Curiosidades

A catarata e a percepção de mundo do impressionista Monet

“Quando um cantor perde a voz, ele se aposenta. Também o pintor que não enxerga deve abandonar a pintura, mas isso eu sou incapaz de fazer.”  Claude Monet.

A catarata foi um problema de saúde com o qual Claude Monet, pai do Impressionismo, teve que lidar ao longo de sua vida. Monet foi um pintor bastante produtivo e criou mais de 5.000 obras convivendo com esta característica que fez muita diferença no resultado final de suas obras.

“Não percebo mais as cores com a mesma intensidade nem pinto a luz com a mesma precisão. O vermelho aparece lamacento para mim; já o rosa, insípido; e os tons intermediários ou menores me escapam por completo. O que eu pinto está cada vez mais escuro, mais e mais como uma fotografia antiga.”

O que é catarata?

A catarata é uma é uma doença caracterizada pela perda de transparência do cristalino, lente natural cuja função é propiciar o foco da visão em diferentes distâncias. No início do problema, a pessoa enxerga como se houvesse uma névoa diante dos olhos. Com o avanço da doença, porém, a dificuldade aumenta progressivamente e a pessoa passa a enxergar apenas vultos, evoluindo, às vezes, até a cegueira.

A catarata pode ser congênita ou adquirida e sua principal causa é o envelhecimento. Outras causas são diabetes, inflamações, traumas e excesso de radiação.
No caso de Monet, a doença pode ter acometido o pintor por conta das muitas horas em que ficou com seus olhos expostos ao sol. Monet pintava ao ar livre, preferencialmente ao meio dia, visto ser a representação do efeito que a luz solar produz sobre a natureza uma importante característica do impressionismo.

A catarata limitava severamente sua discriminação de cores e, como forma de “sobrecompensação”, Monet passou a pintar com tonalidades mais intensas. Pinturas de nenúfares e salgueiros, ao longo do período 1916-1922, exemplificam a mudança. Os tons se tornaram mais enlameados e escuros, as formas surgem bem menos distintas, sua sensibilidade de contraste está diminuída, as pinceladas são mais fortes e as cores mais intensas.

O azul intenso de Monet

Monet, que passou a vida documentando as sutis diferenças de cor, assumiu o que talvez fosse o primeiro estudo controlado do mundo sobre cirurgia de catarata, pintando a mesma cena com o primeiro olho operado – azul demais – e seu olho não operado – muito vermelho.

À esquerda: pintura de Monet da ponte japonesa em seu jardim em Giverny (1899); A mesma cena (meio) que ele tentou capturar novamente entre 1918-1922 mostra que as cataratas turvaram sua visão e que o amarelamento das lentes de seus olhos prejudicaram sua visão do azul e do verde, deixando-o num mundo mais “vermelho e marrom”. À direita: Imagem computadorizada criada por especialistas mostrando como Monet enxergaria em 1924.


Leia também:
Roubo de arte: os 7 maiores casos do Brasil

Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
Equipe Editorial

Os artigos assinados pela equipe editorial representam um conjunto de colaboradores que vão desde os editores da revista até os assessores de imprensa que sugeriram as pautas.

Recent Posts

Construtivismo na Arte: História, Ideias e Impacto na Arte Moderna

No início do século XX, entre as convulsões políticas e sociais da Revolução Russa, um…

1 hora ago

Tudo pode ser considerado arte?

Tudo pode ser considerado arte? O que é arte? A partir do "invento" dos ready-mades…

3 dias ago

Pintura em aquarela: o que você precisa saber para começar

A pintura em aquarela, uma forma de expressão artística vibrante e fascinante, tem conquistado corações…

3 dias ago

Confira os próximos cursos da Escola MASP e visitas exclusivas no acervo

A Escola MASP abre, em agosto de 2025, as inscrições para sete novos cursos com…

4 dias ago

Instituto Tomie Ohtake apresenta “Marina Perez Simão – Diapasão”

O Instituto Tomie Ohtake anuncia "Marina Perez Simão – Diapasão", a primeira grande exposição institucional…

4 dias ago

J. Borges, o mestre da xilogravura: biografia, obras e legado

J. Borges (1935–2024) foi um dos mais importantes nomes da arte popular brasileira, reconhecido por…

2 semanas ago