História

O David de Michelangelo era para ser Hércules, saiba o por quê

Por Paulo Varella - março 27, 2024
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O bloco de mármore que se transformou na escultura de David por Michelangelo em 1504 foi cortada 43 anos antes para um artista chamado Agostino di Duccio, que planejava transformá-la em uma estátua de Hércules. Di Duccio abandonou sua escultura, que originalmente deveria ser instalada em uma catedral florentina. O mármore não foi usado por 10 anos até que outro escultor, chamado Antonio Rossellino, decidiu trabalhar com ele. Rossellino também abandonou seu trabalho por considerar o mármore muito difícil de esculpir e, finalmente, Michelangelo começou a trabalhar em sua escultura em 1501.

David ou Davi é uma das esculturas mais famosas do artista renascentista Michelangelo. O trabalho retrata o herói bíblico com realismo anatômico impressionante, sendo considerada uma das mais importantes obras do Renascimento. A escultura encontra-se em Florença, Itália, cidade que originalmente encomendou a obra.

A escultura possui 5,17 metros de altura e representa o herói bíblico David, um dos personagens mais frequentes na arte florentina. Originalmente encomendada como parte de uma série de outras estátuas de profetas e heróis bíblicos, David estava cotado para decorar uma das fachadas de Santa Maria del Fiore. No entanto, após sua conclusão, a escultura foi posicionada em frente ao Palazzo della Signoria, sede da governadoria de Florença, onde foi revelada ao público oficialmente em 8 de setembro de 1504.

Por conta da natureza heroica representada, a estátua simbolizou o sentimento de liberdades civis que dominava a República de Florença à época. Os olhos de David, com semblante série e cauteloso, estavam posicionados em direção a Roma. Em 1873, a escultura foi transferida para o interior da Galeria da Academia de Belas Artes enquanto a praça pública recebeu uma réplica em seu lugar.

David de Michelangelo

Quer saber mais?

A história da obra remonta a anos antes do trabalho de Michelangelo, que dedicou-lhe os anos de 1501 a 1504. Antes do envolvimento do artista no conceito da escultura, autoridades da Catedral de Santa Maria del Fiore – em sua maioria membros da Arte della Lana, uma das mais influentes guildas de Florença – planejaram uma série de esculturas de doze profetas do Antigo Testamento para decorar o contraforte da catedral. Em 1410, Donatello concebeu a primeira das estátuas: uma escultura do profeta Josué em terracota. Uma escultura de Hércules, também em terracota, foi encomendada ao escultor Agostino di Duccio em 1463 e produzida provavelmente sob a supervisão de Donatello. Dispostos a seguir com projeto, os membros da guilda encomendaram uma escultura de David a Duccio. Um bloco de mármore foi removido das pedreiras de Carrara, ao norte da Toscana. Duccio iniciou a obra modelando os pés, pernas e o tronco. Sua ligação com o projeto teve fim, por razões desconhecidas, com a morte de Donatello em 1466, sendo que mais de uma década após, Antonio Rossellino seria contratado para substituí-lo.

O contrato de Rossellino foi suspenso tempo depois, fazendo com que o inacabado bloco de mármore fosse esquecido mais de vinte e cinco anos no ateliê da Catedral. Naturalmente, o abandono representava uma fonte de preocupação às autoridades florentinas, especialmente por conta do alto custo do material e a dificuldade no translado para a cidade. Um inventário da Catedral publicado em 1500 descrevia a peça como “uma certa figura de mármore chamada David, pobremente esculpida e inerte”.Documentos de um ano mais tarde comprovam que os membros da guilda, conhecidos como Operai, estavam determinados a encontrar um artista disposto a concluir a obra e apresentá-la a cidade. Encomendaram, então, um bloco de pedra que apelidaram de O Gigante. Apesar de nomes já conceituados, como Leonardo da Vinci, terem sido cogitados, foi o jovem Michelangelo quem assumiu a tarefa de concluir a obra. Em 16 de agosto de 1501, Michelangelo assinou contrato com os Operai para conclusão da escultura. O artista deu início aos trabalhos em meados de setembro do mesmo ano, sendo que levaria mais de dois anos para concluí-la.

Michelangelo é considerado nesta obra uma espécie de inovador, pois retrata o personagem não após a batalha contra Golias (como Donatello e Verrochio antes dele fizeram), mas no momento imediatamente anterior a ela, quando David está apenas se preparando para enfrentar uma força que todos julgavam ser impossível de derrotar. Michelangelo neste trabalho usou o realismo do corpo nu e o predomínio das linhas curvas.

Inauguração

David de Michelangelo
Réplica de David de Michelangelo exposta na Piazza della Signoria desde 1910.

Em 25 de janeiro de 1504, quando a escultura já aproximava-se de sua conclusão, autoridades florentinas já estavam cientes de que erguer a imensa obra no beiral da Catedral de Santa Maria del Fiore seria um arriscado plano.[7] Decidiram através de um comitê reunindo os mais proeminentes cidadãos florentinos (incluindo o próprio Leonardo da Vinci e Sandro Botticelli) selecionar um local mais apropriado para receber a grandiosa obra. Enquanto diversas localidades foram debatidas pelo comitê, a maioria de seus membros dividiam-se entre dois locais. Um grupo, liderado por Giuliano da Sangallo e apoiado por Piero di Cosimo, defendia que a estátua deveria ser posicionada sob a Loggia dei Lanzi por conta das imperfeições do mármore; enquanto o segundo grupo defendia que esta deveria decorar a entrada do Palazzo della Signoria. Botticelli sugeriu ainda um terceiro ponto de vista, de que a escultura devesse ser abrigada no interior da catedral. Em junho de 1504, no entanto, David foi finalmente instalado na entrada do Palazzo della Signoria, substituindo a escultura em bronze Judite e Holofernes, de Donatello.[8] O trabalho de posicionamento da escultura durou quatro dias.[9]

História recente de David de Michelangelo

Em 1873, a escultura David foi retirada de praça pública por questões relacionadas à danificação, e passou a ser exibida no interior da Galeria da Academia de Belas Artes de Florença, atraindo milhares de visitantes até os dias atuais. A fachada do Palazzo Vecchio, por sua vez, recebeu uma réplica em 1910.

Em 1991, um homem atacou a escultura com uma marreta, danificando parte dos pés e pernas da estátua.

https://arteref.com/arte/curiosidades/da-vinci-e-michelangelo-sera-mesmo-que-suas-obras-opostas-se-complementam/
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