Andy Warhol, uma estrela da Pop Art

O termo Pop Art consagra duas tendências que se concretizam na mesma época, uma na Grã- Bretanha outra nos Estados Unidos, quase completamente independentes e sem sofrer influências mútuas durante um longo período. O sucesso durável dessa posição se deve a um espírito comum do Pop inglês e americano, bem expresso na irônica definição de Richard Hamilton: “popular, transiet, expendable, low-cost, massproduced, young, witty, sexy, gimmicky,glamourous and Big Business”.
O Pop inglês nasceu no meio dos anos 50, no seio do Independent Group, pequena associação bem fechada, que se reunia de tempos em tempos no Instituto Contemporâneo de Artes (ICA) em Londres. Entre seus membros se destacam Edoardo Paolozzi e Richard Hamilton, os críticos Lawrence Alloway (que inventou o termo em 1958) e Reyner Banham e os arquitetos brutalistas Alison e Peter Smithson. O grupo estuda a cultura popular, a tecnologia, o consumo e a publicidade, organiza em 1956, a exposição “This is Tomorow” na Whitechappel Art Gallery, podendo ser considerado como o ato de nascimento do Pop inglês.
Nos Estados Unidos, no seio dos anos 50, torna-se importante para a nova geração achar uma alternativa num ambiente onde reina o expressionismo abstrato. As teorias de Cage, compositor e professor no Black Mountain College, são determinantes: ele organiza os primeiros happenings, propõe o desvinculamento das disciplinas, a inclusão de elementos estranhos à arte e a colagem (para a música: os ruídos). Robert Rauschenberg e Jasper Johns, próximos a John Cage, aplicam na pintura suas concepções. Em 1954, o primeiro realiza seus Combine Paintings. Jasper Johns, identifica a imagem da bandeira como um marco, pintar quadros abstratos e absolutamente figurativos ao mesmo tempo. Os dois artistas conservam um tratamento muito pictórico da superfície, mas com um jeito especial de considerar as relações entre os objetos e a imagem enterrando os fundamentos da abstração. Rauschenberg procura preencher o abismo entre a arte e a vida, dizia “poucos eventos da minha vida cotidiana tiveram relação com a terebentina, o óleo e os pigmentos”.
Duas exposições marcantes representaram o debut do Pop novaiorquino, a individual de Claes Oldenburg (1961) e a mostra de Jim Dine (1962). Na sequência, dez meses mais tarde, a exposição dos Novos Realistas (News Realists) na Galeria Sidnei Janis, apresentavam obras de Claes Oldenburg, James Rosenquist, Andy Warhol, Tom Wesselmann, reforçando a posição do retorno da figura após o domínio da abstração.
A Pop Art busca substituir o lirismo do gesto para mergulhar no “american way of life”. Esses artistas impregnados por técnicas publicitárias estruturavam suas obras nas imagens onde os objetos produzidos visavam a cultura de massa. O impacto visual da Pop Art americana é a dos painéis publicitários, da história em quadrinhos, das revistas, da televisão entre tantos apelos visuais. Os artistas da Pop não fabricavam imagens populares, faziam um comentário artístico sofisticado sobre as causas e os efeitos da cultura de massa. A Pop Art é o primeiro movimento que assume claramente a relação da arte e do comércio, o consumo em essência.
Obras em Destaque
Retrospectiva de Andy Warhol
O Museu de Arte Brasileira da FAAP apresenta uma grande retrospectiva de Andy Warhol (1928-1987), reunindo mais de 600 obras provenientes do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh (EUA), a maior mostra do star mediático, fora dos Estados Unidos.

Sua imagem tornou-se tão célebre quanto os famosos que ele retratou, encarna a Nova Iorque dos anos 60 e 80. Em 1960 realiza seus primeiros trabalhos provenientes dos desenhos animados e da série de garrafas da Coca Cola. Tinha grande admiração por Jasper Johns por suas imagens emblemáticas como por Marcel Duchamp pela ideia do ready made, torna-se uma das vedetes da Pop Art.

Em 1963, cria a Factory, um lugar onde germinava a cultura underground e onde rodava seus primeiros filmes produzindo o Grupo Velvet Underground. Formado em técnicas de publicidade, Warhol criou imagens com materiais da cultura de massa, integrando as formas de produção da publicidade e do marketing. Sua obra realça as transformações das relações entre a arte e a sociedade, se estrutura no poder da imagem. O choque visual e conceitual das imagens reduzidas ao essencial, a repetição da Cadeira Elétrica, da Marylins e da Liz aumenta o caráter fascinante de sua incursão pela memória coletiva. O emprego das cores, que maquia, confirma a irrealidade dos seres e das coisas. Warhol dizia: “Tudo é bonito”, mesmo a morte, mesmo o horror, ele possuía um raro talento, “uma mão demoníaca”, conforme Rauschenberg, por tornar tudo sedutor.

O personagem e sua arte se fundem numa certa ambiguidade, observar passivamente a vida vista como um programa de televisão, Warhol produziu uma obra frívola e cruel registrando tudo como uma máquina.
Em 1994 foi inaugurado em Pittsburgh, o Museu Andy Warhol criado pela Andy Warhol Foundation for the Visual Arts com financiamento do Carnegie Institute. Instalado num espaço industrial do começo do século, foi restaurado e ampliado pelo arquiteto R. Gluckman, conta com um acervo de três mil obras dispostas em sete andares traçando o percurso de Warhol em seus diferentes aspectos: autorretratos, retratos, série de Elvis ou de Mao, Silver Clouds inflados por hélio, desenhos publicitários, fotografias, artigos de imprensa e lembranças de todos os tipos. Uma cinemateca projeta filmes e o terceiro andar é ocupado por um Centro de Estudos dos Arquivos, onde se encontra a coleção completa de Interview, seiscentos e oito Cápsulas do Tempo (cartões onde Warhol escolhia periodicamente os objetos e fitas magnéticas sobre sua vida cotidiana, o artista conservava tudo.


A mostra na FAAP permite ao visitante vislumbrar a diversidade da produção de Warhol, imagens de Elvis Presley, Marylin Monroe, Jackie Kennedy ao lado de símbolos banais do consumismo como as Campbell’s soup cans (latas de sopa Campbell) e as Brillo Boxes (Caixas Brillo). A retrospectiva não segue uma ordem cronológica, a criatividade de Warhol é ampla, cada obra representa uma postura inovadora, dos pormenores à grandiosidade de certas obras introduz o espectador à uma dimensão revigorante, ícones que permeiam a vivência na moda, na música, no cinema, praticamente em todas as manifestações culturais, reflete uma Nova York alucinante e revolucionária. A multiplicação de uma mesma imagem em base fotográfica marcou o seu percurso de forma pungente, um dos verdadeiros ícones da contracultura.


Uma das raridades expostas é a releitura do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo Da Vinci, realizada um ano antes de sua morte, Warhol consegue desmistificar a obra do grande mestre renascentista, misturando a imagem de Cristo com elementos iconográficos do mundo gay, um comentário oportuno sobre a epidemia da Aids que assolava os Estados Unidos e o mundo. Uma obra que deixou as paredes do Warhol Museum apenas uma vez e chega de forma inédita ao Brasil.
Outro detalhe curioso é o papel de parede em amarelo estampado com vacas roxas, posicionado logo na entrada da sala expositiva. A obra é um papel de parede, o mesmo que ocupa a entrada do MoMA, em Nova York. Impresso em um material que já não se usa mais, numa fábrica que ninguém sabe. Inúmeras outras obras chamarão a atenção do visitante como a exibição de 42 filmes, entre eles Chelsea Girl sobre o cotidiano na Factory, passando por uma infinidade de imagens que marcaram os anos 60, 70 e 80.
O Totex, a empresa que repete a vitoriosa parceria com o MAB FAAP, como no caso da mostra Desafio Salvador Dalí, em 2024, confirma o seu intuito de sediar grandes exposições internacionais com a atual Andy Warhol Pop Art!, um dos grandes destaques do ano.