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Como São Francisco de Assis foi retratado pelos mestres italianos

Por Paulo Varella - janeiro 10, 2019
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Mostra apresenta iconografia de São Francisco de Assis por mestres italianos

Cola dell’Amatrice (Bolonha, 1575 – 1642) La Madonna del latte con i SS. Sebastiano, Rocco, Francesco e Antonio da Padova, século XVI óleo sobre tela 48,0 x 75,0 cm Créditos: Acervo Pinacoteca Civica, Comune di Ascoli Piceno (Itália)

Figura dotada de enorme relevância histórica e carisma, São Francisco de Assis é, sem dúvida alguma, um dos santos católicos mais cultuados da história. Personalidade marcada por sua humildade e alegria, dedica-se aos pobres e nutre amor imensurável pela natureza, inspirando um imaginário coletivo que se estende por séculos. É ele o protagonista de São Francisco de Assis na Arte de Mestres Italianos, mostra que o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB FAAP) recebe entre 15 de fevereiro e 12 de abril. A exposição traz à cidade trabalhos de artistas como Tiziano Vecellio, Pietro Perugino e Guido Reni.

Giovan Francesco Barbieri dito Guercino, (Cento, 1591 – Bolonha, 1666) San Francesco [São Francisco] Século XVII, primeira metade óleo sobre tela 67,0 x 55,0 cm Créditos: Acervo Palazzo Campana, (propriedade do Istituto Campana per l’Istruzione Permanente), Osimo (Itália)

Com curadoria de Giovanni Morello, especialista em História da Arte, e de Stefano Papetti, diretor da Pinacoteca Civica Di Ascoli, a mostra apresenta um conjunto de 21 obras realizadas entre os séculos XV e XVII, a maior parte delas oriundas de coleções públicas de regiões diversas da Itália. O conjunto apresenta as fases mais relevantes da representação de São Francisco por meio de trabalhos que se integraram à cultura local de toda uma época e que ainda encontram espaço na cultura ocidental por seus valores artístico, histórico e simbólico.

“Desde sempre a imagem de Francisco de Assis, o Pobrezinho, tocou a sensibilidade dos artistas. Comovidos pelo carisma emanado por Francisco, muitos pintores da época eram entusiastas em contar sua história”, pontua Morello.

Seguindo a trajetória daquele que foi santificado, a mostra divide-se em três núcleos: Imagens, Os Estigmas e Conversas Sagradas. No primeiro deles, telas que trazem as primeiras representações de São Francisco de Assis – uma figura franzina, por conta das privações que sofria, mas imbuído de uma grande força espiritual. Deste período, San Francesco d’Assisi e quattro disciplinati (1499), de Perugino, e São Francisco contemplando um crânio (c.1604-07), de Cigoli.

O segundo núcleo volta-se ao tema dos estigmas, cicatrizes recebidas por Francisco, em 1224, quando então meditava no monte Alverne. Apesar de sua manifestação física, os estigmas são tradicionalmente reputados como de origem espiritual, reproduzindo as cinco chagas de Jesus Cristo – cinco pontos do corpo pelos quais Jesus teria sido pregado à cruz: pés, punhos e tórax.

Desta seção, um dos grandes destaques da exposição, San Francesco riceve le stimmate (c. século XVI, anos 60), um óleo sobre tela de Tiziano com quase três metros de altura, que traz a aparição do Cristo Ressuscitado ao santo, vendo-se às suas costas uma cruz em fogo; e San Francesco consolato da un angelo musicante (1607-1608), óleo sobre cobre de Guido Reni, que retrata o momento seguinte ao dos estigmas, quando Francisco recebe em sonhos a aparição de um anjo tocando uma melodia, em uma clara referência à mesma experiência vivida por Jesus no jardim das Oliveiras.

A mostra encerra-se com o núcleo Conversas Sagradas, em que São Francisco aparece associado à Virgem em glória e a outros santos de devoção dos fiéis e dos comitentes, como atesta a esplêndida Virgem com o Menino entre os santos Sebastião, Antônio, Francisco e Roque (c. 1530), obra de Nicola Filotesio.

A exposição reúne preciosidades de 15 acervos italianos, distribuídos por sete cidades italianas: Galleria Corsini, Palazzo Barberini, Musei Capitolini, Museo di Roma, Museo Francescano dell’Istituto Storico dei Cappuccini (Roma); Pinacoteca Civica, Sacrestia della chiesa di San Francesco, Convento Cappuccini (Ascoli Piceno); Museo Nazionale d’Abruzzo (L’Aquila), Galleria Nazionale dell’Umbria (Perugia); Istituto Campana per l’Istruzione permanente (Osimo); Museo Civico (Rieti), Pinacoteca Nazionale (Bolonha) e Duomo di Novara (Novara). A mostra conta ainda com uma importante obra de Ludovico Cardi, mais conhecido como Cigoli, propriedade do colecionador e ator americano Federico Castelluccio.

Tiziano Vecellio (Pieve di Cadore, c. 1480/1485 – Venezia, 1576) San Francesco riceve le stimmate [São Francisco recebe as estigmas], século XVI – d.1460 óleo sobre tela 298,0 x 177,0 cm Créditos: Acervo Pinacoteca Civica, Ascoli Piceno (Itália)

A fim de proporcionar uma experiência imersiva e única, a mostra traz ainda uma sala de realidade virtual que possibilitará ao visitante caminhar pela Basílica Superior de Assis (1228), uma das mais importantes e belas basílicas da Itália, que guarda obras-primas do pintor italiano Giotto (1267-1337), artista símbolo dos períodos medieval e pré-renascentista.

Sobre os curadores

Especialista em História da Arte, Giovanni Morello idealizou e curou diversas exposições de arte antiga na Itália, no Vaticano, e em outros países.

É também integrante da comissão permanente de tutela dos monumentos históricos e artísticos da Santa Sé, além de autor de diversos livros, como Vatican Treasures – 2000 years of art and culture in the vatican and I, sem versão em português.

Stefano Papetti, diretor da Pinacoteca Civica Di Ascoli, tem vasta experiência em artes. Como presidente da Fundação Salimbeni di San Severino Marche, organizou inúmeras exposições dedicadas a Arte Gótica de Marcas (Marche, em italiano), região central da Itália, e aos pintores renascentistas da região, a arte do século XVII e ainda, de artistas regionais como Carlo e Vittore Crivelli, Simone de Magistris, Pier Leone Ghezzi e Antonio Amorosi. É responsável também por mais de 80 títulos dedicados principalmente a história artística de Marcas.

Stefano Papetti
Stefano Papetti

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Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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