O Expressionismo alemão é um movimento cultural difícil de definir. Ele não se distingue por um estilo singular ou método de criação, mas é melhor descrito tanto pela mentalidade do artista que cria o trabalho quanto pela geração em que ele viveu. Esta matéria vai se dedicar especialmente ao cinema deste momento, mas antes é importante entender um pouco sobre o contexto histórico em que ele se desenvolveu.
Os expressionistas alemães eram artistas, escritores e pensadores da Alemanha de antes da Segunda Guerra Mundial e viveram durante o reinado de Guilherme II. O Expressionismo alemão é resultado da reação da geração mais jovem contra a cultura burguesa da Alemanha durante este período.
Apesar de geralmente ser considerado um movimento pré-Segunda Guerra Mundial, ele voltou à moda em alguns círculos após o fim dela. O movimento era mais do que um gênero cinematográfico, era uma mentalidade que tinha aspectos sociais, culturais e políticos. O Expressionismo alemão pode ser entendido como um meio de abordar a vida e, em especial, mudar a realidade. Vários expressionistas compartilhavam da crença de que a literatura era capaz de efetuar mudanças profundas na sociedade.
Muito cultuado nos meios artísticos até hoje, o cinema alemão desse período se caracterizava por seu baixo custo, já que a Alemanha havia perdido a primeira guerra e passava por uma crise financeira que abalou moralmente seu povo com aumentos na criminalidade, alcoolismo e prostituição. Além disso foi marcado por maquiagens e cenários distorcidos que retratavam criticamente a sociedade. Os filmes mais famosos deste estilo são Nosferatu, Metrópolis, O Gabinete do Doutor Caligari e M. o Vampiro de Dusseldorf.
Elementos fortes do monumentalismo e do modernismo aparecem em todo o cânone do Expressionismo alemão. Um excelente exemplo disso é Metrópolis, como evidenciado pela enorme usina de energia e vislumbres da cidade superior maciça, mas intocada. Sua história se trata de um homem poderoso que usa a tecnologia industrial para criar uma mulher androide que fosse parecida com sua falecida esposa.
Os pintores expressionistas alemães rejeitavam a representação naturalista da realidade objetiva, muitas vezes retratando figuras distorcidas, construções e paisagens de uma maneira desorientadora que desconsiderava as convenções de perspectiva e proporção. Essa abordagem, combinada com formas estilizadas irregulares e cores duras e antinaturais, era usada para transmitir emoções subjetivas.
Vários artistas e artesãos que trabalhavam no teatro de Berlim trouxeram o estilo visual expressionista ao design de cenários. Isto, por sua vez, teve uma eventual influência em filmes que lidam com fantasia e terror.
Este movimento cinematográfico foi paralelo à pintura expressionista e ao teatro ao rejeitar o realismo. Os criadores do Período de Weimar procuraram transmitir a experiência interior e subjetiva através de meios externos e objetivos. Seus filmes foram caracterizados por conjuntos e atuação altamente estilizados, eles usaram um novo estilo visual que incorporava alto contraste e edição simples.
Os filmes foram filmados em estúdios onde eles podiam empregar iluminação e ângulos de câmera deliberadamente exagerados e dramáticos para enfatizar algum efeito particular como o medo, o horror, e a dor. Aspectos das técnicas expressionistas foram posteriormente adaptados por diretores como Alfred Hitchcock e Orson Welles e incorporados em muitos filmes de terror e gângsteres americanos.
Os filmes expressionistas alemães produzidos na República de Weimar, imediatamente após a Primeira Guerra Mundial, não apenas abarcam os contextos sociopolíticos em que foram criados, mas também trabalham os problemas intrinsecamente modernos de auto-reflexividade, espetáculo e identidade.
O principal exemplo é o filme onírico de Robert Wiene, O Gabinete do Dr. Caligari (1920), que é universalmente reconhecido como um dos primeiros clássicos do cinema expressionista. Hermann Warm, o diretor de arte do filme, trabalhou com os pintores e cenógrafos Walter Reimann e Walter Röhrig para criar cenários fantásticos e apavorantes com estruturas retorcidas e paisagens com formas pontiagudas e linhas oblíquas e curvas. Alguns desses projetos foram construções, outros foram pintados diretamente em telas.
Basicamente o filme retrata a história de um hipnotizador que usava sua técnica para manipular pessoas a fim de cometessem crimes em seu lugar. Trás uma carga emocional trágica e perturbadora que até hoje assusta espectadores pelo mundo.
O filme representa um acontecimento que agita a localidade de Dusseldorf quando um pedófilo começa a sequestrar e matar crianças sem nunca ser capturado. O criminoso confessa seus atos de forma a aliviar a culpa em cartas anônimas aos jornais em que implora para que seja preso pois era incapaz de controlar sua doença.
Muitos críticos vêem uma ligação direta entre o cinema e a arquitetura da época, afirmando que os cenários e obras de arte dos filmes expressionistas frequentemente revelam prédios de ângulos agudos, grandes alturas e ambientes lotados, como a frequentemente vista da Torre de Babel em Metrópolis do diretor Fritz Lang.
Seguindo as estimadas críticas de Siegfried Kracauer e Lotte Eisner, esses filmes são agora vistos como um tipo de consciência coletiva, tão inerentemente ligados a eles em seu meio social. Brevemente mencionado por JP Telotte em sua análise do cinema alemão “Expressionismo Alemão: Um Problema Cinematográfico / Cultural”, o Expressionismo concentra-se no “poder dos espetáculos” e oferece ao público “uma espécie de imagem desconectada de sua própria situação”.
Alguns dos principais cineastas dessa época foram F. W. Murnau, Erich Pommer e Fritz Lang. O movimento terminou depois que a moeda se estabilizou, tornando mais barato a compra de filmes no exterior.
A UFA GmbH (uma companhia alemã de cinema e televisão) entrou em colapso financeiro e os estúdios alemães começaram a negociar com estúdios italianos que aproveitaram a sua influência no estilo de terror e filmes noir. O poderio americano na indústria cinematográfica também levaria alguns cineastas a continuar sua carreira nos EUA. O último filme da UFA foi O Anjo Azul (1930), considerado uma obra-prima do Expressionismo alemão. Ele retratava um professor atrapalhado que descobre que seus alunos estão frequentando um bordel. Porém ao sondar o local acaba se apaixonando por uma prostituta.
Ele está ligado a uma série de outros movimentos contemporâneos cujos objetivos foram derrubar a sociedade tradicional. Todos esses movimentos compartilhavam do desejo de provocar mudanças na sociedade, freqüentemente com foco na superação da classe burguesa e no fortalecimento do indivíduo.
O próprio Expressionismo pelo mundo, especialmente desde que foi colocado dentro do contexto do Modernismo, ficou complicado de distinguir com exatidão e por isso tem um número grande de conexões com outros movimentos de seu tempo. Os expressionistas desde o início foram divididos em dois grupos: um que era inclinado à metafísica e outro no qual a ação política era mais presente. Esses dois agrupamentos foram difundidos o suficiente para que, com o tempo, a expressão alemã tenha sido colocada ao lado do modernismo alemão. Esta forma de Expressionismo também compartilhou idéias com o Futurismo, o Dadaísmo e outros movimentos expressionistas.
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