Arte

Conheça a polêmica Arte Queer e alguns de seus representantes


O termo “queer

Queer é uma palavra inglesa do século XVI e a princípio significava “estranho”, “excêntrico”. Também era usada para descrever coisas suspeitas, ou pessoas que tinham um comportamento socialmente inaceitável.

Atualmente, Queer pode ser usado para representar pessoas gays, lésbicas, bissexuais e trans. Passou a denominar um grupo de pessoas dispostas a romper com a heteronormatividade homofóbica, ou seja, tornou-se uma “categoria” ampla, abrigando diferentes identidades da comunidade LGBTI+.

Todos que não são hétero (lésbicas, bissexuais, gays, entre outros) ou cisgênero podem se identificar como queer. Para esses grupos, o termo serve como símbolo de resistência e orgulho, apesar de ser popularmente difundido de forma pejorativa.


Oscar Wilde e o sentido pejorativo do termo

A partir do século XIX, a expressão queer ganhou uma conotação ligada à sexualidade, sendo usado como ofensa para atacar homens gays ou considerados femininos.

O primeiro famoso que foi enquadrado como queer no sentido negativo, foi Oscar Wilde. A palavra foi usada numa carta de John Douglas em 1884, o pai de Alfred Douglas, um dos amantes do escritor. Além disso, John foi responsável pelo processo que condenou Oscar Wilde à prisão por ser homossexual, em 1885.

Oscar Wilde (à esquerda) e Alfred Douglas

Teoria Queer

Surge na década de 1980 como uma teoria sobre gênero, afirmando que a orientação e identidade sexual (ou de gênero) de um indivíduo são produtos de uma construção social. Isso significa que não existem papéis sexuais biologicamente inscritos na natureza humana. Ou seja, somos o resultado do entorno social em que estamos inseridos; consequentemente, podemos desempenhar um ou vários papéis sexuais.

A teoria começou a se consolidar nos anos 90, com o livro Problemas de Gênero, de Judith Butler. Ela chama a atenção para o fato de o gênero ser culturalmente construído, questiona a aplicabilidade dos termos “homens” e “mulheres” a corpos definidos como tal, bem como, o fato dos gêneros serem reduzidos a dois.

Judith Butler

Com as obras de Buttler e Foucault (História da Sexualidade) percebe-se que o gênero decorre de uma série de “regulações sociais”; eles entendem, como postula Nietzsche, que o corpo é uma página em branco na qual os valores culturais se inscrevem. Assim, se o signo é construído, a designação entre masculino/feminino pode ser reformulada.

É importante lembrar que esta não é uma teoria completamente aceita entre as correntes acadêmicas. Ela (assim como a sexualidade) flui por áreas como cultura, sociologia da sexualidade, antropologia, filosofia, artes e muito (muito mesmo) mais.


A polêmica no Brasil

Um acontecimento que gerou debate nas redes sociais e imprensa foi o cancelamento da exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em Porto Alegre, pelo Santander Cultural. Fato ocorreu por pressão de movimentos religiosos e do Movimento Brasil Livre (MBL) e reacendeu a discussão sobre que é e o que não é permitido na arte.

A mostra, com curadoria de Gaudêncio Fidelis, reunia 270 trabalhos de 85 artistas que abordavam a temática LGBTI+ como questões de gênero e diversidade sexual. As obras — que percorrem o período histórico de meados do século XX até os dias de hoje — foram assinadas por grandes nomes como Adriana Varejão, Cândido Portinari, Fernando Baril, Hudinilson Jr., Lygia Clark, Leonilson e Yuri Firmesa.

Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira foi cercada de polêmica após seu fechamento às pressas, em setembro de 2017, respondendo a fortes críticas de grupos que viram nas obras apologia a pedofilia, zoofilia e blasfêmia.

Cruzando Jesus Cristo com Deusa Shiva (1996), do gaúcho Fernando Baril, que retrata Jesus crucificado com os múltiplos braços da deusa do hinduísmo, foi considerada uma ofensa ao cristianismo. Travesti da lambada e deusa das águas(2013), da cearense Bia Leite, faria apologia à pedofilia. De maneira geral, muitos se posicionaram contra a presença não regulada de crianças na exposição.

Ao justificar o fechamento, o Santander disse entender que “algumas obras desrespeitam símbolos, crenças e pessoas”, o que não estaria em linha com sua visão de mundo.

O êxito das investidas e o encerramento precipitado geraram uma nova onda de revolta na internet, desta vez, denunciando censura e defendendo a liberdade de expressão. O “Nuances” (Grupo Pela Livre Expressão Sexual) organizou, em frente ao Santander Cultural, o Ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTFobia, “em defesa da liberdade de expressão artística e das liberdades democráticas”.

Veja mais sobre artistas LGBT’s de grande influência no mundo


Artistas “queers” brasileiros

Pablo Vittar

Pabllo nasceu em São Luís do Maranhão e manteve o nome masculino em sua persona queen. A artista declarou que “Pabllo é quem eu sou, e minha drag é uma parte de mim, não preciso de nome feminino para ser drag”.



Rico Dalasam

Rapper paulistano, assumidamente gay, traz em suas músicas questionamentos sobre ser negro e homossexual. Além disso, o artista brinca com papéis de gênero, usando peças socialmente designadas às mulheres: batons, saias e acessórios diversos.



Lia Clark

Cantora, compositora e drag queen brasileira, tornou-se nacionalmente conhecida no ano de 2016 ao lançar a música “Trava Trava”. Por ser considerada a primeira drag queen do universo do funk brasileiro, Lia foi classificada pela imprensa como uma pioneira do segmento no país



Liniker

Gay, negro e de origem pobre, transborda sentimento em suas músicas. Sua principal influência é a Black Music, mas também bebe das fontes do samba de raíz e rock.

O artista afirma que não sabe se é “o” ou “a” Liniker já que isso não importa; assim, entra em choque com os tradicionais papéis de gênero estabelecidos pela sociedade. Ele (a) usa brincos, vestidos, turbantes e batons em seus shows e videoclipes. 



Jaloo

Cantor e produtor paraense, traz uma estética diferente para enriquecer essa lista. Utilizando diversos elementos para compor seu som e estilo, a palavra-chave para descrever Jaloo é “sincretismo”.


Popularidade

No início de 2018 a plataforma de streaming Netflix estreou sua produção Queer Eye, um reboot da série Queer Eye for the Straight Guy (2003). Agora, o programa apresenta um novo grupo: Antoni Porowski, especialista em comida e vinho; Tan France, especialista em moda; Karamo Brown, especialista em cultura; Bobby Berk, especialista em design; e Jonathan Van Ness, especialista em cuidados pessoais. Em julho de 2018, a série foi renovada para uma terceira temporada, que foi lançada em 15 de março de 2019.

Na história temos os “cinco fabulosos”, como são chamados os especialistas. Eles vão à casa dos participantes, conhecendo suas famílias e hábitos. A partir disso, os ajudam a melhorar suas qualidades de vida, mudando desde seus cortes de cabelo até a cor das paredes da sala de estar.

Esse reality show trabalha a desconstrução da masculinidade tóxica para um mundo melhor para homens e mulheres.


Fontes

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Equipe Editorial

Os artigos assinados pela equipe editorial representam um conjunto de colaboradores que vão desde os editores da revista até os assessores de imprensa que sugeriram as pautas.

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  • Engraçado que pessoas envolvidas com arte esquecem que entre os nossos "pais", artísticos e filosóficos - os Gregos, origem de toda cultura ocidental - o homossexualismo era praticado abertamente sem restrições. Embora hoje saibamos que essencialmente todos animais são basicamente bissexuais...ou polisexuais por constituição organica. Povos menos desenvolvidos como os polinésios vivem esta realidade sem nenhum constrangimento ou repressão. A|s pessoas esquecem que o problema da sexualidade tem origem exclusivamente no Cristianismo, que proibiu o prazer, a fruição e a própria arte que não fosse de sua utilidade! Os judeus mantinham segregação sexual desde o inicio, mas foi Paulo, o judeu fundador do cristianismo, quem tentou garantir que qualquer desvio da ideia de que seres humanos "filhos de Deus" existem apenas para procriar e venerar o "Ente Supremo" seria uma heresia...por negar a "origem divina". Abrindo o caminho para toda forma de perversidade, desde a perseguição aos judeus que não aceitaram o "Cristo" como seu "Messias", ele mesmo um judeu! Daí para a inquisição e outros crimes. que permitiram que a extraordinaria inglaterra até recentemente ainda tinha leis criminalizando o homosexualismo (lembrando Oscar Wilde e Alan Turing, entre tantos outros encarcerados e mortos por este "crime hediondo"!!
    Não exsiste arte maior ou menor, "straight" ou "queer"...apenas arte cujo impulso vem do desejo de fruição ou lazer...como ja percebido pelo grego Epicuro...e mais alguns! Como Otto Rank!
    Estou aberto à discussão!

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