”

Interessante notar que a influência da azulejaria de Bulcão se deve à pintura de Vieira da Silva (1908-1992), onde aparecia no fundo das telas, uns quadrados, resquícios de uma paisagem cubista, que estimulou o fluxo criativo e inovador do grande mestre. Os dois se conheceram no Rio, no anos 40, período em que a artista portuguesa, naturalizada francesa morou no Brasil.

As obras marcantes de Bulcão são inúmeras, principalmente em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, mas no exterior o painel da sede da editora Mondadori (1971), em Milão, na Itália, projeto de Niemeyer, é estupendo representa uma verdadeira obra-prima, apreciada por todos que frequentam aquela magnífica construção que chega a ser icônica.

No último andar do CCBB, o núcleo Rastros concentra obras de sua autoria que se mesclam com de jovens artistas e de admiradores, uma reverencia a um grande mestre, que exerceu cargo de docente na Universidade de Brasília.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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