A produção audiovisual indígena contemporânea será destaque da mostra “Xingu: contatos”, que apresenta múltiplas narrativas e olhares em torno do território do Xingu. O conjunto inclui seis curtas-metragens, feitos especialmente para a exposição, de autoria de Divino Tserewahú, Kamatxi Ikpeng, Kamikia Kisêdjê, Kujãesage Kaiabi, Piratá Waurá e do Coletivo Kuikuro de Cinema.
Primeiro grande território indígena demarcado no Brasil, em 1961, o Xingu é a casa de sociedades tradicionais que enfrentam há séculos diversas formas de intervenção e violência e inspiram a luta por direitos dos povos originários. Ainda alvo de disputas e ameaças, o território, localizado no estado do Mato Grosso, é habitado atualmente por mais de 6 mil indígenas, de 16 etnias.
A equipe de curadoria é formada pelo cineasta Takumã Kuikuro, diretor de documentários como As hiper mulheres (2011), pelo jornalista Guilherme Freitas, editor-assistente da serrote, revista de ensaios do IMS, e pela assistente de curadoria Marina Frúgoli.
No sábado (5/11), às 17h, os curadores e artistas da mostra participam de uma roda de conversa com o público. No domingo (6/11), às 11h, haverá uma apresentação de narrativas orais com o pesquisador Yamalui Kuikuro, e, às 17h, novamente um bate-papo com os curadores e artistas da exposição.
A exposição traz ainda um trabalho inédito do artista Denilson Baniwa, fotografias produzidas pelos comunicadores indígenas da Rede Xingu +, e um mural, com grafismos alto-xinguanos, criado pelo artista Wally Amaru na empena de um prédio na rua da Consolação.
Também são exibidos imagens, reportagens e outros documentos produzidos no Xingu por não indígenas desde o final do século 19. O conjunto inclui desde registros de viajantes europeus, passando pela documentação de expedições do Estado brasileiro até a cobertura da imprensa durante a campanha pela demarcação do Parque Indígena do Xingu, decretada em 1961. Na mostra, essas imagens são confrontadas pelas produção de artistas e comunicadores indígenas, num processo de diálogo, contraste e elaboração de novas perspectivas.
Segundo Takumã Kuikuro, as narrativas em torno do Xingu sofreram muitos apagamentos, sendo preciso reforçar o protagonismo das lideranças indígenas na luta pela demarcação do parque e na diplomacia com os brancos. A exposição parte do objetivo de evidenciar esse ativismo e também de destacar a importância do audiovisual no território atualmente, como aponta o cocurador: “Hoje nós somos protagonistas da nossa história. Antes não conhecíamos o audiovisual, agora conhecemos. Somos donos da nossa imagem e levamos as lutas dos povos do Xingu para museus, festivais, cinemas, redes sociais e exposições. Não existiu só um contato entre indígenas e não indígenas. O contato acontece o tempo todo, hoje e amanhã, e acontece também através do audiovisual. Queremos contar nossa história para que os não indígenas possam reconhecer e ensinar aos seus filhos o protagonismo dos povos indígenas do Xingu e de todo o Brasil.”
O cocurador Guilherme Freitas também destaca que, para evidenciar essas novas narrativas, é preciso reavaliar a forma como os acervos das instituições são catalogados e exibidos. “Parte da história do Xingu está registrada em fotografias sob a guarda do Instituto Moreira Salles. A exposição é o marco inicial de um processo de requalificação desse conjunto de imagens, com a colaboração de pesquisadores e lideranças indígenas, por meio da identificação de pessoas, locais e situações retratadas. Buscamos, assim, colocar o acervo a serviço da reflexão crítica sobre a representação dos povos originários na história do país e do desenvolvimento de novas formas de autorrepresentação indígena”, afirma.
Produção audiovisual indígena dentro das comunidades, tanto como instrumento de preservação de saberes e tradições quanto como ferramenta de autorrepresentação, é um dos temas centrais dos filmes. Em Kamatxi cineasta, Kamatxi Ikpeng mostra a importância das ferramentas audiovisuais para as lutas atuais dos Ikpeng. Em A câmera é a flecha, Takumã Kuikuro e o Coletivo Kuikuro de Cinema repassam duas décadas de atuação nas aldeias de todo o Xingu e em festivais ao redor do mundo. Em Somos cineastas, Divino Tserewahú reúne depoimentos sobre o papel do audiovisual na cultura Xavante. Um dos pioneiros do cinema indígena no Brasil, Divino participou da primeira oficina do Vídeo nas Aldeias no Xingu, em 1997.
São exibidas ainda fotos e documentos que registram a presença do cacique Raoni Metyktire e de outras lideranças xinguanas durante os debates da Constituinte, em 1987 e 1988. Os materiais apresentados reforçam como o Xingu se tornou um marco e símbolo da resistência indígena, servindo como referencial para outras demarcações.
A mostra contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas ao longo do período expositivo. Ao visitar a exposição, o público poderá conhecer mais sobre a história de lutas e resistências dos povos xinguanos, como enfatiza o escritor e ativista Ailton Krenak, em entrevista a ser publicada no catálogo da mostra: “O Parque Indígena do Xingu é inspirado na ideia de conservação, e ele inspira muito. Inspira a luta indígena no sentido da conservação da biodiversidade e na convivência da diversidade de povos dentro de um mesmo território. Ele é um imenso repertório de experiências positivas que inspira as lutas dos indígenas até hoje.”
Xingu: contatos
Abertura: 5 de novembro (sábado), a partir das 11h
Local: IMS Paulista. Av. Paulista, 2424 – São Paulo – SP
Visitação: até 9 de abril de 2023
Horário: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
Entrada gratuita
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