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Na Culturgest Porto, uma exposição faz o elogio do tempo ganho

Por mariapaula - junho 27, 2023
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No edifício da Culturgest no Porto, assim como em Lisboa durante os meses de fevereiro a maio, onde ocorreu a primeira parte desta exposição, é fornecido aos visitantes de #Slow #Stop… #Think #Move um folheto informativo. A curadora Ana Anacleto compilou uma lista de 52 expressões relacionadas aos conceitos de “Tempo” e “Espaço”, inspirada por uma outra lista de Georges Perec criada em 1974. Perec, um brilhante pensador que apreciava jogos de palavras, charadas, problemas, equações e outros enigmas, certamente teria apreciado a ideia de Ana Anacleto.

A lista da curadora não é exaustiva. É importante notar que ela está escrita em duas línguas, o que expande seu potencial semântico e nos leva a buscar outras palavras que possam não estar presentes. Estamos perdendo tempo? Não é exatamente isso que importa, mas sim a ideia de que, em nossa sociedade contemporânea, a velocidade se tornou um empobrecedor visual e conceitual. Ao mesmo tempo, estamos cercados por estímulos visuais que nos incitam a captar o máximo possível – com tempos de atenção cada vez mais curtos, o que acaba por afetar a própria fisiologia humana.

Como bem observa Ana Anacleto, essa é uma característica das sociedades neoliberais e do sistema capitalista que ainda prevalece em nosso mundo, levando-nos a consumir cada vez mais imagens, até que nossa memória delas, resultado dos fragmentos de atenção que dedicamos, se torne ínfima e inconsequente.

Em Lisboa, a montagem desta exposição, que requer uma atenção prolongada e um tempo de visita mais amplo, era feita em uma sequência de salas escuras que nos obrigavam a nos adaptar à luz fraca durante todo o percurso. Aqui, as condições de exposição são diferentes. Entramos e saímos dos espaços radiais do belo edifício art déco da Culturgest e podemos constantemente estabelecer conexões ou distâncias entre as obras dos diferentes artistas incluídos na seleção. Há pelo menos duas obras que se repetem: as pinturas de caracóis de Tiago Baptista, nas quais Anacleto enxerga uma alegoria da passagem do tempo.

Além disso, embora alguns artistas estejam presentes em ambas as exposições, a ênfase é dada às diferenças, com seleções de autores e obras distintas em cada caso.

A montagem é exemplar: logo no espaço principal, chamado por Anacleto de “rotonda”, encontramos uma série de estandartes pendurados, todos feitos usando a técnica de patchwork, dedicados à memória de figuras femininas históricas. Essa peça é de autoria de Alisa Heil. Ao mesmo tempo, no chão, há uma série de esculturas de cerâmica da dupla Madalena Lopes e Léo Raphael, combinadas com um texto de áudio sobre a permeabilidade entre consciência e inteligência artificial. De certa forma, essas duas peças, com ênfase no trabalho manual e na redefinição doconceito de humano, representam os extremos entre os quais os demais artistas – cerca de 30 no total – trabalham.

À medida que exploramos os diversos espaços da exposição, somos convidados a refletir sobre as múltiplas abordagens dos artistas em relação ao tempo, ao espaço e à nossa existência no mundo contemporâneo. Cada obra revela uma perspectiva única, uma maneira singular de expressar pensamentos, emoções e questionamentos.

Há instalações imersivas que nos transportam para outros lugares e tempos, como um labirinto de projeções audiovisuais que nos faz mergulhar em paisagens desconhecidas. Há esculturas que desafiam a nossa percepção do espaço, brincando com formas e texturas, convidando-nos a olhar de diferentes ângulos.

Os materiais utilizados pelos artistas são variados: metal, madeira, tecido, plástico e até elementos encontrados na natureza. Cada escolha material tem seu significado e contribui para a mensagem transmitida pela obra.

Enquanto percorremos os corredores e salas dessa exposição, somos convidados a desacelerar, a parar e a refletir. É um convite para pensar sobre o impacto do tempo em nossas vidas, sobre a maneira como ocupamos o espaço e como interagimos com o mundo ao nosso redor.

A exposição #Slow #Stop… #Think #Move é mais do que uma simples mostra de arte. É um convite para repensar nossa relação com o tempo e o espaço, para apreciar a beleza e a complexidade das expressões artísticas, e para refletir sobre nosso papel como indivíduos na sociedade contemporânea.

Ao sairmos da exposição, trazemos conosco novas perspectivas, questionamentos e sensações. E talvez, por um breve momento, tenhamos encontrado um espaço de calma e reflexão em meio à agitação do mundo acelerado em que vivemos.

A exposição #Slow #Stop… #Think #Move é um lembrete de que, às vezes, é preciso desacelerar para encontrar um sentido mais profundo em nosso tempo e espaço, e para nos reconectarmos com nós mesmos e com o mundo ao nosso redor.

Serviço

Exposição “#Slow #Stop… #Think #Move”
Data: 3 de junho até 10 de setembro 
Local: Culturgest Porto
Ingresso: entrada livre

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