Quantas mulheres artistas você tem guardadas na memória?

Costuma-se dizer por aí que os homens são mais adequados para os conhecimentos exatos, matemáticos, tecnológicos, e que as mulheres são “mais sentimentais”. Mas aqui nós dizemos que: nem um, nem outro. Por um lado, todos temos, homens e mulheres, meninos e meninas, capacidade para todo tipo de gosto e pensamento. Por outro lado, no mundo real, é muito falso dizer que as mulheres dominam as áreas humanas e artísticas. Basta olhar a história para percebermos que na verdade os homens dominaram as áreas exatas, humanas, científicas e tudo o mais.
O machismo tem se espalhado por todos os lugares, todas as classes, todos os grupos, e com certeza o percurso era (e é) ainda mais difícil para as mulheres negras, as mulheres lésbicas, as mulheres pobres, que sofrem com ainda outros preconceitos e opressões, somando ainda mais formas de deixá-las silenciosas – queremos dizer, silenciadas. Ainda assim, as mulheres vêm resistindo, mesmo com pouco espaço, mesmo que suas vozes sejam abafadas, ainda que as mandassem “voltar para seus lugares”, para os trabalhos domésticos e os cuidados com os filhos. Elas queriam mais. E nós aqui dizemos que, se estas mulheres assim querem, não devem estar em nenhum outro lugar além do que elas desejavam estar.
Agora, vamos pensar: quantas mulheres artistas você tem guardadas na memória? Nós fizemos esse teste também, e o número ficou muito pequeno, e parece menor ainda quando comparado com o número de homens artistas. Nós queremos ajudar a mudar essa situação, queremos esbanjar nossas artistas por aí, com muito orgulho delas, pois elas merecem, pois elas, à sua forma, lutaram.
Renascimento
Você já ouviu falar em Leonardo da Vinci? E em Sofonisba Anguissola? Pois saiba que alguns quadros de Sofonisba foram confundidos com os de Leonardo da Vinci e outros artistas – todos homens – de seu tempo. Sofonisba foi a primeira mulher das artes plásticas a adquirir fama, sendo reconhecida como uma excelente retratista, porém esquecida com o passar do tempo. Ela viveu durante o período do Renascimento e foi pintora da corte espanhola por cerca de 20 anos. Embora fosse mais incentivada e apoiada em sua arte do que as outras mulheres de seu tempo, sua classe econômica não a permitia vencer os limites impostos por ser uma mulher. Durante o período do Renascimento era inaceitável a uma mulher ver pessoas nuas, inclusive outras mulheres, o que tornou-se uma barreira para a arte de Sofonisba, que, impossibilitada de estudar anatomia, não pôde realizar as complexas pinturas que precisavam de modelo-vivo.
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Obras em Destaque

Impressionismo
Muito tempo depois, o Impressionismo foi o primeiro movimento artístico com integrantes mulheres. Porém, elas ainda não eram bem vistas em espaços públicos e na vida noturna. Os homens daquele período somente aceitavam as mulheres que tinham o objetivo de servir ou entreter. O preconceito era tão grande que um dos pintores mais celebrados do Impressionismo, Renoir, disse uma vez: “a mulher artista é ridícula, mas sou a favor das cantoras e das dançarinas”. Uma artista que lutou contra as imposições deste período foi Camille Claudel, uma talentosa escultora deixadas de lado por vários anos. Um de seus mestres foi o escultor Auguste Rodin, com quem teve um complicado caso de amor. Sua arte não era apreciada pelo grande público, em parte porque diziam que ela copiava Rodin e também pelo preconceito por ser mulher. Ao ser abandonada por Rodin e acusada de imitar seu trabalho, Camille nutriu por ele um ódio que a levou à loucura. Ela foi internada à força em um hospício em 1913, onde permaneceu até o dia de sua morte, em 1943 (sim, 30 anos!). Durante este período, Camille nunca mais esculpiu. Para mencionar outras integrantes, também participaram do movimento impressionista as pintoras Berthe Morisot e Mary Cassatt.
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Modernismo brasileiro
No Brasil, a pintora modernista mais comentada é Tarsila do Amaral – junto com Anita Malfatti, que participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Tarsila iniciou seu gosto pela arte desde cedo e estudou em importantes academias de Paris. O primeiro marido de Tarsila não concordava com sua dedicação à arte – ele acreditava que as mulheres deviam se dedicar ao lar e à família. Essa imposição desagradou a artista, que se mudou para São Paulo, mas só conseguiu a anulação de seu casamento muitos anos depois. Seu quadro Antropofagia, dedicado a seu segundo marido, o escritor Oswald de Andrade, inspirou o movimento antropofágico, importante movimento artístico que “devorava” as tendências europeias para produzir uma arte brasileira de verdade.
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Surrealismo
No México, artista que merece destaque é a pintora Frida Kahlo. Durante toda sua vida Frida sofreu com diversos problemas de saúde, entre eles a poliomielite. Aos 18 anos um acidente de ônibus perfurou suas costas e pélvis, deixando-a à beira da morte. Frida ficou meses de cama recuperando-se das fraturas, período em descobriu mais ainda o poder de suas pinturas. Os pintores colocavam a imagem feminina como um objeto para a observação e o prazer. Frida foi uma das primeiras pintoras que expressou a identidade feminina a partir de sua própria visão como mulher, recusando a visão do ideal feminino pregada pelo mundo masculino e rompendo tabus, principalmente sobre o corpo e a sexualidade feminina. Procurou nas suas obras retratar sua vida, seu próprio sofrimento, suas visões de mundo e de política, em quadros muito pessoais e autobiográficos. Frida morreu em 1954 e tornou-se um símbolo de resistência para diversas mulheres.
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Arte conceitual
A artista japonesa Yoko Ono é “uma das mais famosas artistas desconhecidas do mundo” segundo John Lennon. Isto porque Yoko não é reconhecida por sua arte, mas sim por seu casamento com John e sua suposta “culpa” pela separação dos Beatles. Até hoje existem fãs da banda que a consideram culpada, por influenciar John a seguir novos caminhos, e a odeiam sem dó nem piedade. Yoko nasceu em uma rica família japonesa e desde pequena, por influência de seu pai, estudou piano e canto. Durante os anos 50 ela participou do grupo Fluxus, sendo uma das pioneiras da arte conceitual. Suas obras, tanto musicais quanto plásticas e conceituais, são caracterizadas pela provocação, introspecção e pacifismo. Em uma de suas performances mais marcantes, Cut Piece (1964), o público era convidado a cortar suas roupas. Em uma entrevista, Yoko explicou que “queria mostrar a forma como as mulheres são tratadas e a forma como podem sobreviver a isso permitindo que as pessoas lhes façam aquilo que querem fazer”.
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https://www.youtube.com/watch?v=lYJ3dPwa2tI&feature=youtu.be
(via Capitolina)
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