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Antropofagismo no Brasil Holandês: os índios canibais Tapuias

Antropofagismo no Brasil Holandês

Nos referimos como Brasil Holandês a região que se estendia do Rio São Francisco na Bahia até o Maranhão sob o governo de Maurício de Nassau, entre os anos de 1638 a 1654, também conhecido como governo nassoviano. Neste período comumente referido como invasão holandesa destaca-se o objetivo da Companhia das Índias Ocidentais de controlar os centros de produções açucareiras por meio de um bloqueio naval das praças-fortes da capitania de Pernambuco. Integrando a expedição de Nassau que desembarcou na costa brasileira em 1637, o pintor neerlandês Albert Eckhout realizou entre outras obras, pinturas de índios canibais chamados de Tapuias, durante sua estadia no Brasil.

Recriação do trabalho de Albert Eckhout a partir da estética do cartum.

Embora não existisse uma etnia Tapuia, esta expressão usada pelos Tupis e posteriormente apropriada pelos europeus, se referia à uma tribo identificada como Tarairiu, de conduta feroz e que não se integravam à forma de vida europeia. Seus hábitos antropofágicos se dão com a morte dos entes queridos, que ao invés de serem sepultados, eram cortados ou divididos minusculamente e devorados crus ou assados. Seus ossos reduzidos a pó eram misturados com farinha ou outros alimentos e seus cabelos eram dissolvidos em água e bebidos pelos seus parentes até a consumação de todo o cadáver. Para estes indígenas, era melhor conservar o amigo dentro de seus corpos do que soterrados no ventre da terra mãe.

Pouco se sabe sobre o artista que retratou estes nativos in loco, porém se criou um mito ao legitimar suas pinturas como registros fidedignos e representações fiéis do natural. Esta alegada exatidão etno-histórica é discutível, embora seja inegável o interesse de Eckhout em reproduzir a ferocidade destes guerreiros abrindo mão da beleza clássica renascentista ao mostrar corpos imperfeitos e rostos feios. Ao observar as pessoas, animais, plantas e objetos naturais, os artistas da Renascença alcançaram as características descritiva e naturalista por meio de técnicas sofisticadas e habilidades de representação ao passo que seus manuais de arte recomendavam esta preocupação. Já as imagens exóticas do neerlandês chocaram o público europeu e criou novas convenções posteriormente copiadas e adaptadas por outros artistas.

Os livros de hábitos também estabeleceram convenções para as pinturas sobre os índios do Novo Mundo e alguns dos elementos utilizados por Albert Eckhout já eram evidenciados em gravuras do século dezesseis. Porém a qualidade deste pintor não está no domínio das cores, nem no uso da perspectiva e muito menos na aplicação dos cânones aprendidos ao invés de se debruçar completamente na reprodução do natural, mas na gigantesca forma em que as telas abandonaram o modelo academicista da representação elegante e escultórica dos corpos humanos. As pinturas de grandes dimensões que originalmente decorariam a casa do Conde de Nassau foram presentadas ao rei Frederic III da Dinamarca na segunda metade do século dezessete e atualmente se encontram no National Museum of Denmark.

Por André D.X Luís Onishi

Albert Eckhout – Índia Tapuia –1642
Homem Tapuia – Albert Eckhout, 1641.

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