Ensaio

O homem e o trabalho nos tempos modernos


Castigo divino segundo a bíblia, dignificante atividade conforme os protestantes, o trabalho – com objetivo de obter rendimentos ou não – sempre acompanhou o homem. Com o advento e o desenvolvimento, do capitalismo transformou-se porém em mais uma mercadoria nas trocas comerciais. A industrialização implicou profundas transformações na sociedade, já plenamente capitalista nasceu o proletariado nas fábricas e chegaram ao fim a escravidão e a servidão no campo. Durante um longo ciclo de transformações no meio de trabalho, surgiu então o desemprego, fenômeno indissoluvelmente ligado ao capitalismo.

Nos últimos tempos, um novo fenômeno – a globalização – transformou o meio panorama trabalhista. Pessoas e empresas são transferidas de um lado a outro do planeta. Os deslocamentos criam indústrias em novos lugares e geram milhões de desempregados em outros locais. Enquanto a globalização debilita algumas das conquistas trabalhistas nos países ocidentais, continuam a existir situações de extrema exploração, discriminação da mulher e emprego e mão-de-obra infantil nas regiões mais desfavorecidas, que repetem com frequência os erros do primeiro mundo.

Os momentos de crise sempre evidenciam as questões latentes nas sociedades, elevando ao absurdo nossos problemas e suas complexidades. Hoje em meio a uma pandemia, não surpreende que uma dessas questões seja exatamente o trabalho: central em relação ao convívio humano e às construções sociais, é sobre o trabalho (e, consequentemente, sobre o não-trabalho) que pesam questões relevantes: quem trabalha para conter a crise? Como trabalha? E qual será a sorte da classe-que-vive-do-trabalho quando não pode trabalhar? Como equacionamos as demandas produtivas diante das restrições ao trabalho vivo? Ficam aí questões para se pensar enquanto analisamos fotografias que definem o homem e o trabalho nos tempos modernos.

Jovens mineiros. França – David Seymour, 1935

O trabalho infantil ainda era corrente na Europa do primeiro terço do século XX. Na imagem, o fotógrafo captou, em primeiro plano, dois adolescentes saindo da mina onde trabalhavam.


Pescadores. Baía de Minamata, Japão – W. Eugene Smith, 1972

Pescadores dedicam-se a suas tarefas cotidianas. Smith visitou o local para mostrar os efeitos do envenenamento por resíduos industriais de mercúrio na região, que causou 3 mil mortes.


Mineiros galeses. Gales, Reino Unido, 1950

Em visita a uma população de mineiros em Gales, Smith teve a chance de conhecer três gerações de mineiros.


Campo de trigo. Extremadura, Espanha. W. Eugene Smith, 1951

Depois de sua estadia em Deleitosa, Smith publicou na Life ensaio “A aldeia espanhola, sobre as duras condições de vida do povoado. Na imagem mulheres batem o trigo depois de separar o grão da palha.


Trabalhador de siderúrgica. Pittsburgh, EUA – W. Eugene Smith, 1955

A força dramática deste retrato de um trabalhador, do qual não podemos ver os olhos é característica do fotógrafo norte-americano.


Les Halles, Paris, França – Henri Cartier-Bresson, 1952

Destacado retratista, Cartier-Bresson captou nesta ocasião um trabalhador de Les Halles, um grande mercado coberto situado no centro da capital francesa e que deixou de funcionar da década de 60.


Hora de descanso. Bremen, Alemanha Ocidental – Henri Cartier-Bresson, 1962

Durante a pausa do almoço, um operário descansa sobre o seu próprio banco de trabalho. O fotógrafo presenciou esta cena no estaleiro do mar do norte, no estado de Bremen, na ex-Alemanha Ocidental.


Prostituta em Essen. Alemanha Ocidental – David Seymour, 1947

O pós foi duro tanto na Alemanha Ocidental quanto na Oriental. Para sobreviver em circunstâncias tão adversas algumas mulheres tiveram que recorrer à prostituição.


Médico rural. Colorado, EUA – W. Eugene Smith, 1948

Paradigma da foto de abertura dos ensaios da Life, a imagem resume o personagem à perfeição: um médico rural, com sua valise, que atende seus pacientes de casa em casa.


Médico rural. Kremmling, Colorado, EUA – W. Eugene Smith – 1948

Dr. Ceriani descansa em uma mesa de operações.


Dr. Albert Schweitzer. Lambaréné, Gabão – W. Eugene Smith, 1954

Smith visitou o prêmio Nobel em seu hospital para portadores de hanseníase na ex-África Equatorial Francesa. A tarefa humanitária do médico seguia até a madrugada, quando todos já dormiam.


Bate-papo durante o descanso. Erevan, URSS – Henri Cartier-Bresson, 1972

Operários conversam animadamente em uma fábrica engarrafadora, na ex-república soviética da Armênia.


Reconstrução de um forno. Kandahar, Afeganistão – Steve McCurry, 1992

Como se o tempo tivesse parado na cidade de Kandahar, homens reconstroem um forno conforme os modos tradicionais. A elegância dos gestos contrasta com a agreste paisagem afegã.


Poços de petróleo em chamas. Kuwait – Steve McCurry, 1991

Durante a Guerra do Golfo, centenas de poços de petróleo foram incendiados. As labaredas atingiam 20 metros de altura. Uma equipe de especialistas verifica a situação do local.


Jovem soldador. Mumbai, Índia, 1994 – Steve McCurry, 1994

No desolado entorno do ferro-velho naval, toda a atenção está concentrada no intenso olhar de seu protagonista. Trata-se de um soldador protegido por improvidas vestimentas.


Trabalho interrompido. Rajastão, Índia – Steve McCurry, 1983

Uma tempestade de areia obrigou estas operária a suspender seus trabalhos. McCurry teve que parar seu carro pela mesma razão. Então, fotografou o grupo de mulheres que tentava se proteger.


Pescadores. Sri Lanka – Steve McCurry, 1995

Um tipo de pesca tradicional do Sri Lanka, praticamente extinto, pôs diante da objetiva de McCurry esta curiosa cena. Os movimentos dos pescadores parecem extraídos de uma coreografia.


Serra Pelada, Pará, Brasil – Sebastião Salgado, 1986

‘Formiga’, trabalhador cuja função é carregar saco de até 40 kg, chega ao alto da mina via escada batizada de ‘adeus, mamãe’.


Carvoaria ilegal. Pará, Brasil – Foto: MPT- PARÁ, 2019.

No local foram resgatados 31 trabalhadores em situação de escravidão.


Entregador do iFood enfrentando uma enchente para entregar um pedido. Belo Horizonte, Brasil – Alexandre Mota /O Tempo, 2020.

Wesley Francisco Muniz acabou viralizando após enfrentar enchente em BH.

Texto de Matheus Vieira


Veja também

https://arteref.com/fotografia/fotografias-o-passado-e-presente-em-fantasmas-de-guerra/

Fonte

UEL – A Fotografia como instrumento de valorização do trabalho

Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
Equipe Editorial

Os artigos assinados pela equipe editorial representam um conjunto de colaboradores que vão desde os editores da revista até os assessores de imprensa que sugeriram as pautas.

Share
Published by
Equipe Editorial

Recent Posts

Exposição “Nhe’ẽ Porã: memória e transformação” no MAR

"Nhe'ẽ Porã: memória e transformação" estreia no Museu de Arte do Rio apresentando as belezas…

3 horas ago

Exposição “Desafio Salvador Dalí” chega a São Paulo em maio

"Desafio Salvador Dalí", dedicada à vida e obra do renomado pintor e multiartista espanhol, chega…

3 horas ago

Obras de arte expostas no Metrô de São Paulo são restauradas

Obras de arte de Renina Katz e Waldemar Zaidler, expostas na Estação Sé do Metrô…

3 horas ago

Caravaggio: a verdade dramática

Uma das personalidades mais fascinantes da História da Arte, que encarnou o artista em conflito…

5 horas ago

8 Tendências de arte estranhas na história da arte

Nesta matéria enumeramos algumas tendências de arte mais estranhas da história que você já viu.…

5 horas ago

Como Mondrian se tornou abstrato

Um dos artistas abstratos mais conhecidos do século XX é Piet Mondrian, e seu caminho…

5 horas ago