Movimentos

Cubismo: a arte bidimensional que fez sucesso pelas suas formas


Cubismo foi o nome dado ao estilo de artes visuais altamente influente do século XX, criado principalmente pelos artistas Pablo Picasso e Georges Braque em Paris entre 1907 e 1914.

O estilo cubista enfatizou a superfície plana e bidimensional do plano da imagem, rejeitando as técnicas tradicionais de perspectiva, modelagem, claro-escuro e refutando teorias consagradas pelo tempo, como a de que a arte deveria imitar a natureza.

Os pintores cubistas não eram obrigados a copiar forma, textura, cor e espaço, em vez disso, eles apresentaram uma nova realidade nas pinturas que retratavam objetos radicalmente fragmentados.


1. Origem do termo “cubismo”

O cubismo derivou seu nome das observações feitas pelo crítico Louis Vauxcelles, que descreveu ironicamente a obra de Braque de 1908, Houses at L’Estaque, como sendo composta de cubos.

Georges Braque| Maisons à l’Estaque (Houses at L’Estaque), 1908.
oil on canvas, 73×59.5cm, Kunst Museum Bern.

Na pintura de Braque, os volumes das casas, as formas cilíndricas das árvores e o esquema de cores marrom e verde são uma reminiscência das paisagens de Paul Cézanne, que inspiraram profundamente os cubistas em seu primeiro estágio de desenvolvimento (até 1909).

No entanto, foi Les Demoiselles d’Avignon, pintada por Picasso em 1907, que proporcionou notoriedade e inaugurou o novo estilo. Neste quadro, as formas de cinco nus femininos se tornam formas angulares e fraturadas. Como na arte de Cézanne, a perspectiva dada através da cor, com os marrons avermelhados quentes avançando e os azuis frios retrocedendo.

Nessa obra, Pablo Picasso também foi inspirado pelas máscaras tribais africanas, altamente estilizadas ou não naturalistas, mas que, no entanto, apresentam uma imagem humana vívida. “Uma cabeça”, disse Picasso, “é uma questão de olhos, nariz, boca, que podem ser distribuídos da maneira que você quiser”.

Pablo Picasso | Les Demoiselles d’Avignon, 1907.
© 2019 Estate of Pablo Picasso / Artists Rights Society (ARS), New York.

2. A ilusão de espaço


Desde o Renascimento, no século XV, os artistas europeus pretendiam criar a ilusão do espaço tridimensional em seus desenhos e pinturas. Eles queriam que a experiência de olhar para uma pintura fosse como olhar através de uma janela para uma paisagem, interior, pessoa ou objeto real.

Mas como os artistas cubistas faziam as coisas parecerem tridimensionais em uma superfície bidimensional? Técnicas como perspectiva linear e gradação de tons eram usadas. A perspectiva envolve tornar as coisas maiores e mais claras quando estão próximas, e menores e menos claras quando estão mais distantes. Ao fazer isso, os artistas criavam a ilusão de espaço.

Eles também começaram a usar tons (sombras) para criar a ilusão de objetos tridimensionais, alterando gradualmente a escuridão da sombra para fazer com que algo pareça sólido.

Esses desenhos de J.M.W Turner mostram como perspectiva e tom (ou sombra) eram usados para criar a ilusão de objetos tridimensionais sólidos e reais.


3. Tipos de cubismo: analítico vs. sintético

Cubismo analítico

O desenvolvimento do movimento de 1910 a 1912 é frequentemente chamado de cubismo analítico.

Durante esse período, as obras de Picasso e Braque tornaram-se tão semelhantes que suas pinturas são quase indistinguíveis. Pinturas cubistas analíticas de ambos os artistas mostram a quebra, ou análise, da forma.

Picasso e Braque eram a favor da construção em ângulo reto e em linha reta, embora ocasionalmente algumas áreas de suas pinturas pareçam esculturais, como em A Garota com um Bandolim de Picasso (1910).

Eles simplificaram seus esquemas de cores em uma escala quase monocromática (tons distintos de marrom, cinza, creme, verde ou azul) para não distrair o espectador do interesse principal do artista, ou seja, a estrutura da própria forma.

O esquema de cores monocromático foi adequado para a apresentação de vistas complexas e múltiplas do objeto, que foram reduzidas a planos opacos e transparentes sobrepostos. Esses planos parecem se mover além da superfície da tela, em vez de recuar em profundidade.

As formas são geralmente compactas e densas no centro de uma pintura analítica cubista, aumentando à medida que se difundem em direção às bordas da tela, como no Portrait of Ambroise Vollard (1909–1010), de Picasso.

Em seus trabalhos desse período, Picasso e Braque frequentemente combinavam motivos representacionais com letras, seus motivos favoritos eram instrumentos musicais, garrafas, jarros, copos, jornais, o rosto e a figura humana.


Cubismo sintético

O cubismo sintético é a fase posterior do cubismo, geralmente considerada entre 1912 e 1914, e caracterizada por formas mais simples e cores mais brilhantes.

Os trabalhos desta fase enfatizam a combinação, ou síntese, de formas na figura. A cor assume um forte papel nesses trabalhos, enquanto as formas permanecem fragmentadas e planas, mas são maiores e mais decorativas.

Superfícies lisas e ásperas podem ser contrastadas entre si, e frequentemente materiais estranhos, como jornais ou embalagens de tabaco, são colados na tela em combinação com áreas pintadas. Essa técnica, conhecida como colagem, enfatiza ainda mais as diferenças de textura e, ao mesmo tempo, coloca a questão do que é realidade e do que é ilusão. A inclusão de objetos reais diretamente na arte foi o início de uma das ideias mais importantes da arte moderna.


4. O cubismo para além de Picasso e Braque

Enquanto Picasso e Braque são creditados com a criação dessa nova linguagem visual, ela foi adotada e desenvolvida por muitos pintores, incluindo Fernand Léger, Robert e Sonia Delaunay, Juan Gris, Roger de la Fresnaye, Marcel Duchamp, Albert Gleizes e Jean Metzinger.

Embora associado principalmente à pintura, o cubismo também exerceu uma influência profunda na arquitetura e escultura do século XX. Os principais escultores cubistas foram Alexander Archipenko, Raymond Duchamp-Villon e Jacques Lipchitz.

A adoção da estética cubista pelo arquiteto suíço Le Corbusier se reflete nas formas das casas que ele projetou durante a década de 1920.


5. Análise de obras cubistas

Jean Metzinger | Tea Time (1911)

Quando essa pintura foi exibida no Salon d’Automne de 1911, o crítico Andre Salmon a chamou de “A Mona Lisa do Cubismo”.

Jean Metzinger | Tea Time, 1911.
Oil on Cardboard – Philadelphia Museum of Art.

Enquanto Picasso e Braque desmaterializavam figuras e objetos em suas obras, Metzinger permaneceu comprometido com a legibilidade, reconciliando modernidade com classicismo, daí o apelido de Salmon para a obra. Apesar do realismo da pintura, como outros cubistas, Metzinger abandona o ponto de vista único em uso desde o Renascimento.

A figura feminina e os elementos da natureza morta são mostrados de ângulos diferentes, como se o artista tivesse se movido fisicamente ao redor do objeto para capturá-lo de múltiplos pontos de vista em momentos sucessivos no tempo. A xícara de chá é mostrada em ambos os perfis e de cima, enquanto a figura da mulher posicionada centralmente é mostrada diretamente e de perfil.

A pintura foi reproduzida no livro Du Cubisme (1912), de Metzinger e Gleizes, e em The Cubist Painters (1913), de Apollinaire. O trabalho ficou mais conhecido na época do que qualquer trabalho de Picasso ou Braque, que se afastaram do público por não expor no Salon.

Para a maioria das pessoas na década de 1910, o cubismo estava associado a artistas como Metzinger, e não a seus criadores, Picasso ou Braque.


Juan Gris | Still Life with Open Window, Rue Ravignan (1915)

No Salão Cubista, o trabalho de Juan Gris é frequentemente considerado o mais próximo do de Picasso e Braque, artistas proximos de Gris desde 1911. Em 1914, Gris havia desenvolvido técnicas de colagem nas quais colava elementos de jornais e revistas desconstruídas, cenas abstratas.

Às vezes, suas obras eram colagens reais, mas também podiam ser pinturas que se assemelhavam a colagens como em Still Life with Open Window. Neste trabalho, Gris combinou vistas interiores e exteriores através de elementos entrelaçados e mudanças sutis de cor, incluindo um azul intenso que impregna o trabalho e, como o cubismo sintético, reintroduz a cor no estilo cubista.

Uma natureza-morta em primeiro plano apresenta elementos tradicionais, como um livro, uma jarra e uma garrafa de vinho em uma mesa virada para cima. Esses objetos são refratados através de raios de luz colorida da janela aberta que trazem as casas e as árvores vizinhas para a composição. A luz elétrica interna contrasta com a cena iluminada pela lua do lado de fora da janela.

As composições de Gris eram mais calculistas do que as de outros cubistas. Todos os elementos da composição tipo grade foram refinados para produzir um arranjo de intertravamento sem detalhes desnecessários. Dentro da grade, Gris equilibra diferentes áreas do trabalho: claro para escuro, monocromático para cores, e luz de lâmpada dentro da sala para a luz da lua do lado de fora. O espectador percebe a natureza morta como ela existe em seus arredores.


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