Dossiê

Ricardo Siri e a unificação entre arte e vida

Entenda como o artista relaciona múltiplos conceitos e elementos à prática artística.

Por Equipe Editorial - junho 27, 2020
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Ricardo Siri (Rio de Janeiro, 1974) é um artista sonoro e visual que transita entre escultura, música, instalação, fotografia e vídeo.

Artista múltiplo, dono de uma estética com elementos que vão do surrealismo ao neoconcretismo e arte imersiva, sua obra une arte e vida, onde sons e objetos são carregados de conceito, forma, experiência e sonoridade.

Percussionista formado na Los Angeles Music Academy (EUA), em 2007 adentrou o universo das artes visuais, incorporando na sua poética elementos de sua experiência musical combinados a materiais orgânicos e do cotidiano.


Entrevista com o Arteref

Quando perguntado sobre suas inspirações para mergulhar no universo da arte:

“Vivo no mundo da arte desde sempre. Vejo arte em tudo. A música caiu no meu colo na infância e ainda adolescente percebi que poderia viver de arte.

Namorei e casei com a artista Deborah Engel, que frequentou ainda nos anos 2000 a EAV, escola de artes visuais do Parque Lage. Nos casamos e montamos uma casa / ateliê /estúdio onde passamos o dia pensando e produzindo arte 24h por dia.

Antininho, 2020.
AntiNinho, 2020. Arames farpados. Edição única. 25 x 25 x 30 cm.

Conheci muita gente e as possibilidades artísticas aumentavam. Minha música foi ficando mais performática e o palco havia ficado pequeno.
Comecei a explorar outros meios.

É daí que vem minha inspiração. Desde o disco ultrassom que é sobre o nascimento da minha filha Clara, às exposições que falam sobre natureza, instrumentos e vida”.

Por fim, quanto aos seus objetivos, Siri opta por se ater ao presente. “Prefiro estar vivendo o presente e ser pleno no momento. Acho que assim consigo ser amigo do tempo. Se tiver um objetivo para mirar e acertar, é ser feliz”, conclui o artista.


Análise de obras

Aglomerados, 2020

Aglomerados, 2020
Caixa de madeira, olho mágico e fotografia
Edição de 3 + 2PA

Na série “Aglomerados”, Ricardo disponibiliza 4 caixas de abelha que visam traçar um paralelo entre a nossa sociedade a sociedade das abelhas.

Criador de abelhas em seu Ateliê, Siri aponta que a individualidade das abelhas é colocada de lado. Na verdade, tem-se um conjunto de indivíduos que forma um certo organismo e esse organismo busca um objetivo.

Dentro de cada caixa, o artista inseriu uma fotografia que retratava algum tipo de aglomeração: culto religioso, evento esportivo, reunião política e protestos civis. Através de um tratamento digital, Siri distorceu as fotos “apagando” as individualidades nas multidões. Seu foco está no coletivo.

Olho mágico; Aglomerados, 2020
Olho mágico; Aglomerados, 2020

Para ter acesso a essas imagens distorcidas, o artista colocou no orifício por onde as abelhas entram nas caixas, um olho mágico. O olho mágico, portanto, é um convite ao expectador para um novo olhar, uma descoberta, um olhar magico, de esperança coletiva.


Casulo 01, 2020

Ricardo Siri; Casulo 01, 2020
Dimensões: 27 x 22 x 32 cm
Edição única

A partir de objetos domésticos apanhados no quintal de seu ateliê, em Santa Tereza (Rio de Janeiro), Siri moldou uma escultura de materiais orgânicos, como penas de galinha e galhos, sob uma estrutura de barro e cera de abelha.

Ele construiu, assim, Casulo 01, um objeto mítico, entre um elmo e uma máscara, numa expressividade latente que tira da arte o elemento meramente contemplativo, para se inserir ativamente nos discursos de enfrentamento da contemporaneidade.


Ninho 02

Ricardo Siri; Ninho 02, 2017
Exposição individual, “Habitáveis”.
Centro Hélio Oiticica, RJ.

Nessa instalação, composta por uma sequência de ninhos habitáveis feitos de galhos, folhagens e barro, Siri realiza performances sonoras.

Essa série “Ninhos”, atualiza os pressupostos do movimento neoconcreto, como instaurados por Helio Oiticica e Lygia Clark: situar a obra de arte em um novo contexto de espaço e tempo, inserindo-a no mundo e estabelecendo uma relação física com o espectador.

Entretanto, a obra de Ricardo faz o contrário. Ela insere o “mundo” no espaço de arte, em que o espectador se abriga em uma experiência multissensorial.

Com os ninhos, o artista propõe o retorno a um estado de natureza em que a arte, a partir de elementos orgânicos e sensoriais, despe-se da linguagem e mantém com o público uma relação primordial.


Exposição individual: Organismo, 2020

Siri provoca com seu trabalho uma relação imediata com o espectador / ouvinte através de uma linguagem comum e do acolhimento proporcionado pelas obras, como no caso das imersões sonoras e dos habitáveis e ninhos.

Seu projeto une arte e vida: é a partir de sua casa / ateliê que se depara com elementos e materiais que farão parte do seu processo produtivo, como vimos nas obras acima.

E a partir disso, produz obras que, para além da matéria estabelecem uma conexão “cósmica” com o universo e o público.

Acesse virtualmente a exposição

Exposição Ricardo Siri

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