A maioria dos temas trabalhados na pintura e escultura barroca é semelhante aos aplicados na Arte renascentista. No entanto, a interpretação dos temas recebe tratamento diferenciado nos dois estilos.
No Renascimento a busca é pelo equilíbrio, a harmonia, a austeridade e o idealismo clássico, enquanto no Barroco se busca a exuberância, o dinamismo, a verdade dramática, temas muito próximos do período helenístico greco-romano.
De acordo com Gombrich (2000) alguns conceitos desenvolvidos na pintura maneirista de TINTORETTO (1518-1594) e de EL GRECO (1541-1614) tomaram importância cada vez maior durante o século XVII, como o jogo de sombra e luz, a desvantagem do desenho em relação à aplicação da cor e as composições mais complexas e dramáticas.
O Barroco vai além no anseio do ilimitado e do dinamismo: destrói os limites e contornos, emprega formas abertas e fechadas2, aplica farta e brilhante luz em contraste com as sombras opacas, reduz os motivos de fundo e destaca grandes figuras no primeiro plano.
O estilo que marca o século XVII, de acordo com Hauser (2003), ultrapassa diversos países e culturas, no entanto, esse modelo universal abraça distintas ramificações e formas. Ressalta-se, inclusive, que o Barroco que se produz próximo às cortes e aos círculos católicos é diferente do elaborado junto à classe média e às comunidades protestantes.
Entre os artistas italianos que se destacaram junto a Arte Barroca encontram-se: Annibale CARRACCI (1560-1609), Michelangelo Merisi da CARAVAGGIO (1571-1610); Guido RENI (1575-1642), Domenico Zampieri conhecido por DOMENICHINO (1581-1641), Bartolomeo MANFREDI (1582-1622), Giovanni Francesco Barbieri, chamado de GUERCINO (1591-1666), Orazio Lomi GENTILESCHI (1563-1639), ARTEMÍSIA Gentileschi3 (1593-ca.1653/4) e Pietro Berrettini da CORTONA (1596 -1669)
Michelangelo Caravaggio, de uma pequena região próxima à Milão, conquistou fama, principalmente entre os anos de 1599 a 1610 com a produção de grandes telas, cujas composições naturalistas receberam traços vibrantes e dramático claro-escuro, na ânsia de alcançar a verdade acima da beleza ideal.
No entanto, apesar de a sua obra ser aclamada por artistas e amadores, de acordo com Janson (1992) as pessoas simples não gostaram de se ver representadas, preferindo, por vezes, arranjos e imagens mais idealizadas. Ao encontro dos conservadores vieram artistas menos radicais, os quais tomaram por modelo outro dos novos pintores: Annibale Carracci.
Annibale e seu irmão Agostino, estão entre os primeiros pintores do século XVII a combater a exagerada tendência Maneirista em voga, visando um classicismo deliberado, um novo realismo inspirado em grande parte na escultura greco-romana agregada aos ideais do corpo humano.
De acordo com Janson (1992) Annibale Carracci foi um reformador mais que um revolucionário. Ele optou por regressar à natureza, mas de forma tolerante, unindo os estudos do vivo com a arte da Antiguidade e dos grandes artistas: RAFAEL, MICHELANGELO, TICIANO e CORREGIO.
Inovadores, Annibale e Agostino, e por vezes, o primo Lodovico6, são responsáveis por introduzir reformas artísticas na Itália com base na observação do mundo natural.
Os irmãos Carracci e os demais artistas que chegaram em Roma, centro da produção artística no século XVII, produziram obras com conteúdo religioso, reinterpretaram os assuntos e ampliaram os temas com antigos e novos santos à serviço da igreja cristã. Contudo, esses mesmos artistas profundamente religiosos na maioria, voltaram-se também para os temas pagãos e mitológicos ao receberam encomendas de obras junto às villas e palácios. Um dos principais exemplos é o Palazzo Farnese7, concluído em 1589.
De acordo com Janson (1992) os tetos e paredes do Palazzo Farnese apontam aos artistas dois caminhos: o estilo rafaelesco dos painéis mitológicos desenvolvidos dentro de um classicismo deliberado ou o avanço do ilusionismo sensorial incontestável nos enquadramentos dos tetos e painéis palacianos, em que as composições se apresentam em contínuo movimento dos, e entre, os personagens, que dançam alegremente sobre um fundo que parece ser infinito, ajudado pela pintura em trompe l’oeil8, o emprego de estuque9 e a própria estrutura arquitetônica que se desenvolve nesse sentido, com toda força, na arte Barroca do século XVII.
Em busca da beleza clássica, inspirado em RAFAEL, Guido Reni segue o primeiro caminho, enquanto Guercino e Pietro da Cortona, por exemplo, seguem para a segunda opção, combinando o ilusionismo pictórico e incontáveis grupos de figuras espalhadas entre intensa luz, cores e tonalidades que se propagam no espaço infinito dos tetos barrocos.
No desenho de Cortona, o ilusionismo sensorial. Um contínuo movimento dos personagens sobre um fundo infinito.
ART INSTITUTE CHICAGO, Chicago, EUA. Disponível em: https://www.artic.edu/artworks/24361/the-holy-trinity-with-saint-michael-conquering-the-dragon Acesso em: 29 set. 2019.
ART INSTITUTE CHICAGO, Chicago, EUA. Disponível em: https://www.artic.edu/artworks/21291/susanna-and-the-elders Acesso em: 16 set. 2019.
BASILICA PARROCCHIALE SANTA MARIA DEL POPOLO, Roma, Itália. Disponível em: http://www.santamariadelpopolo.it Acesso em: 20 set. 2019
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 2000. 714 p.
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. Tradução Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 1032 p.
JANSON H. W. História da Arte. Tradução J.A. Ferreira de Almeida; Maria Manuela Rocheta Santos. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 823 p.
THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART,Nova York, EUA. Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/435852 Acesso em: 21 set. 2019.
1 Em Roma, na Piazza del Popolo, ao lado da Porta del Popolo (Antiga porta Flamínia) umportão da antiga Muralha Aureliana, fica a Basilica Parrocchiale Santa Maria del Popolo cuja fachada renascentista foi alterada para o estilo Barroco, em mármore travertino, por Gian Lorenzo BERNINI (1598-1680) no século XVII. O interior apresenta obras de grandes artistas, entre eles: Pieter van LINDT (1609-1690), Bernardino di Betti, conhecido por PINTURICCHIO (1454-1513), Carlo MARATTA (1625-1713) Annibale CARRACCI (1560-1609), CARAVAGGIO (1571-1610) e Bernini.
2 Na forma fechada os elementos se enquadram dentro da moldura e o assunto principal se encontra próximo ao centro. Na forma aberta, as linhas, as cores e a disposição dos objetos e das figuras se deslocam em contínuo movimento, ultrapassando as bordas da moldura.
3 Uma das poucas pintoras conhecidas e bem-sucedidas, filha de Orazio Lomi GENTILESCHI (1563-1639) ARTEMISIA Gentileschi (1593-1656) atuou na Arte barroca italiana, no século XVII.
4 Saiba mais sobre a história de Susana em Artigos Acadêmicos: Maneirismo na Itália, postado na ArteRef em 13 set. 2019. Disponível em: https://arteref.com/artigos-academicos/maneirismo-na-italia/ Acesso em 20 set. 2019.
5 Entre 1802 e 1821, Johann Adam Bernhard von Bartsch (1757-1821) publicou, em francês, vinte e um volumes com o título: Le Peintre Graveur. A obra de Bartsch foi reimpressa diversas vezes. Parte das gravuras foram republicadas no século XX, como parte do livro ilustrado, The Illustrated Bartsch, lançado em New York, pela Abaris Books, em 1978. Bartsch é responsável por desenvolver o sistema de numeração definitiva, com seu próprio nome seguido de um número.
6 Os Carracci muitas vezes, pintaram juntos a mesma obra ou um finalizou a obra do outro, tornando difícil reconhecer em algumas pinturas a autoria, por isso, alguns museus creditam aos irmãos algumas obras.
7 Concluído em 1589, o Palazzo Farnese, em Roma, abrigou importantes esculturas clássicas do período romano e cópias gregas. A decoração dos tetos é considerada a primeira versão barroca de influência de grandes pintores renascentistas, como: MICHELANGELO (1475-1564), RAFAEL Sanzio (1483-1520); CORREGGIO (1489-1534); DEL SARTO (1486-1530) e TICIANO(c.1488/90-1576). Uma das salas apresenta grandiosa pintura em afresco no teto com tema mitológico: Os Amores dos deuses, executado entre 1597 e 1608 pelos irmãos italianos: Annibale CARRACCI (1560-1609) e Agostino CARRACCI (1557-1602) e sua equipe.
8 Expresão francesa para enganar os olhos, a técnica artística chamada de Trompe l’oeil transforma a imagem em três dimensões, ocasionando um ilusionismo espacial. A expressão é usada tanto na pintura como na Arquitetura.
9 Mistura de gesso e pó de mármore, o estuque é empregado no revestimento de paredes, relevos e na decoração arquitetural, por exemplo, de cornijas e molduras.
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