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Ayrson Heráclito: entrelaçando arte, história e cultura afro-brasileira

Por Thais de Albuquerque - abril 16, 2024
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Ayrson Heráclito nos convida, por meio de sua arte, a explorar a riqueza e a complexidade da diáspora afro-brasileira. Por meio de suas obras vibrantes e provocativas, ele conecta história, cultura e política, oferecendo uma perspectiva única que transcende o convencional. Transitando em diferentes linguagens das artes visuais, como pintura, desenho, escultura, fotografia, audiovisual, instalação e performance, Heráclito é, hoje, um influente artista visual e curador brasileiro.

Nascido em 1968 em Macaúbas – BA, Ayrson Heráclito vive e trabalha entre Cachoeira e Salvador. Atualmente é doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo e professor no curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Narrativa e materiais orgânicos

Partindo do contexto histórico da colonização e da escravização de povos africanos no Brasil, expropriados da sua humanidade, para serem usados como mão de obra no cultivo e no refino da cana-de-açúcar, o artista começou a conceber o conceito de corpo afro-diaspórico. Um corpo arrancado à força de seu Continente, atravessando o “Atlântico Negro” e inserido em um projeto de país construído pelas ações de desumanidade e violência, que nos deixaram de legado uma extremada desigualdade social e uma profunda pobreza.

Ayrson utiliza materiais orgânicos, como açúcar, carne de charque, pipoca e azeite de dendê para explorar a história e as experiências do corpo afro-diaspórico.

Ayrson Heráclito
Segredos Internos na exposição – Saccharum-BA. Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. 2009

Sobre a força e a resistência a que este corpo afro-diaspórico era submetido, surge uma série de trabalhos com a utilização da carne de charque, concebida como metáfora da luta e da resiliência. A carne de charque se apresenta como a materialização deste corpo e informa uma produção de trabalhos de quase duas décadas.

Ayrson Heráclito
“Transmutação da Carne” – Acessórios de carne. Desfile no Barra Fashion em Salcador – BA. 2000. Foto: Edgard Oliva.

Este corpo afro-diaspórico tem como fluido vital o azeite de dendê. O dendê é o sangue ancestral, que oxigena e dá vida a este corpo, é a saliva que lubrifica a oralidade que faz este corpo falar e, é o sêmen dourado da divindade Exu, que procria e fertiliza.

Ayrson Heráclito
Yaô (Série “Banhistas”), 2007. Fotografia impressa com pigmentos minerais sobre Canson Rag Photographique 310g/m2, montada sobre alumínio

Além de sua carreira artística, Ayrson atua como Ogã Sojatin de um Humpame de Jeje Mahi, um templo que cultua os Voduns do candomblé Jeje Mahi no subúrbio de Salvador. A espiritualidade desempenha um papel central em sua arte, fundindo crenças religiosas com práticas artísticas para criar obras que falam de fé, história e resistência.

Ayrson Heráclito
Juntó – Xaxará com Abebé, 2022.

Carreira e trajetória

O artista é representado pelas galerias brasileiras Paulo Darzé e Portas Vilaseca. Foi indicado ao Prêmio PIPA nos anos de 2012, 2015 e 2016, reconhecendo sua contribuição significativa à arte contemporânea.

Seus trabalhos já foram expostos na Bienal de Veneza, Itália (57ª edição, em 2017); no Fowler Museum, em Los Angeles, EUA; (2017), no European Centre for Contemporary Art, na Bélgica (2012); no Malba, Argentina (2010), na Kunst Film Biennial, Alemanha; na II Trienal de Luanda, em Angola; na 2a. Changjiang International Photography and Video Biennial, na China; no Weltkulturen Museum, Alemanha; em duas Bienais do Mercosul, a III e X, ambas no Brasil.

Ayrson Heráclito
“O sacudimento da Casa da Torre e o da Maison des Esclaves em Gorée”, 2015, videoinstalação.

Também no Brasil, os trabalhos de Heráclito já foram apresentados em representativos espaços de exibição como o Museu de Arte do Rio (MAR/RJ), A Associação Cultural Videobrasil (SP), Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), Museu de Arte Contemporânea (MAC, RJ), Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ), Museu de Arte Moderna da Bahia (BA), SESC Pompeia (SP), Museu da Cidade (OCA, SP) e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB, BSB).

A exposição “Ayrson Heráclito: Yorùbáiano”, que aconteceu no MAR (Museu de Arte do Rio), em 2021 e na Pinacoteca de São Paulo em 2022, esteve entre as mais comentadas desses anos.

Instalação da série Bori (Oferenda à Cabeça), 2008-22. Pinacoteca de São Paulo. São Paulo, Brasil. Foto: Levi Fanan/Pinacoteca de São Paulo
Instalação da série Bori (Oferenda à Cabeça), 2008-22. Pinacoteca de São Paulo. São Paulo, Brasil. Foto: Levi Fanan/Pinacoteca de São Paulo

Além disso, algumas de suas obras integram as coleções de museus e instituições como a Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Brasil), O Instituto Inhotim (Brumadinho, Minas Gerais), o Museum der Weltkulturen (Frankfurt, Alemanha), o Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, Brasil) a Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil), 0 Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo, Brasil), a Raw Material Company (Dakar, Senegal) e o Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador, Brasil).

Contribuições Acadêmicas e Curatoriais

Como professor e pesquisador, Heráclito tem influenciado gerações de artistas e teóricos, contribuindo significativamente para o discurso acadêmico na arte contemporânea. Seu trabalho como curador amplia o entendimento sobre a arte contemporânea, especialmente em relação às narrativas afro-brasileiras e diaspóricas.

Ayrson Heráclito:

Ayrson Heráclito é um artista que desafia categorizações simples. Suas obras são poderosas explorações do corpo, da cultura e da história afro-brasileira. Ele não apenas cria arte; ele fomenta diálogo e provoca reflexão sobre temas cruciais para a compreensão de nossa sociedade.

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