Mimas III
Baró GaleriaMimas III
O planeta Terra, junto com os outros constituintes do Sistema Solar, se formou há cerca de 4,6 bilhões de anos a partir da aglutinação de poeira cósmica e partículas que compunham uma nebulosa de gás e poeira em lenta rotação. Só conhecemos um pouco esse processo – e conseguimos supor algumas periodizações acerca do mesmo – a partir do estudo da composição química e mineralógica de rochas e meteoritos encontrados em superfície.
Esses fragmentos rochosos são testemunhos de uma história que escapa – e muito – a escala da vida humana. O surgimento de nosso planeta foi, porém, desde sempre, objeto de curiosidade pelas civilizações antigas, e o termo planeta, criado pelos gregos, designa um corpo celeste errante, cuja origem é objeto de hipóteses e mitos.
Reflexões
A vida começa a aparecer no planeta Terra há 3 ,5 bilhões de anos: dos organismos menos complexos até homo sapiens sapiens passaram-se milhões de anos. O ser humano, porém, ao habitar o planeta Terra, apropria-se e constrói o seu mundo, um mundo da vida (Lebenswelt ).
Nesse mundo, habitamos, compartilhamos experiências, construímos nossas casas, vilarejos e cidades e vivemos em sociedades culturalmente e politicamente diferentes. O conceito de mundo liga-se a experiência humana na superfície do planeta e, sobretudo, a linguagem. “A linguagem faz mundo (….) e o mundo é o que são todas as coisas fora de nós e ali onde propriamente estamos – está ali onde elas estão e onde podemos pensá-las todas” (Wolff, 1999).
A rocha coloca-se em um precioso lugar entre o planeta e o mundo: nela, a natureza e toda a dinâmica das camadas mais profundas do planeta estão contidas, mas, ao mesmo tempo, ela toca e está conosco em nosso mundo. Ao nos perguntarmos se a rocha possui um mundo, ou se ela é parte do nosso, podemos responder que ela se faz presente enquanto mundo.
Miragem de Amanda Mei
O trabalho de Amanda Mei, apresentado na mostra individual Miragem , coloca-se, como a rocha, no limiar entre o mundo e o planeta. A rocha é, ela mesma, objeto da pesquisa de artista: em alguns trabalhos, ela cria, em papelão, rochas que, empilhadas, formam hermas de caráter quase escultórico, no qual se revela o interesse da artista pela matéria rochosa esculpida pelos processos geológicos naturais e por sua forma.
A herma ‘rochosa’ que compõe o trabalho Eclipse é posicionada a frente de uma figura ovóide monocromática, e, nessa justaposição, a artista nos coloca diante de uma metáfora sobre o surgimento do planeta Terra e da vida, sintetizados pela forma do ovo e de sua relação com a rocha. O termo Eclipse remete ainda aos jogos de visualidade – aparição e desaparecimento – existentes na relação do espectador com o trabalho: a herma se coloca como um anteparo diante da forma oval e o espectador é convidado a olhar o trabalho a partir de diversas posições.
Em Bipolar Nebula, título que remete ao formato axial simétrico de um tipo de nebulosa, Amanda Mei explora a irregular geometria produzida pelos processos geomorfológicos. Toda rocha guarda, em si mesma, assimetrias e imperfeições, e, em Bipolar Nebula, uma rocha desenhada diretamente na parede do espaço expositivo, tais irregularidades são reveladas pelas linhas traçadas pelas mãos da artista. A imperfeição permeia o microcosmo dos trabalhos presentes na mostra: a artista não nos deixa esquecer que a simetria não existe na natureza – salvo raras exceções.
Amanda Mei
Nasceu em São Paulo, Brasil, 1980. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Iniciou sua pesquisa com fotografias, objetos e pinturas que misturam diferentes elementos e tipos de materiais como: madeira, papelão, pedra e concreto.
Em sua produção, lida com questões próprias à linguagem escultórica e pictórica através de instalações e site-specifics que incorporam a arquitetura local.
Investiga a relação contemporânea entre a natureza e o homem, através dos materiais de descarte/ demolição e as circunstâncias que tencionam a relação entre uma arquitetura projetada e orgânica.
Foi contemplada com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015, o edital Rumos Itaú Cultural, Prêmio Artes Visuais no 17ª Festival Cultura Inglesa, Prêmio para Projetos de Pesquisa e Produção em Artes Plásticas no 48º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, Energisa Artes Visuais em João Pessoa.
Também foi residente na Cité International Des Arts, em Paris e RedBull Station, em São Paulo. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Acordos, desvios ou diálogos (galeria Flávio de Carvalho, Funarte, SP, 2017), Sobre a demolição da Terra (Arte Hall, SP, 2015), Resíduos, Rastros e Relíquias (Centro Cultural Britânico, SP, 2013), Como fazer tempo com sobras (Galeria TAC, RJ, 2010) e As Sobras e Desconstruções (Caixa Cultural, SP, 2010).
Baró Galeria
A Baró galeria foi fundada em 2010, traz uma nova proposta para o público brasileiro e está fazendo o mesmo na Europa, com a sua presença no circuito de feiras internacionais, apresentando artistas de diferentes gerações e continentes em um fluxo constante de ideias e obras que proporcionam uma troca maior entre o velho e o novo mundo.
A Baró galeria nos últimos anos enfatizou os artistas dos anos 1970 e 1980, como o mexicano Felipe Ehrenberg, o argentino Roberto Jacoby, o filipino David Medalla e o paquistanês Rasheed Araeen, os dois últimos apresentados na Bienal de Veneza de 2017 e Documenta Kassel e Atenas (Araaen).
Esse modelo permite a convivência de artistas internacionais com uma equipe de artistas brasileiros como Almandrade, Lourival Cuquinha, Paulo Nenflídio, Maria Lynch, Amanda Mei, César Brandão, Josafá Neves, Felippe Moraes entre outros.
O objetivo da galeria é ir além de um modelo de representação restrita, com uma seleção eclética de artistas baseada na qualidade de suas pesquisas. A Baró galeria também representa importantes artistas europeus e americanos no cenário internacional, como o emergente artista americano Daniel Arsham e o aclamado pintor checo Jirí Georg Dokoupil