Nesta matéria vamos além da análise de sua obra mais famosa “O grito”. Aqui você vai entender um pouco da vida e trajetória de Edvard Munch, desde a sua infância conturbada até a sua fama e auto-publicidade durante a vida.
O segundo de cinco filhos, o artista nasceu em 12 de dezembro de 1863, em Løten, na Noruega. Sua família passou por muitos sofrimentos devido à problemas de saúde.
Quando tinha apenas 5 anos, sua mãe morreu de tuberculose. Nove anos depois sua irmã de 15 anos, Johanne Sophie, também. Sua irmã mais nova, Laura, foi posteriormente internada por causa de problemas de saúde mental. Sobre a sua família, Edvard Munch uma vez lamentou:
“Eu herdei dois dos inimigos mais terríveis da humanidade – a herança da doença e da insanidade”
Sua própria saúde frágil o mantinha em casa durante os invernos brutalmente frios da Noruega.
Entretanto, apesar de não frequentar a escola nesses momentos, Munch tinha aulas “particulares” com seus colegas de classe, além de ser ensinado pela sua tia Karen e seu pai. Nas horas vagas ele desenhava devotadamente.
Christian Munch educou seus filhos fervorosamente sobre história e literatura, divertindo as crianças com leituras dos contos de terror de Edgar Allan Poe.
Mas, quando as crianças se comportavam mal, Christian era muito duro. Chegava a dizer que a mãe morta olhava para baixo do céu e se envergonhva deles.
As histórias de Poe, assim como as tendências sombrias de seu pai, moldariam a psique e a arte de Edvard. Certa vez, escreveu:
“Meu pai era temperamentalmente nervoso e obsessivamente religioso – até o ponto da neurose. A partir dele eu herdei as sementes da loucura. Os anjos do medo, da tristeza e da morte ficaram do meu lado desde o dia em que nasci”.
Aos 16 anos, Edvard se matriculou em uma faculdade técnica. Enquanto estudava engenharia, ele aprendeu desenho de perspectiva. Mas, seu desejo de fazer arte o levou a desistir de seu curso.
Quando anunciou que planejava se tornar um pintor, seu pai declarou que esse ramo era um “comércio profano”. Mesmo assim, Edvard se matriculou na Escola Real de Arte e Design de Oslo (então chamada Kristiania), fundada por um de seus parentes distantes, o pintor Jacob Munch.
Enquanto ainda estava na escola, Munch pintou um retrato impressionista de seu colega, o artista Karl Jensen Hjell.
A obra, que agora está em exibição na Galeria Nacional de Olso, foi ridicularizada como “impressionismo levado ao extremo” e “uma farsa da arte”.
Embora Christian às vezes desse uma ajuda financeira a seu filho, muitos historiadores da arte acreditam que ele pode ter destruído os primeiros nus de Edvard. Hoje, os esboços são a única evidência de que existiam mais.
Descrito pelo artista como uma “pintura da alma”, o trabalho abaixo seria o primeiro de seis obras de mesmo nome que ele fez ao longo de 40 anos.
Cada criança doente retrata um momento antes da morte de sua querida irmã, onde ela parece estar sussurrando algo.
Embora a comunidade de Oslo inicialmente tenha se preocupado com o tema delicado da pintura, a crítica de arte do século XX, Patricia Donahue, descreveu sua cena positivamente. “É quase como se a criança, sabendo que nada mais pode ser feito, esteja confortando uma pessoa que atingiu o fim de sua resistência”, escreveu ela.
Ao longo de toda a sua vida, Munch capturou sua própria imagem, revelando seu medo de sua própria mortalidade, junto com sua auto-impressão em evolução.
Apesar de sua “pintura da alma” ter recebido polêmica, ele continuou nessa linha. Para uma exposição de 1902, ele lançou “Frieze of Life” – Um Poema sobre Vida, Amor e Morte, uma série de 22 pinturas que traziam nomes como Desespero, Melancolia, Ansiedade, Ciúmes e O Grito.
Finalmente, Edvard Munch ganhou aclamações da crítica de arte, embora o público ainda achasse seu trabalho desconfortável e estranho.
Noite de Verão (1893) Munch Museum, Oslo
Melancolia (1894) | Coleção Privada
Anciedade (1894) | Munch Museum, Oslo
Depois de décadas de tragédia, insegurança e rejeição, Munch aproveitou seu sucesso por algum tempo. Mas isso deu lugar a uma espiral descendente, estimulada por problemas relacionados à bebida e à doença mental.
Em 1908, ele se internou num sanatório porque estava ouvindo vozes.
O artista viveu mais 35 anos depois da saída do sanatório. As obras que produziu durante esse período foram principalmente paisagens, e em grande parte, faltam os temas escuros de seus trabalhos anteriores.
Cores vibrantes e pinceladas soltas fizeram, inclusive, essas pinturas parecerem mais otimistas e até alegres.
A honraria se deveu por sua contribuição à cultura artística norueguesa. Nessa mesma época, ele desfrutou de sua primeira exposição americana em Nova York, em 1912. Mas nenhuma obra desse período ganhou o mesmo tipo de controvérsia ou aclamação em comparação às anteriores.
Durante os seus 50 e 60 anos, Munch voltou às pinturas de nus, quando jovens modelos supostamente apreciavam a chance de posar para um mestre moderno.
O ditador nazista categorizou o trabalho do pintor norueguês como “arte degenerativa” e removeu todas as 82 peças de Munch das paredes dos museus alemães antes da Segunda Guerra Mundial.
Nas palavras de Hitler:
“Por tudo que nos importamos, os bárbaros da pré-história da Idade da Pedra e os gângsteres da arte podem voltar às cavernas de seus ancestrais e aí podem aplicar seus primitivos desenhos”,
Em 1886, Edvard Munch conheceu o filósofo e ativista político Hans Jæger. Como líder do norueguês “Bohème”, Jæger lutou contra a moralidade convencional, defendeu a liberdade sexual e o individualismo.
Enquanto Munch não escreveu nenhum manifesto político, como outros artistas de seu tempo fizeram, muitos de seus trabalhos estão igualmente relacionados com o isolamento do homem e o declínio cultural.
De 1892 a 1896, o artista viveu em Berlim. A comunidade intelectual da cidade – que incluía o dramaturgo sueco August Strindberg e o escultor norueguês Gustav Vigeland – aumentou seu interesse em explorar as alegrias e decepções do amor.
Em 1906, ele pintou um retrato póstumo do famoso filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
O artista nunca se casou. Sua vida amorosa era muitas vezes tumultuada. Em 1902, um relacionamento com a jovem e rica Tulla Larsen terminou com um tiro no dedo na mão esquerda de Munch.
Os detalhes que cercam o incidente – quem puxou o gatilho ou o porque – não foram resolvidos. A relação, no entanto, sempre foi preocupante. Larsen, que conheceu o artista em 1898, persegui-o por toda a Europa. Ele fugiu de seus avanços recusando-se a casar com ela.
Longe de ser saudável, a associação forneceu muito material ao artista. A famosa série de pinturas de Munch sobre amor e morte, intitulada The Frieze of Life citada anteriormente, teve grande inspiração na relação do casal.
“The Experimental Self” apresenta uma seleção de fotografias de Munch. O artista comprou sua primeira câmera em Berlim em 1902, provavelmente uma Kodak Bulls-Eye No. 2.
Ele sempre fazia autorretratos. As fotografias não são obras-primas, mas experimentos amadores. Em 1927, Munch comprou uma filmadora Pathé-Baby e começou a gravar filmes caseiros também.
O artista produziu mais de 1.000 pinturas e 4.000 desenhos ao longo de sua carreira.
Se as impressões são uma maneira de produção em massa, Munch inovou deixando um traço de sua própria mão. Sua linha fluida e imprecisa imbuiu a forma plana com profunda expressão e sentimento.
Seu trabalho inspirou os expressionistas alemães que o sucederam, incluindo Erich Heckel e Emil Nolde, a usar a impressão para seu próprio trabalho simbólico e psicológico.
Também escreveu extensivamente sobre o que talvez fosse seu assunto favorito: ele mesmo.
Escreveu cerca de 13.000 páginas de notas autobiográficas, fragmentos de romances e contos, poemas em prosa, correspondência e meditações sobre arte.
Os escritos de melancolia de Munch geralmente se concentravam nos mesmos tópicos de muitas de suas pinturas: natureza, isolamento e desejo.
O artista olha sua própria vida sem qualquer encobrimento da realidade. Seus últimos autorretratos apresentam o confronto do velho homem com a morte.
Na obra acima, ele se mostra sem qualquer tentativa de esconder o fato de que ele é velho – embora não sem um elemento de desafio diante da morte que o aguarda. Com a postura de um velho, ele se coloca entre os dois símbolos da morte – o relógio e a cama.
O Grito (em todas as suas iterações) foi duas vezes vítima de um assalto. Em 2004, ladrões roubaram a versão de 1910 – junto com outra obra-prima, Madonna – do Munch Museum em plena luz do dia.
O outro roubo ocorreu em fevereiro de 1994, de uma maneira inusitada. Um grupo antiaborto norueguês assumiu a responsabilidade pelo crime, prometendo devolver a pintura se um anúncio antiaborto fosse exibido na televisão. A oferta foi um blefe; naquele maio, o Grito foi recuperado em um hotel sem danos.
O artista morreu em sua casa, aos 80 anos. Apesar dos esforços contrários de Hitler, o legado de Munch ainda prospera. Após sua morte, suas obras foram doadas para a cidade de Oslo.
Hoje, seus trabalhos podem ser encontrados em museus ao redor do mundo. Suas obras inspiraram o movimento expressionista alemão. Sua pátria o homenageou colocando sua imagem na nota de 1000 coroas.
Munch pintou até a morte, muitas vezes retratando sua condição de deterioração e várias doenças físicas em seu trabalho.
Em maio de 2012, “O Grito”, entrou em leilão na Sotheby’s, sendo vendido por mais de US $119 milhões – um preço recorde – selando sua reputação como uma das mais famosas e importantes obras de arte já produzidas.
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NÃO TINHA O QUE EU PROCURAVA !!!!!!!