Opinião

Weiwei: a arte como contestação e militância

A atividade de Weiwei se estrutura em experiências vinculadas ao existencial e a um culto religioso íntimo.

Por José Henrique Fabre Rolim - outubro 30, 2018
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A impactante mostra “Ai Weiwei Raiz” na Oca representa uma oportunidade ímpar na qual o visitante se envolve com 70 obras de fases diversas de um dos artistas mais contundentes em espelhar a realidade atual em suas incursões reveladoras.

Weiwei é um artista chinês dissidente que realça as mazelas de um sistema repressor que tolhe a liberdade de expressão não só na China como em várias partes do globo. Ocupando 8 mil metros quadrados, o visitante fica impressionado com a variedade de peças expostas.

Algumas obras são recentes e foram realizadas no Brasil com a colaboração de artesões brasileiros, precisamente uma série de ex-votos concebidos em Juazeiro do Norte, Ceará, que expressam a linha de Weiwei, entre as quais a famosa mão com o dedo médio levantado, delineando um gesto provocativo.

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A mostra é grandiosa em todos os aspectos, mas uma das obras que mais impressiona é “Straight”, uma instalação formada por 164 toneladas de vergalhões com diâmetros diferenciados, resgatados dos restos das escolas de Sichuan, na China, destruídas por um terremoto que abalou a região há aproximadamente 10 anos.

A obra é na realidade uma denúncia da omissão das autoridades chinesas que não divulgaram o número de vítimas, que foi de 5 mil crianças mortas no dramático fato. Na Bienal de Veneza de 2013, a obra foi exposta parcialmente ao lado de S.A.C.R.E.D , uma série de dioramas  documentando a prisão do artista na China, em 2011.

Defensor das liberdades do ser humano, uma das obras que atrai a atenção não só pelo seu tamanho grandioso como pelo seu significado atualíssimo é um barco de refugiados à deriva, que chegou a flutuar no Lago do Ibirapuera, antes de sua instalação no último andar da Oca, tema chocante e desesperador.

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Por outro lado, impressionantes troncos de árvores que formam conjuntos excepcionais em termos de escultura poderão ser apreciados, mas nada tem a ver com obra de Krajcberg (1921-2017), o seu olhar é bem diverso, possuem uma dramaticidade poética em confronto com a brutalidade monumental da natureza, peças executadas com muita perícia.

A escultura “Forever Biclycles” formada por diversas bicicletas, instalada estrategicamente fora da Oca, na Avenida Pedro Álvares Cabral também se destaca para os que chegam no Parque Ibirapuera, uma obra notável.

A instalação “Sunflower Seeds” já exposta pela primeira vez na Tate, em Londres, em 2010, surpreende o observador por reunir 100 milhões de sementes de girassol de porcelana realizadas por mulheres do sul da China.

A atividade de Weiwei se estrutura em experiências vinculadas ao existencial e a um culto religioso íntimo, enaltecendo a importância de sua arte como algo sacro.

No período de 1983 a 1993, exilou-se voluntariamente em Nova York, possibilitando um contato enriquecedor com a cultura ocidental criando um fluxo renovador com a cultura tradicional chinesa.

Na 29º Bienal de São Paulo de 2010, o artista participou com a obra “Circle of Animals”, um conjunto de cabeças de bronze originalmente situadas no antigo palácio imperial de verão em Pequim e que representa as doze figuras do zodíaco chinês.

O seu vínculo com a arte figurativa se origina do grande interesse que tem pela arte povera dos anos 80, tendo Michelangelo Pistoletto como um ícone desta corrente, premiado na 9º Bienal de São Paulo de 1967. A interatividade é primordial, o espectador tem que ter uma função ativa.

Weiwei compara a América Latina como o romance de Garcia Marquez “Cem Anos de Solidão”, um realismo mágico palpitante, as coisas parecem reais, mas há algo fantástico no ar. O tempo e o espaço são diferentes de uma sociedade industrializada.

Além de ativista social, pintor e escultor colaborou como designer arquitetônico junto com os arquitetos suíços Herzog & de Meuron no projeto do Estádio Nacional de Pequim para os Jogos Olímpicos de 2008 refletindo uma arrojada concepção.

O título da mostra “raízes” é o ponto crucial, focaliza a solidão, a tragédia humana de estar em exílio permanente, seres que sobrevivem precariamente sem um porto seguro.


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