A crise na arte e a transparência da existência humana
A arte nas suas infinitas potencialidades tem grande capacidade em proporcionar multifacetadas interpretações da realidade humana em profundidade por justamente permitir reflexões e confrontos. A liberdade de criar é uma necessidade básica, existencial para a humanidade, refletindo toda a cultura de uma época.
Num momento em que o Brasil passa por uma crise gigantesca, a arte sofre ataques de grupos radicais que pretendem calar a liberdade, o grito da alma, impondo censura a qualquer manifestação artística que não se encaixa no perfil de moralistas de plantão, ignorantes de carteirinha, que espalham inverdades, pessoas desconectadas com a verdadeira dimensão da arte, limitadas num provincianismo doentio.
Recentemente foi aberta a importante mostra “Histórias da Sexualidade” no Museu de Arte de São Paulo, mas um detalhe chama a atenção, a exposição é proibida para menores de 18 anos, assim como o próprio catálogo, uma atitude totalmente inoportuna, bastaria ter um aviso com indicação etária. Em 70 anos de existência o Masp jamais enveredou por um caminho tão restritivo, medo talvez de represálias de grupos ressurgidos das trevas.
Ocupando três espaços, a exposição é formada por mais de 300 obras, concebidas por 130 artistas de diversos momentos marcantes da história da arte. Nomes famosos como Edgar Degas, Picasso, Francis Bacon, Louise Bourgeois, Robert Mapplethorpe, Balthus, Paul Gauguin, Edouard Manet, Ingres, Egon Schiele, Marta Minujin, Vicente do Rego Monteiro, Anita Malfatti, Leda Catunda, Flavio de Carvalho, Victor Meirelles, Eliseu Visconti, Vania Toledo, Hudinilson Jr., Erika Verzutti, Regina Vater, Adir Sodré, Anna Bella Geiger, Jac Leirner, León Ferrari, entre alguns que fizeram uma incursão pelas diversas facetas da sexualidade em toda a sua complexidade. O temas propostos são: Corpos Nus, Totemismos, Voyeurismos, Linguagens, Performatividades de Gênero, Mercados Sexuais, Políticas do Corpo e Ativismos proporcionando uma ampla leitura e reflexões sobre a sexualidade na visão artística interpretando o comportamento humano em constantes confrontos. Uma exposição de excelente nível, faltando somente uma atitude mais firme da diretoria e da curadoria em defesa da liberdade de expressão sem nenhuma restrição, existe um retrocesso em curso.
Paralelamente, acontece a 46º edição da Chapel Art Show que completa 50 anos reunindo 149 artistas e mais de 550 obras, comemorando esse percurso notável foi lançado em uma edição requintada, um magnífico livro sobre o precioso acervo de obras que a Escola Chapel conservou ao longo dos anos, fruto de doações de artistas para o envolvimento cultural dos alunos e da própria equipe do tradicional centro de ensino.
Obras em Destaque
A atual mostra conta com 149 artistas e mais de 550 obras, o artista homenageado dessa edição é German Lorca, excepcional fotógrafo, que aos 95 anos em plena atividade, capta a poesia latente de cada imagem perscrutada por um olhar privilegiado. Estão expostas 75 fotografias, algumas seguindo antigas formas de impressão em sais de prata além de imagens raras, peças únicas como obras da fase em que Lorca esteve envolvido com o concretismo ao lado de Geraldo de Barros. Um trabalho, porém se destaca é “Mão na Porta” de 1976, feito na Espanha, exposto pela primeira vez, uma imagem de forte expressão poética.
A importância da Chapel Art Show é incontestável por proporcionar uma panorâmica da arte brasileira estimulando a formação artística dos alunos e contribuindo para o aprimoramento cultural. Destacam-se os artistas Celso Orsini, Almandrade, Athos Bulcão, Betina Samaia, Fabio Cardoso, Lucas Lencia, Sérvulo Esmeraldo, Dan Fialdini, Alex Cerveny, Fernanda Frangetto, Cassio Vasconcelos, Fernando Lemos, Fausto Chermont, Juan Esteves, Maria Villares, Saint Clair Cemin, Nelson Leirner entre tantos valores reconhecidos.
Finalmente, a Galeria Janaina Torres, uma instigante mostra de Sandra Mazzini ocupa o simpático espaço localizado na rua Joaquim Antunes, com pinturas extremamente elaboradas, num efeito lúdico em que o espectador se envolve num olhar bem atento percebendo sutilezas e requintes pictóricos.