As mulheres artistas e suas obras estão guardadas na nossa memória? Com certeza sim, porém a quantidade é muito pequena. O volume de mulheres que imprimiram sua trajetória na história da arte é baixa, se comparado com o dos homens, por muitas razões. Para começar, as mulheres eram educadas para trabalhos domésticos e para se dedicarem à maternidade. A elas, reservavam-se algumas tarefas artísticas, como o aprendizado de alguns instrumentos musicais, poesia, costura e bordado, mas nada comparado à abertura que os homens tinham para se debruçar sobre pinturas e esculturas, por exemplo.
Durante séculos, as mulheres também não tinham autorização para estudar, muito menos nas escolas de arte, especialmente por serem proibidas de estudarem o corpo humano. A primeira versão do clássico livro “A História da Arte”, de Ernst Gombrich, lançada em 1950, não apresentava sequer uma mulher em suas páginas.
Apesar disso, sim, as mulheres sempre produziram arte – e com muita qualidade – porém não tiveram as mesmas oportunidades de expor ou comercializar seus trabalhos. Inclusive, muitas artistas tinham pseudônimos masculinos ou até mesmo tinham suas obras assinadas por homens, como uma forma de eternizar sua produção sem serem censuradas.
Até os dias de hoje, o volume de obras de arte assinadas por mulheres em museus e galerias – assim como em diferentes cargos ligados ao mercado de arte contemporânea – é consideravelmente inferior às atribuídas a homens.
Com o objetivo de transformar essas perspectivas, reunimos 6 mulheres de grande importância na história da arte nacional e mundial. Afinal, embora muitas tenham feito exposições, alcançado fama e premiações em suas épocas, não tiveram seus nomes devidamente marcados até os dias de hoje.
Começando pelo Brasil, temos essa artista de altíssima relevância na história da arte brasileira. Nascida em Taubaté – SP em 1885, Georgina iniciou seus estudos na pintura aos 15 anos. Aos 18 anos, expôs suas obras pela primeira vez. Um ano depois, se mudou para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes, onde conheceu Lucílio de Albuquerque, com quem ela se casou.
Lucílio, que também era pintor, recebeu um prêmio artístico na França e levou Georgina para estudar junto com ele. Na Europa, ela completa sua formação, sendo a primeira brasileira a passar no rigoroso teste de aptidão da Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris, além de estudar na Academia Julian. Ambos passaram 5 anos estudando na França e foi nesse período que Georgina recebeu toda a influência das técnicas impressionistas.
De volta ao Brasil, em 1919, Georgina recebe uma medalha de ouro na Exposição Geral de Belas-Artes, que lhe dá uma posição bem sucedida dentro da Academia e no ano seguinte ela se torna a primeira mulher brasileira a participar de um júri de pintura.
Sua obra mais emblemática foi “Sessão do Conselho de Estado” (1922), que é a versão da Georgina para a proclamação da independência do Brasil, sendo ela a primeira mulher a produzir uma pintura histórica, gênero até então restrito aos homens. Atualmente, essa obra faz parte da coleção em exposição do Museu Histórico Nacional do Brasil, do Rio de Janeiro.
Georgina deu aulas de desenho na Escola Nacional de Belas Artes, fundou o Museu Lucílio de Albuquerque, após a morte de seu marido, e teve um comprometimento incontestável com a cena artística e cultural brasileira. Em 1952, ela se torna diretora da Escola Nacional de Belas Artes – a primeira mulher a conquistar esse cargo.
Leia também – Georgina de Albuquerque: biografia e principais obras
Nascida em 1528, a pintora renascentista foi uma das primeiras artistas flamengas documentadas. Nascida na Antuérpia, na Bélgica, Catarina era filha de Jan Van Hemessen, pintor famoso na época, e que provavelmente foi seu professor, embora seu estilo seja bem diferente do estilo de seu pai.
A artista é considerada a primeira pintora a criar auto-retratos, de ambos os sexos, com o artista sentado em um cavalete. O retrato, criado em 1548, que mostra a artista nos estágios iniciais de pintar um retrato, está atualmente no Öffentliche Kunstsammlung, em Basileia. Outras pinturas de Van Hemessen estão no Rijksmuseum, em Amsterdã, e na Galeria Nacional de Londres.
A japonesa Uemura Shōen nasceu em 1875, uma época em que mulheres pintoras eram admiradas, desde que pintassem a portas fechadas. Elas podiam até pintar a presença de amigos, mas isso não deveria passar de um hobby. Ao perceber o talento da filha, a mãe de Shōen a enviou para a Escola de Pintura da Prefeitura de Kyoto, aos 12 anos. Aos 15 anos, Shōen se tornou uma celebridade no mundo das artes. Com a fama, passou a receber encomendas de figuras políticas, foi premiada nacional e internacionalmente, além de ser contratada como artista oficial da Família Imperial. Em 1941, Shōen foi convidada a participar da Academia Imperial de Arte, sendo a primeira integrante mulher.
Shōen costumava retratar as modelos na intimidade da vida doméstica ou vestidas com as melhores roupas para sair. Muitas obras traziam uma grande figura central sobre um fundo vazio, com detalhes realistas, linhas precisas e um uso suave de cores, elementos cuidadosamente combinados para destacar as roupas e os traços.
Shōen levou uma vida não convencional. Ela não só trabalhou como pintora, como também nunca se casou, teve um filho solteira e o criou por conta própria. Ela rompeu barreiras, trabalhou incansavelmente e foi pioneira em conquistas artísticas impressionantes.
Leia também: Kintsugi, entenda a arte japonesa de valorizar o velho
Nascida em 1578 em Milão, na Itália, Fede Galizia também era filha de um pintor. Seu imenso talento para retratos lhe rendeu diversas encomendas na época. Porém o que realmente destacou sua trajetória foi seu pioneirismo no gênero de natureza-morta.
Sua capacidade no uso de luz e sombra, junto ao seu olhar atento para utilização de cores e qualidade nas pinceladas, a levou a obter reconhecimento ainda em vida. Galizia também produziu algumas peças religiosas e pintou retábulos.
A obra “Judith com a cabeça de Holofernes de Galizia” é considerada um autorretrato da artista.
Nascida em Budapeste em 1913, Amrita Sher-Gil era filha de pai indiano sikh e mãe húngara. Amrita se aprofundou na arte do autorretrato e a desenvolveu como uma característica distinta em suas obras. Estudou pintura na Europa e retornou à Índia no começo de 1930, viajando para o sul do país a fim de retratar as cenas da vida cotidiana.
Para as mulheres artistas das décadas de 1930 e 1940, não era comum o autorretrato nu. O “Autorretrato como uma Taitiana” de Amrita (1937) foi uma forte declaração de como Amrita queria expressar o que as mulheres, a feminilidade e as ideias de empoderamento significavam naquela época.
Amrita tinha uma forma performativa mas também lúdico de incorporar os diversos trajes indianos em sua identidade e personalidade. Ela se apropriou dos saris e outras roupas tradicionais para revelar seu lado carismático e misterioso. Essa era uma maneira de compartilhar o orgulho que sentia das próprias origens.
Amrita morreu em dezembro de 1941, quando tinha apenas 28 anos e dias antes de inaugurar sua primeira grande exposição individual. Ela teve uma vida curta, mas muito prolífica, já que deixou um enorme conjunto de obras que é considerado um dos tesouros da arte nacional na Índia.
A norte-americana Harriet Powers nasceu em 1837 e nasceu como escrava na zona rural da Geórgia. Powers usava técnicas tradicionais de apliques (quilts) para fazer colchas que expressavam lendas locais, histórias bíblicas e eventos astronômicos.
Powers exibiu sua primeira colcha, The Bible Quilt , em 1886 na Feira de Algodão de Atenas, onde Jennie Smith, uma artista e professora de arte do Instituto Lucy Cobb, viu a colcha e se interessou por comprá-la. Powers recusou-se a vender, mas as duas mulheres mantiveram contato. Anos anos depois, enfrentando dificuldades financeiras com seu marido e seus nove filhos, Powers, quis vender colcha a Smith por dez dólares. Smith pagou cinco. Powers explicou toda as imagens e a narrativa da colcha para Smith – que registrou essas explicações.
Foto da colcha bíblica de 1886 de Harriet Powers, de Rhonda Leigh Willers , da Universidade de Wisconsin – River Falls e obtida de artistas afro-americanos. Ambas as colchas são costuradas à mão e à máquina , usando técnicas de apliques e peças que demonstram influências afro-americanas e africanas. [19] Eles são notáveis pelo uso ousado dessas técnicas e pela narrativa.
Atualmente, seu trabalho está em exibição no Museu Nacional de História Americana em Washington, DC, e no Museu de Belas Artes de Boston, Massachusetts.
Com esta sucinta seleção, esperamos que as suas lembranças de mulheres artistas renomadas na história da arte sejam ampliadas e que a produção artística feminina seja cada vez mais celebrada.
Rosana Paulino apresenta um trabalho centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero,…
Na arte, o belo é um saber inventado pelo artista para se defrontar com o…
SPPARIS, grife de moda coletiva fundada pelo artista Nobru CZ e pela terapeuta ocupacional Dani…
A galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea - que completa 15 anos - apresentará, entre os…
Nesta matéria enumeramos algumas tendências de arte mais estranhas da história que você já viu.…
Um dos artistas abstratos mais conhecidos do século XX é Piet Mondrian, e seu caminho…