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O Brasil e o Poder na Arte Mundial

Por Paulo Varella - dezembro 15, 2025
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1. O Mito da Globalização e a Realidade dos Números

O senso comum sugere que vivemos em um mundo da arte “sem fronteiras”, onde o talento é o único critério para o sucesso. No entanto, a lista das 100 personalidades mais influentes de 2025 revela uma realidade distinta. Com apenas 4 brasileiros figurando no ranking, confrontamos uma verdade incômoda: a influência global não é uma meritocracia artística, mas uma hierarquia de infraestrutura.

A presença de Adriano Pedrosa (44º), Dalton Paula (68º), Rafael Fonseca (74º) e Thiago de Paula Souza (97º) não deve ser lida apenas como uma vitória individual, mas como uma exceção à regra de um sistema que ainda privilegia o Norte Global.

grafico dos mais influentes por país

1.1 O Desequilíbrio Geográfico em Dados:

  • Enquanto o Brasil (a 10ª maior economia e um dos maiores territórios do mundo) detém 4% da lista, o eixo Estados Unidos-Reino Unido-Europa concentra a vasta maioria do poder decisório.
  • A análise crítica do setor demonstra que a “globalização” muitas vezes serviu para centralizar o poder em vez de distribuí-lo. O que é lido como “universal” ou “influente” continua sendo validado por instituições em Londres, Nova York ou Berlim.

Neste cenário, o tamanho do Brasil e sua produção cultural vibrante são incoerentes com sua representação nos rankings de poder. O país produz arte em escala monumental, mas ainda importa a “legitimação” de sua própria relevância através de filtros estrangeiros.

2. Talento não é Poder – A Ditadura da Infraestrutura

Um dos pontos mais reveladores da análise crítica é que a influência na arte contemporânea não é medida pelo pincel, mas pela capacidade de criar e sustentar redes. Na lista de 2025, os brasileiros presentes não estão lá apenas por sua produção estética, mas por sua habilidade em navegar e construir infraestruturas de legitimação.

A Barreira das Redes Institucionais

Enquanto o Brasil possui uma produção artística vasta e diversificada, a maioria dos nossos agentes esbarra em uma limitação estrutural: a falta de vínculos continuados com as instituições hegemônicas.

  • A influência hoje pertence a quem detém fundações, programas de residência, plataformas curatoriais e coleções.
  • Nomes como Adriano Pedrosa e Dalton Paula são pontos fora da curva porque conseguiram posicionar suas narrativas dentro de eventos de visibilidade máxima (como a Bienal de Veneza). Eles não apenas “participaram” do sistema; eles ajudaram a moldar a agenda global daquele ano.

O Abismo das Políticas Públicas

O texto crítico aponta uma lacuna fundamental: a escassez de políticas públicas robustas no Brasil que promovam a internacionalização de forma sistemática. Enquanto países do Norte Global possuem redes de suporte que garantem que seus artistas e curadores circulem permanentemente em Berlim, Londres ou Nova York, o brasileiro muitas vezes depende de iniciativas isoladas ou do esforço de galerias privadas.

Ter 4 nomes em uma lista de 100 não reflete uma “falta de talento” brasileira, mas sim a nossa fragilidade institucional. O Brasil é um exportador de matéria-prima criativa que ainda luta para ser o dono das “fábricas” de prestígio (os museus e feiras que dão a palavra final sobre o que é importante).

Para concluir este ensaio, vamos focar no papel transformador que esses brasileiros exercem e no que é necessário para que a nossa influência finalmente corresponda ao nosso tamanho.

3. A Descolonização como Moeda de Troca e o Caminho à Frente

Se o sistema de arte ainda é dominado pelo eixo Norte Global, como o Brasil pode expandir sua influência? A resposta reside em um movimento que os quatro brasileiros da lista dominam com maestria: a revisão das narrativas históricas.

3.1 A Nova Influência: O Pensamento Decolonial

A presença de nomes como Dalton Paula e Thiago de Paula Souza sinaliza uma mudança na “moeda de troca” do prestígio mundial. O mundo da arte está faminto por perspectivas que desafiem o passado colonial e tragam novas formas de entender a identidade.

  • O Brasil não está apenas ocupando cadeiras; ele está mudando a conversa.
  • Quando Adriano Pedrosa leva o tema “Estrangeiros em Todos os Lugares” para Veneza, ele força o centro do mundo a olhar através de uma lente brasileira/latino-americana. Isso é poder simbólico em sua forma mais pura.

3.2 O Brasil é coerente com sua influência?

A conclusão é um “ainda não”. Para que o Brasil seja representado de forma coerente com sua extensão territorial e riqueza cultural, o país precisa superar a fase da “exceção individual”.

  1. Sustentabilidade de Redes: Precisamos de mais instituições brasileiras com capacidade de articulação internacional permanente, diminuindo a dependência de convites externos.
  2. Políticas de Estado: A internacionalização da arte não pode ser um esforço isolado de curadores brilhantes; requer infraestrutura de fomento que entenda a cultura como um ativo estratégico de Soft Power.

3.3 O Futuro do Poder Brasileiro

Ter quatro nomes na lista é um sinal de prestígio, mas o verdadeiro sucesso será medido quando não precisarmos mais pedir licença para entrar nos rankings de “influência”. O Brasil tem o talento e a narrativa; o desafio agora é construir os próprios palcos para que o mundo venha até nós, e não o contrário.

A trajetória de Pedrosa, Paula, Fonseca e Souza prova que o Brasil já sabe o caminho. Agora, resta ao país dar o suporte estrutural para que esses quatro se transformem em quarenta.

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