Ana Vitória Mussi
Brasil, 1943Nenhuma obra deste artista no momento.
Ana Vitória Mussi faz parte de uma geração de artistas que, na década de 1970, incorporou novas linguagens à arte contemporânea, ampliando os temas e suportes da produção brasileira. Natural de Laguna (SC), iniciou sua carreira no Rio de Janeiro, em plena ditadura militar. Nesse contexto, subverteu os usos tradicionais da fotografia e criou uma obra potente, que questiona tanto a situação política da época, quanto o estatuto da imagem na cultura de massas – tema ainda bastante recorrente em sua produção.
Sua primeira exposição individual em uma galeria paulistana traz um panorama bastante abrangente de sua extensa produção. Pioneira ao investigar a fotografia como um campo ampliado, a artista a enxerga para além do registro documental. Equilibra-se sobre a tênue linha que separa arte e fotografia. Não raro, suas composições partem de imagens subtraídas dos mais diferentes meios. “Ana Vitória constrói uma poética da imagem e estabelece uma ruptura perceptiva, propondo uma mudança sensível e imperecedoura da nossa relação com o imagético”, afirma Montejo Navas.
Já em seus primeiros trabalhos, a catarinense realizou uma sucessão de intervenções nos jornais cariocas. Essa fase é representada na exposição por Trajetória do osso – A Rebelião (1968), colagem na qual Ana Vitória desenha sobre fotos de protestos, inserindo nelas ossadas gigantes. A montagem cria a ilusão de que os ossos estão sendo carregados por uma multidão – clara referência ao momento político vivido pelo Brasil às vésperas do AI 5, quando as rebeliões eram asfixiadas. “As mídias passavam por um controle e uma censura absolutos do que podia ser mostrado, incluindo a própria violência que ocorria nos porões de um Estado totalitário”, conta a artista.
Na série Barreiras, Ana Vitória também se baseia em periódicos, intervindo com guache em imagens de atletas de modalidades diversas. Parte integrante do conjunto, o trabalho Boxeador (1972) traz o corpo retorcido de um pugilista. Para reconhecer que se trata de uma figura humana, o observador precisa olhar com bastante atenção, movimento constante no reconhecimento de suas obras.
Concebida em 2017, a série inédita Sobremar apresenta um apanhado de fotos do Museu de Arte do Rio (MAR), complexo formado por dois prédios interligados: o Palacete Dom João VI, de estilo eclético do começo do século XX, e o edifício vizinho, fruto de um projeto modernista. Nessas obras, a artista subtrai parte das imagens e insere sobre elas planos e áreas pretas. A série, como grande parte de seu trabalho, dialoga com o movimento neoconcreto, brincando com os conceitos de construção e representação.
Na obra À tua imagem (1978-2004), por exemplo, um rebobinador expele inúmeros negativos de políticos e celebridades, retratados ao longo de seu ofício nos jornais cariocas. De forma irônica, a artista enfatiza a passagem do tempo, que tornou o material obsoleto. Realizadas de modo a eternizar personalidades ilustres, as imagens aqui aparecem como sinal da finitude: não revelados, seus protagonistas desaparecem, amalgamados pela monótona semelhança entre os negativos.
Cronologia
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