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MASP exibe exposição de artista-xamã que retrata cosmologia Yanomami

Exposição reúne 121 desenhos de André Taniki Yanomami raramente exibidos ao público, que revelam visões xamânicas e uma ecologia espiritual

Por Equipe Editorial - dezembro 2, 2025
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O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand exibe, de 5 de dezembro de 2025 a 5 de abril de 2026, a exposição André Taniki Yanomami: ser imagem / në utupë / image being, que reúne 121 desenhos produzidos entre 1976 e 1978 por André Taniki Yanomami (n. ca. 1945, Terra Indígena Yanomami, Roraima, Brasil).

Taniki é xamã, guardião político e espiritual de sua comunidade, sendo responsável por “segurar o céu”, garantindo o equilíbrio cósmico, além de curar doenças e mediar relações. A expressão yanomami në utupë significa “ser imagem” e designa a essência vital de todos os seres, visível apenas aos líderes espirituais em visões xamânicas. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Mateus Nunes, curador assistente, MASP, a mostra apresenta obras raramente exibidas ao público — 78 delas nunca exibidas antes —, que retratam a cosmologia yanomami, na qual humanos, animais, espíritos, floresta e céu coexistem em uma mesma ecologia espiritual.

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André Taniki Yanomami ‘Sem título [Untitled]’ 1977. Foto [Photo] Filipe Berndt

“Para os Yanomami, antes dos seres, espíritos e emoções existirem em corpo, eles existem em imagem. Tudo acontece primeiro em imagem, portanto, o conhecimento se dá através da visão, não da explicação”, afirma Mateus Nunes. Os desenhos de Taniki se relacionam com práticas visuais tradicionais dos Yanomami, como a pintura corporal. O artista-xamã torna o âmago visível ao retratar com linhas e cores suas experiências xamânicas, muitas delas realizadas sob o efeito de rituais com yãkõana, pó alucinógeno similar à ahayuasca, feito a partir de cascas de uma árvore amazônica, que permite a comunicação com os xapiri pë (espíritos ancestrais).

Sobre a exposição

O primeiro núcleo da exposição é composto por 43 obras pertencentes à coleção da fotógrafa suíça-brasileira Claudia Andujar. Em 1977, Andujar convidou Taniki a expressar por meio de desenhos a morte de Celina, esposa do líder da aldeia Hewë nahipi, onde o xamã então vivia. Com Andujar, Taniki desenhou pela primeira vez suas visões sobre o papel, registrando o ritual funerário reahu, cerimônia central na cosmologia yanomami. Feitos com canetas hidrográficas em tonalidades de preto, roxo e vermelho, esses trabalhos descrevem o ciclo da morte e as cerimônias em torno dela. Cada trabalho desse grupo tem no verso anotações bilíngues em yanomami e português, feitas por Andujar, Taniki e pelo missionário Carlo Zacquini logo após a finalização de cada desenho, compondo importante documentação sobre costumes e crenças. A exposição apresenta as descrições desses desenhos e a publicação lançada na abertura da exposição adentra com profundidade em sua análise ritualística.

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André Taniki Yanomami ‘Sem título [Untitled]’ 1978. Foto [Photo] Filipe Berndt

O segundo conjunto de desenhos compreende 78 obras inéditas, oriundas da coleção do antropólogo francês Bruce Albert, célebre por ser uma das maiores referências na antropologia quanto aos estudos Yanomami. Albert é coautor, com Davi Kopenawa, do livro A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Essas obras de Taniki, feitas em 1978 com pastel oleoso e caneta hidrográfica sobre papel, formam composições mais abstratas e com campos de cor vibrantes.

Será publicado um catálogo bilíngue, em português e inglês, organizado por Adriano Pedrosa e Mateus Nunes. O livro reúne textos de Mateus Nunes, Bruce Albert, Claudia Andujar, David Ribeiro e Naine Terena, além de reproduções de obras.

Sobre o artista André Taniki Yanomami

André Taniki Yanomami nasceu por volta de 1945 na aldeia Okorasipëki, nas cabeceiras do Rio Lobo d’Almada, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, no Brasil. A partir de 1976, fruto de interações com a fotógrafa Claudia Andujar, o missionário Carlo Zacquini, o antropólogo Bruce Albert e o também missionário (que se tornou antropólogo) Giovanni Saffirio, o xamã passou a registrar suas visões em desenhos sobre papel, usando canetas hidrográficas e pastel oleosos. Sua prática artística está enraizada nas tradições Yanomami de grafismos corporais e pinturas em rituais com urucum. Sua produção artística cessou em 1985 e Taniki continua, ainda hoje, seu trabalho como xamã na aldeia de Kuremapi, no Território Indígena Yanomami, em Roraima.

André Taniki Yanomami: ser imagem / në utupë / image being integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Clarissa Tossin, Claude Monet, Frans Krajcberg, Abel Rodríguez, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas e Mulheres Atingidas por Barragens.

Serviço

Exposição ‘André Taniki Yanomami: ser imagem / në utupë / image being’
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Mateus Nunes, curador assistente, MASP
De 5.12.25 — 5.4.26
MASPEdifício Lina Bo Bardi. Mezanino, 1º subsolo. Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo, SP
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)

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