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“Strike a Pose” no Fringe Festival London: arte e cinema queer

Aconteceu nesse final de semana em Londres o Fringe Festival dedicado ao cinema e a arte de representatividade queer. Em meio a projeções, workshops, exposições e festas milhares de londrinos se juntaram para celebrar a importância de discutir e abrir espaço para as comunidades queer em todos os lugares do mundo.

Na programação tem produções brasileiras, indianas, inglesas, belgas, americanas, chilenas, suecas, chinesas… enfim ninguém ficou de fora.

Um filme que marcou um ponto alto do festival foi “Strike a pose” dirigido por Ester Gould & Reijer Zwaan. O documentário reúne os bailarinos escolhidos por Madonna para se juntar ao elenco de sua estrondosa turnê “Blonde ambition” 25 anos após o seu encerramento. Salim, Kevin, Carlton, José, Luis, Gabriel e Oliver foram içados a fama e rapidamente se tornaram figuras de referencia na cena gay, o que causou problemas para alguns dos integrantes. Na época Madonna gravou com o grupo o documentário “Truth or Dare”, ou Verdade ou Desafio em português, que expôs a vida da comunidade gay e serviu para muitos como exemplo de que ser gay não impede ninguém de poder ter uma vida normal – o senso comum da época era de que gays eram rebeldes e revoltados. Apesar da grande repercussão, uma cena do documentário que mostra dois dos bailarinos se beijando, Salim e Gabriel, causou tremores no relacionamento familiar do grupo por ter forçado Gabriel a “sair do armário”.

O resultado foi uma separação brusca do grupo. Alguns dos integrantes acabaram processando Madonna para ter parte dos direitos autorais do documentário enquanto Gabriel lutava contra a decisão de ter sido forçado a se expor. A maioria dos bailarinos relembra o quão difícil e devastador foi ter entrado na vida noturna das boates e acabar perdendo todas as chances que poderiam ter tido depois de dançar com Madonna.

É muito comovente ver como a cultura do voguing nova iorquino tomava dimensões gigantescas nas vidas de muitos homossexuais pelo mundo a fora. O que era sinal de rebeldia e acontecia trancado em porões em seus primórdios, passava a se tornar modo de vida nas ruas e a encorajar todos que se identificavam. Madonna com certeza teve um papel crucial para o movimento de aceitação da época assim como todos os dançarinos que mostraram que suas histórias pessoais eram tão difíceis e libertadoras como a de qualquer outro. O documentário foi ovacionado na sua noite de estreia no Festival de Cinema de Berlin.

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Marcel Darienzo

Marcel Darienzo é paulista e trabalha nas artes visuais, performance, teatro e dança. Atualmente mora em Londres, Reino Unido, onde é candidato a Mestre pela Goldsmiths, University of London

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