Dois caminhos de uma mesma partida
Quem são os palestrantes? Luiz Ruffato e Iacyr Anderson Freitas
Sobre o que é a palestra? Sobre suas trajetórias e produção literária atual
Até quando? dia 04 de agosto
Dois caminhos de uma mesma partida
Na década de 1980, Juiz de Fora desfrutava de grande efervescência literária. Revistas como D’Lira e Abre Alas serviam de voz para uma nova geração de escritores, impulsionadas por um coeso e forte movimento estudantil. Na antologia “Poesia em movimento”, organizada pelo jornalista Jorge Sanglard, o professor e ensaísta Gilvan Procópio defende que “não era a política que determinava a escolha, mesmo nos momentos mais tensos. A estruturação dos textos e sua qualidade estética era sempre um objetivo buscado”. Para o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, a produção daquela geração é prova de que a poesia “é um reordenamento do caos”. Expoentes desse grupo, Luiz Ruffato e Iacyr Anderson Freitas são os primeiros convidados do projeto Ave, Palavra e conversam com o público no próximo sábado, dia 4, às 15h, na livraria A Terceira Margem.
Ensaiando a temática do proletariado que iria consagrá-lo no início dos anos 2000, Luiz Ruffato escreveu Maio, presente no livro de poemas “Cotidiano do medo”, de 1984: “o despertador marca/ o minuto perdido/ por entre os dedos/ na mão fechada”. Jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ruffato iniciou-se nos versos, e, após alguns anos trabalhando em jornais, partiu para a prosa. Segundo o escritor, os livros anteriores a “Eles eram muitos cavalos”, de 2001, obra que lhe rendeu fama internacional, ainda não o satisfaziam quanto à forma.
“A grande questão é que desde o princípio eu tinha o tema muito claro, as esperanças e desejos do proletariado urbano num país em profunda transformação, mas não sabia como executá-lo”, disse ao jornalista e crítico literário Luciano Trigo, referindo-se ao que chama de “primeira ideia” do que desejava construir como literatura, o projeto Inferno Provisório, iniciado em 2005 com “Mamma”, “Son Tanto Felice” e “O Mundo Inimigo”. Depois de “Vista Parcial da Noite”, de 2006, e “O Livro das Impossibilidades”, de 2008, Ruffato concluiu a pentalogia em 2011, com o romance “Domingos sem Deus”, que irá autografar no evento.
Obras em Destaque
Um dos indicados ao prêmio Portugal Telecom de Literatura desse ano, “Domingo sem Deus” foi recebido com entusiasmo pela crítica nacional. Segundo o crítico Maurício Melo Júnior, do jornal Rascunho, a literatura de Ruffato foge ao convencionalismo moderno, subvertendo formas narrativas. “Seus textos escorrem com lirismo e rigoroso trabalho linguístico, além de contarem muito bem histórias intensas e instigantes”, aponta o crítico. “Apesar deste discurso, digamos, socializante, Ruffato não se prende aos preceitos políticos ou ideológicos. Quer somente fazer literatura, boa literatura. E apanha o barro que lhe é mais caro e próximo para escrever livros fundamentais”, argumenta.
Perguntas de uma escrita contemporânea
Também reverenciado pela crítica, Iacyr Anderson Freitas perseguiu a poesia desde o início. Apesar de se lançar, esporadicamente, na área do ensaio, da ficção e da literatura infanto-juvenil, consagrou-se no gênero que defendeu nos anos 1980. Formado em Engenharia pela UFJF, já publicou dezenas de obras, a maioria em versos. Entre seus prêmios, destaca-se a Menção-Honrosa recebida no Prêmio Literário Casa de las Américas, em 2005, com o livro de contos “Trinca dos traídos”, publicado no ano anterior. Segundo o pesquisador Paulo Andrade, “Iacyr atinge a um tempo um alto grau de construção poética, utilizando uma linguagem descritiva e fortemente ligada à referência da realidade histórica”.
Lançado em 2010, “Viavária” – que também será autografado pelo autor no evento – é considerado pela crítica uma das grandes obras da poesia contemporânea brasileira. “Ciente de que resolver um poema é insuflá-lo de reticências-perguntas as quais, no livro, se perseguem a si mesmas ora na reincidência dos mesmos arranjos estróficos, os mesmos andamentos e ritmos métricos que a conservam e a capturam, ora na ocorrência do verso livre — curto, cortante — que deflagra o incapturável da resposta mesmo no plano da forma”, defende o ensaísta Igor Fagundes, no jornal Rascunho, pontuando a habilidade do poeta em perseguir trajetos alternativos em sua escrita, sem render-se a padrões e sem deixar-se “culminar em ilustração”.
Contemporâneos um do outro, Ruffato e Iacyr são amostras das muitas trajetórias que resultaram numa das mais expressivas produções literárias de Juiz de Fora. Seguindo gêneros diversos, ambos são frutos de suas opções estéticas, editoriais e profissionais, e se encontram no Ave, Palavra para discutir afinidades e particularidades. Assim, abrem o caminho para que a nova geração, cuja produção se inicia neste milênio, também pense e reflita sobre seus próprios fazeres.
O projeto Ave, Palavra foi aprovado pelo edital de Programação Cultural de Livrarias, do Ministério da Cultura, e financiado pelo Fundo Nacional de Cultura. O evento conta, ainda, com o apoio do restaurante Mamma Roma, Hotel Serrano, Gráfica América e salão Personalité. Todos os eventos serão gratuitos.
Projeto Ave, Palavra – Encontros de Literatura Contemporânea
De agosto à dezembro de 2012
Dia 4 de agosto, às 15h
Autor convidado: Luiz Ruffato
Participação especial: Iacyr Anderson Freitas
Dia 18 de agosto, às 15h
Autora convidada: Tatiana Salem Levy
Participação especial: Carolina Barreto
Dia 1º de setembro, às 15h
Autora convidada: Ana Paula Maia
Participação especial: Darlan Lula
Dia 15 de setembro, às 15h
Autor convidado: Santiago Nazarian
Participação especial: Anderson Pires
Dia 6 de outubro, às 15h
Autor convidado: Paulo Scott
Participação especial: Edimilson de Almeida Pereira
Dia 20 de outubro, às 15h
Autor convidado: Ramon Mello
Participação especial: André de Freitas Sobrinho
Dia 3 de novembro, às 15h
Autora convidada: Cecília Giannetti
Participação especial: Prisca Agustoni
Dia 17 de novembro, às 15h
Autora convidada: Carola Saavedra
Participação especial: Alexandre Faria
Dia 1º de dezembro, às 15h
Autor convidado: Nelson de Oliveira
Participação especial: Laura Assis