A história da arte ocidental está cheia de excelentes obras-primas feitas ao longo dos séculos, e uma das pinturas autênticas e enigmáticas é O retrato de Arnolfini, de Jan van Eyck. Trata-se de uma pintura a óleo de 82 x 60cm, feita em 1434 em painel de carvalho, e apresenta um retrato duplo do comerciante italiano Giovanni di Nicolao Arnolfini e sua esposa, supostamente em sua casa flamenga.
Conhecida também como O casamento de Arnolfini, devido a uma aparente indicação de que o casal está representado no momento após os votos. É a pintura famosa mais antiga feita em um painel a óleo e foi comprada em 1842 pela Galeria Nacional de Londres.
O primeiro livro em que a identidade do casal foi revelada foi o de Crowe e Cavalcaselle publicado em 1857, enquanto quatro anos depois James Weale confirmou essa análise em seu livro e identificou a esposa de Giovanni como Jeanne (ou Giovanna) Cenam.
Essas conclusões foram aceitas até 1997, quando outra análise determinou que eles já eram casados em 1447, treze anos após a data da pintura e seis anos após a morte de van Eyck.
A especulação foi ainda mais longe: os estudiosos acreditam que a figura masculina representada é Giovanni di Arrigo ou seu primo, Giovanni di Nicolao Arnolfini e a mulher é uma de suas esposas, o que significa que essa é a primeira esposa de Giovanni di Arrigo, ou a segunda esposa de Giovanni di Nicolao.
Outra especulação é que talvez possa ser a primeira esposa de Giovanni di Nicolao, Costanza Trenta, que faleceu em 1433 ao dar à luz, ou seja, se esse for o caso o retrato seria um pouco assustador, pois apresenta uma pessoa viva e uma morta.
No video abaixo a National Gallery, museu que abriga o quadro de van Eyck, traz um olhar atento à obra, considera a intriga e a maravilha que ela provocou quando foi exibida pela primeira vez em 1843.
A crença de que o casal já era casado era sustentada pelo penteado da mulher, já que na época quando as mulheres não eram casadas tinham que usar os cabelos soltos.
As poses de duas figuras revelam papéis tradicionais de gênero – a mulher fica perto da cama e marca simbolicamente seu papel de cuidadora da casa, enquanto Giovanni fica ao lado da janela aberta, destacando seu papel no mundo exterior.
No entanto, a mulher olha diretamente para o marido, refletindo sua igualdade e as maneiras típicas da sociedade civil da Borgonha e da classe média geral. Além disso, o gesto mútuo de mãos unidas revela o ato de juramento.
Embora a mulher pareça estar grávida, os estudiosos sugerem que esse traje estava na moda na época. Ou seja, Arnolfini era um comerciante de tecidos, o que significava que a moda era muito importante para ele, e quanto mais roupas uma pessoa usava, mais ricas elas eram consideradas.
Essas imagens também estão relacionadas à maneira como a Virgem Maria e outras santas foram representadas durante o início do período renascentista, bem como com o desejo do casal de ser mostrado como propenso à fertilidade e descendência.
Isso é ainda apoiado pela imagem de uma santa esculpida como um ornamento no leito da cama, provavelmente de Santa Margarida, padroeira da gravidez e do parto.
A moldura do espelho convexo apresenta os pequenos medalhões com cenas da Paixão de Cristo, destinadas a representar a promessa de salvação de Deus para as figuras refletidas na superfície do espelho. O interessante é que todas as cenas do lado da esposa pertencem ao ciclo da morte e ressurreição de Cristo, enquanto as do lado do marido pertencem ao ciclo da vida de Cristo.
Na parte central inferior da pintura está a representação de um cão aludindo à lealdade e fidelidade, e pode ser percebido como um emblema da luxúria, apontando o desejo do casal de ter um filho. O cão é um presente de marido para mulher, um cão de colo que pertencia a muitas mulheres cortesãs, que é mais um significante da riqueza de Arnolfini.
O vestido verde da mulher simboliza a esperança (de se tornar mãe), enquanto o forro branco sobre a cabeça significa pureza, ou melhor, seu estado civil. As cortinas atrás do Arnolfini são abertas, o que sugere o dever conjugal ao ato de relação sexual.
A proposição de que este é realmente um retrato memorial é apoiada pelo fato de que a única vela no candelabro é acesa em plena luz do dia, aludindo à presença do Espírito Santo do lado de Giovanni, e contrasta com a vela apagada do lado da esposa, indicando a oposição de vida/morte.
A pintura também apresenta frutas como cerejas na árvore do lado de fora da janela que simbolizam o amor, e as laranjas mencionadas que simbolizam a pureza e inocência presentes no Jardim do Éden antes da Queda do Homem.
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