Chamada de Diana pelos romanos, a deusa é irmã gêmea de Apolo e filha de Zeus e Leto. Primeira a nascer, Ártemis presenciou o nascimento do irmão, horas depois.
Testemunha da solidão e das dores da mãe, a pequena Ártemis desenvolve, dentro de si, grande aversão pela união entre homens e mulheres, desejando nunca ser tocada, nem mesmo desejada. Menina ainda, no encontro com o pai, entre os pedidos encontram-se: a virgindade eterna, a multiplicidade de nomes, um vestido de caçadora, um cortejo de ninfas, montanhas e florestas e, uma cidade.
Na fértil região de Delfos1, morada do amado irmão, Musas, Cárites e Ninfas2 lançam uma melodia e entoam um canto à deusa Ártemis para todos que se interessam por arcos e caçadas, assim como para quem aprecia brincar nas montanhas e florestas.
Começando no momento em que, sentada nos joelhos do pai,
A filha, ainda uma menina, disse isto a seu genitor:
Dá-me, papai, conservar a virgindade eterna,
e múltiplos nomes, de modo que Febo não me seja um rival,
dá-me setas e arcos – deixa, meu pai, não te peço
aljava nem grande arco, para mim, logo os Ciclopes3
forjarão flechas e, para mim, uma bem curvada arma;
mas que eu porte a luz e um quíton de borda colorida,
na altura dos joelhos, para eu matar os animais selvagens.
(HINOS DE CALÍMACO4: A Ártemis, 4-12, 2012, p. 237-239)
Deusa intocada, caçadora e arqueira. Cercada por ninfas, munida de arco e flecha, ela corre pelos bosques, enviando a morte súbita aos animais selvagens.
Na Grécia Antiga, os escultores a mostram como orgulhosa caçadora. Cães e gazelas a acompanham.
A escultura, Ártemis, deusa da caça, presente do Papa Paulo IV5 para o rei francês Henrique II6, foi baseada, provavelmente, em um bronze grego do século IV a.C. atribuído ao escultor Leocares7. No período helenístico, os escultores desenvolveram novas técnicas derivadas da escultura clássica, como o aperfeiçoamento da anatomia, movimento, expressão e temas com abordagens específicas. A estátua de dois metros, que estava na Grande Galeria do Palácio de Versailles no tempo de Luís XIV8, foi levada para o Musée du Louvre no século XVIII. Uma das primeiras estátuas antigas que chegaram a França, copiada inúmeras vezes em gravuras e esculturas, representa o mito em toda formosura, altivez e valentia.
Cantam as musas à Ártemis, amiga fiel e protetora, àquela que é difícil esquecer, a arqueira que depois de elevar seu espírito e alegrar-se, afrouxa seu arco flexível e vai para a grande morada do irmão amado. (HINOS HOMÉRICOS9 27, 11-13, 2010, p. 200)
Aos que, porém, sorridente e também graciosa lançastes tua luz,
favorável, o campo deles produz a espiga de milho, favorável, a raça dos quadrúpedes e, favorável, a casa prospera, nem de algum túmulo aproximam-se, exceto quando levam o que foi longevo;
nem sua estirpe é ferida pela discórdia que, inclusive,
assola as casas bem assentadas; as esposas dos irmãos e
as irmãs do marido dispõem assentos em torno das oblações unas.
(HINOS DE CALÍMACO: A Ártemis, 129-135, 2012, p. 245-247)
Apoiados nos textos mitológicos os artistas representam a jovem Ártemis alta e bela, senhora de si, com os cabelos presos ornados com uma tiara em forma de crescente. A cinta de couro que atravessa o peito segura a aljava com flechas de prata nas costas da arqueira.
Estudante ainda, interessado nas artes visuais, Jean-Antoine HOUDON (1741-1828) participou e ganhou o Prix de Roma10 em 1761. Na Itália, o artista neoclássico se dedicou aos estudos anatômicos, destacando-se em retratar figuras conhecidas do período, principalmente os líderes iluministas franceses e políticos dos Estados Unidos. Famoso, trabalhou na Alemanha e na corte de Catarina II11, da Rússia.
Em 1771, Houdon foi eleito para a Academia Real de Pintura e Escultura12, trabalhando como professor na corte de Luís XVI13, após 1774. Durante a Revolução Francesa (1789-1799) escapou de ser preso, voltando a ativa durante o Império de Napoleão (1804-1814 e 1815).
COMMELIN, P. M. Mitologia grega e romana. Tradução Eduardo Brandão. 4. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. 440 p.
HINOS DE CALÍMACO. In: WERNER, Erika. Os hinos de Calímaco: poesia e poética. São Paulo: Humanitas, 2012. 464 p. p. 223-268.
HINOS HOMÉRICOS. Tradução Edvanda Bonavina da Rosa; Fernando Brandão dos Santos; Flávia Regina Marquetti et al. São Paulo: UNESP, 2010. 575 p.
NATIONAL GALLERY OF ART, Washington D.C., EUA. Disponível em: https://www.nga.gov/collection/art-object-page.43672.html Acesso em: 29 jul. 2019.
MARTINI, F. R. Sans. Virgem Ártemis: protetora e implacável. Revista Interdisciplinar. Art&Sensorium, Curitiba, v.5, n.2, p. 073 – 092 Jul. – Dez. 2018. Disponível em: http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/view/2340/1673 Acesso em 29 jul. 2019.
MUSÉE DU LOUVRE, Paris, França. Ártemis, deusa da caça, conhecida como Diana de Versailles. Asa Sully, Sala 348. Imagem Autorizada em 26 ago. 2018. Disponível em: http://cartelfr.louvre.fr/cartelfr/visite?srv=car_not_frame&idNotice=911&langue=frAcesso em: 03 jul. 2019.
THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART, Nova York, EUA. Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/196749 Acesso em: 28 jul. 2019.
1 Nas encostas do monte Parnasso, próximo ao Golfo de Corinto, ali ficava o santuário dedicado a Apolo, onde o deus proferia seus oráculos por meio da sacerdotisa e Pitonisa.
2 Jovens e belas, divindades da natureza, viviam nos campos, bosques, lagos e fontes. Companheiras das deusas, habitavam as grutas.
3 Gigantes imortais com um só olho no centro da testa, ajudavam como ferreiros junto à forja de Hefesto, chamado de Vulcano pelos romanos.
4 De maneira preciosa e erudita, Calímaco (ca. IV-III a.C.) apresentou, entre outras obras, as histórias dos deuses no gênero poético, formalizado na Grécia Arcaica, conhecido como Hino.
5 Giovanni Pietro Carafa (1476-1559) foi ordenado papa em 1555, como Paulo IV.
6 Rei da França de 1547 a 1559, Henrique II (1519-1559) era filho de Francisco I, um grande mecenas, responsável pela difusão da Arte renascentista na França.
7 Escultor grego, Leocares foi ativo em Atenas em meados do século IV a.C. onde executou várias esculturas, trabalhando também na decoração de templos do período.
8 Rei da França, chamado de Rei-sol, Luís XIV (1638-1715) transformou a França, no seu reinado (1643-1715), na nação mais poderosa da Europa nos fins do século XVII.
9 Os Hinos Homéricos, constituídos por trinta e três poemas anônimos dedicados às divindades foram declamados pelos rapsodos nos festivais públicos promovidos pelas cidades-estados da Grécia Antiga.
10 Fundada por Jean-Baptiste Colbert em 1666, a Academia Francesa em Roma, recebia os ganhadores de bolsa de estudos com origem na competição artística do Prix de Roma, patrocinada pelo governo francês, criada no reinado de Luís XIV e encerrada somente em meados do século XX.
11 Conhecida como Catarina, a Grande (1729-1796) em seu reinado (1762-1796) a Rússia foi revitalizada e tornou-se uma das maiores potências da Europa, no período.
12 A Academia Real de Pintura e Escultura (Académie Royale de Peinture et de Sculpture) foi fundada em Paris em 1648 por Luís XIV ainda muito jovem, e foi dirigida pelo pintor oficial da corte, Charles LE BRUN (1619-1690). Fazia parte do currículo a instrução prática e teórica, baseado num sistema de regras e no racionalismo. As normas eram extremamente rígidas e os temas, por ordem de valor, em tabela própria, partiam da história greco-romana e terminavam na natureza morta.
13 Rei da França, Luís XVI (1754-1793), neto de Luís XV, foi coroado em 1774 e deposto em 1792 e executado durante a Revolução Francesa.
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