Quem são as artistas?
Isabel Löfgren
Nasceu na Suécia, mas é carioca de coração, artista visual cuja prática se desdobra em instalações, projetos de curadoria e trabalho teórico. Sua atuação se localiza na interseção entre redes de informação, urbanismo e arte contemporânea, com foco em espaço público e práticas sociais.
Patricia Gouvêa
Nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Artista visual, trabalha com fotografia, vídeo, instalação e intervenção urbana. Seu trabalho prioriza a fotografia e a imagem em movimento e suas possíveis interfaces, onde a noção de tempo constitui um dos principais eixos de pesquisa.
O que terá na mostra?
Fotografia, gravuras, vídeo e instalações.
Onde vai ser?
Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea (endereço abaixo).
É um bom programa?
Sim.
Quando?
25 de julho a 25 de setembro.
As conhecidas imagens das amas-de-leite negras, registradas desde meados do século XIX ao início do século XX, são o ponto de partida da pesquisa das artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa para a exposição MÃE PRETA, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN), na Gamboa.
A exposição MÃE PRETA integra o Circuito Cultural Rio, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio, para a programação cultural dos períodos Olímpico e Paraolímpico, que vai de maio a setembro de 2016. A mostra, que também faz parte da programação oficial do FotoRio 2016, busca traçar os elos e ressonâncias entre a condição social da maternidade durante a escravidão e as vozes de mulheres e mães negras na contemporaneidade. A exposição reúne obras criadas especialmente para o IPN, onde está localizado o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, no qual milhares de africanos escravizados recém-chegados ao país foram enterrados à flor da terra, na primeira metade do século XIX.
“A exposição é uma reinvenção poética da iconografia relacionada às mães pretas dentro de uma linguagem contemporânea, tendo como ponto de partida imagens do acervo do Instituto Moreira Salles e releituras de livros com gravuras de Jean-Baptiste Debret, Johan Moritz Rugendas e outros artistas. Por meio de intervenções nessas imagens com objetos óticos, como lupas e vidros, destacamos a complexidade das relações das amas-de-leite com as crianças brancas de seus senhores, e das mulheres escravizadas e seus próprios filhos. De tão conhecidas, estas imagens são vistas de forma superficial e não revelam as histórias de violência sofridas por estas mulheres”, explica Patricia Gouvêa.
Nesse sentido, marcas naturais do tempo em reproduções de negativos de Marc Ferrez são aproveitadas para simbolizar cicatrizes expostas em composições fotográficas, em substituição a cópias perfeitas. Trata-se de uma estratégia artística cujo objetivo é realçar o salto temporal entre o passado e o presente e as invisibilidades, lacunas e silêncios vividos pelas retratadas, que continuam a reverberar no presente das mulheres negras brasileiras.
“A exposição busca ligar a representação daquelas mães pretas e da maternidade em arquivos históricos do período colonial ao protagonismo exercido pelas mães negras de hoje. Nosso posicionamento é feminista no sentido de dar visibilidade às histórias das mulheres, além de questionar o motivo das lacunas históricas em relação ao papel fundamental da mulher negra na nossa história social e visual”, afirma Isabel Löfgren.
De acordo com Marco Antonio Teobaldo, curador da exposição, as artistas têm realizado uma apurada pesquisa nos últimos 18 meses sobre o tema, que desencadeou uma série de reflexões e perspectivas acerca da mulher negra no Brasil. Por esta razão, as autoras optaram por dar voz a estas mulheres, por meio de um trabalho em vídeo, para que elas possam falar sobre maternidade, discriminação, memória, ancestralidade e outros temas. Como parte de um trabalho mais conceitual, estatísticas de mortalidade infantil da época de funcionamento do Cemitério dos Pretos Novos serão comparadas com dados atuais.
A exposição deixará como legado uma reformulação da biblioteca do IPN, onde uma nova seção feminista reunirá títulos de autoras negras e obras sobre protagonismo negro. Além disso, uma área voltada para a literatura infanto-juvenil destacará títulos onde crianças negras são protagonistas. As paredes da biblioteca terão retratos de heroínas negras desde Anastácia, Tereza de Benguela e Nzinga de Angola às feministas afro-brasileiras Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, entre outras mulheres que representam as conquistas sociais, luta e resistência da mulher negra no Brasil.
O trabalho se propõe a contribuir para o debate sobre a memorialização da escravidão, que ocorre no Rio de Janeiro desde a descoberta do sítio arqueológico do Cais do Valongo, em 2010, com o resgate de parte da história da cidade e do Brasil até então soterrada. A programação da exposição inclui palestras e oficinas com historiadores da escravidão, escritoras e artistas negras que ativarão o espaço com reflexões sobre a representação de raça e gênero na sociedade. Uma publicação em papel jornal, suporte muito usado pela imprensa abolicionista, será distribuída gratuitamente.
As artistas trabalham juntas há mais de uma década e realizaram a exposição Banco de Tempo na Galeria do Lago/Museu da República em 2012, com publicação lançada em 2015. A dupla busca, em sua pesquisa artística, criar maneiras de relacionar lugares históricos e arquivos de imagens a debates atuais por meio da arte contemporânea. A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, com direção artística de Marco Antonio Teobaldo, vem realizando desde 2011 exposições e eventos com artistas e pensadores que possam contribuir para a reflexão sobre a memória da escravidão e da herança africana na cultura brasileira.
SERVIÇO
“MÃE PRETA”
Exposição de Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa
Curadoria de Marco Antonio Teobaldo
Local: Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea
Endereço: R. Pedro Ernesto, 34 – Gambôa, Rio de Janeiro – RJ, 20220-350
+55 21 2516-7089
Data: Abertura 23 de julho às 15h
Visitação: 25 de julho a 25 de setembro
Visitação: 3a a 6a – das 13h às 19h | Sábado – das 10h às 13h
Metro: Central
Entrada franca
Livre
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