Opinião

Alucinações parciais: Reflexões e interpretações

A arte possibilita uma infinidade de incursões e confrontos, estimula a reflexão e a interpretação dos significados mais transparentes aos mais envoltos nas tramas da complexidade humana.

Aquilatar as potencialidades dos discursos visuais propostos pelos artistas em épocas variadas, permite um vislumbre sobre as peculiaridades de cada obra ou movimento artístico que revolucionou a perspectiva do dinamismo da linguagem em conexão com muitas influencias.

A mostra “Alucinações Parciais – Exposição-Escola com obras-primas modernas do Brasil e do Centre Pompidou” em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, proporciona uma série de atividades ao visitante, uma visão aprimorada das sutilezas de concepções artísticas a dialogarem com a expressividade nas suas infinitas possibilidades. A mostra formada por obras de 20 artistas modernistas brasileiros e internacionais faz um percurso estimulante ao confrontar duas realidades distantes que se entrosam no fluxo das afinidades.

Do Centro Pompidou vieram obras de Henri Matisse, Georges Braque, Vassily Kandinsky, Pablo Picasso, Joan Miró, Robert Delaunay, Man Ray, Paulo Klee, Fernand Léger e Salvador Dali, cuja obra “Alucinação Parcial. Seis Imagens de Lenin Sobre um Piano” deu nome à instigante mostra.

As obras dos artistas brasileiros como Candido Portinari, Cícero Dias, Anita Malfatti, Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral, Ismael Nery, Flávio de Carvalho, Alberto da Veiga Guignard e Maria Martins são provenientes do MASP, Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Museu Lasar Segall e de coleções particulares.

A aproximação de renomados modernistas da Europa com destacados artistas brasileiros cobrindo um período extremamente promissor da arte permite um debate rico difundindo a importância da reflexão em todos os seus aspectos. Durante o transcurso da mostra ocorrerá 150 atividades como debates, palestras, apresentações, performances, visitas guiadas, uma interação bem dimensionada. Um auditório central foi montado no meio da exposição para que os visitantes participem dessa experiência. Excelente iniciativa que propicia uma visão da arte de forma ampla tolhendo barreiras dando mais transparência nas revoluções intimistas e universais.

Trouble in Paradise 1999 Cecily Brown born 1969 Purchased 2000 (Tate Gallery)

Por outro lado, no mesmo Instituto Tomie Ohtake, a mostra “se o paraíso fosse assim tão bom” de Cecily Brown, artista inglesa, radicada nos Estados Unidos, que reúne dez pinturas e oito desenhos concebidos nos últimos dez anos, se destaca por confrontar a figuração e a abstração nas suas mais profundas raízes, cada qual contribuindo para o surgimento de uma linguagem alicerçada na poesia do efêmero e na perpetuação da emoção do gestual com suas misteriosas relações com o tempo.

Seguindo pelos amplos espaços do Instituto Tomie Ohtake, nos defrontamos com a envolvente exposição “Projeto e Destino” de Paulo Pasta, reunindo 13 pinturas cobrindo um período de 13 anos, possibilita ao visitante apreciar obras de grandes dimensões, mas com sutilezas cromáticas desenvolvidas com extremo requinte. O tempo e o espaço se coadunam na dimensão do fluxo cromático e na amplidão de áreas que dialogam com as incursões dos apreciadores. As imponentes obras pictóricas envolvem o espectador, justamente pelo percurso de um artista que se estruturou no rigor formal e cromático, fruto de intensa de análise.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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