O Movimento Armorial representa a dimensão da arte com as tradições populares imersas na ancestralidade de aspectos culturais essenciais na visão ampla do humanismo. Lançado em Recife por Ariano Suassuna (1927-2014) teve como objetivo principal unir uma arte erudita com as mais autenticas manifestações artísticas culturais populares das diversas regiões do Brasil, especialmente do Nordeste.
Realçar a brasilidade é o verdadeiro intuito da exposição em cartaz no CCBB-SP, Movimento Armorial 50 anos, que ocupa todos os espaços do belíssimo prédio, situado na rua Alvares Penteado.
Curiosamente, o Movimento nasceu de um poema Canto Armorial de 1950, no qual Ariano Suassuna utilizou pela primeira vez a palavra que identificaria o Armorial, batizado em 18 de outubro de 1970, conhecido tanto no Brasil como no exterior.
Arte brasileira envolta em raízes da cultura popular, mas essencialmente erudita e universal por excelência, se conecta com os diversos gêneros de arte como Literatura, Pintura, Dança, Música e Teatro.
Um dos pontos cruciais para se compreender a força expressiva do movimento é o Romanceiro Popular do Nordeste, vivenciado na literatura de Cordel, na música, na xilogravura e nos espetáculos populares, como o Reisado, o Maracatu entre várias manifestações.
A atual mostra, idealizada por Regina Godoy com curadoria de Denise Mattar, é dividida em quatro núcleos: a primeira parte relata a cronologia de Ariano Suassuna, seus poemas, livros, manuscritos, vídeos propondo uma visão ampla do seu criativo percurso.
No núcleo seguinte, denominado Armorial Fase Experimental, o visitante poderá admirar as obras de Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Lourdes Magalhães, Fernando Barbosa além de uma Sala Especial de Gilvan Samico (1928-2013), reunindo xilogravuras e pinturas jamais expostas. Por outro lado o trabalho da Orquestra Armorial e do Quinteto Armorial que tem como proposta produzir uma música de câmara erudita com um fluxo popular obteve reconhecimento e sucesso, se posicionando como referência de alto nível. O Teatro com toda sua força expressiva é representado por figurinos desenhados por Francisco Brennand, utilizados para a primeira versão cinematográfica da peça Auto da Compadecida, deve-se levar em conta que parte das peças foi recriada para a mostra pela figurinista Flávia Rossette, uma visão alucinante e lúdica de personagens marcantes.
No mesmo Núcleo estão expostas as iluminogravuras de Ariano Suassuna, nos quais existe a integração do seu lado escritor com o veio de artista plástico. Os álbuns produzidos na década de 80 como: “Dez Sonetos com Mote Alheio” (1980) e “Sonetos de Alberto Cervonegro” (1985). Nesse setor as obras de Zélia Suassuna estão em destaque ao lado de fotos das Ilumiaras, espaços dominados pela arte e cultura, que encantam os observadores. O conjunto Armorial Hoje e Sempre também ocupa lugar especial, apesar do Armorial não existir mais como movimento, o seu conceito e estética influenciaram a arte contemporânea em artistas como Manuel Dantas Suassuna e Romero de Andrade Lima, na Dança com o Grupo Grial, no cinema e na televisão, em autores como João Falcão, diretores como Guel Arraes e Luiz Fernando Carvalho, e atores como Antonio Nobrega.
O último Núcleo, Armorial – Referencias, destaca as fontes que Ariano se baseou para o incremento do movimento como o cordel e as festas populares. Talhas e xilogravuras dos mais importantes artistas do cordel como: J.Borges, João de Barros, José Costa Leite, Mestre Dila e Mestre Noza, permitem ao visitante avaliar um universo cordelista amplo. Completando o núcleo, o visitante se defronta com as festas populares, suas características estão documentadas pelos figurinos, estandartes, vídeos e fotos do Reisado, Maracatu e Cavalo Marinho.
A exposição realça a obra visionária de um autor que resgatou as raízes brasileiras promovendo a importância da diversidade, das tradições étnicas negras, indígenas e europeias, dando uma visão positiva, lúdica de uma sociedade aberta e não dividida.
Interessante frisar que logo na entrada da mostra, uma peça antológica se destaca, a Onça Caetana que representa uma das formas assumidas pela morte no universo de Ariano, visualizando-a na forma de uma jovem mulher, “a moça Caetana”. Ariano desenhou diversas versões da Onça Caetana, mas a escolhida para ser produzida tridimensionalmente por bonequeiros de Belo Horizonte, foi a que se encontra estrategicamente posicionada no meio do piso térreo, atraindo a atenção dos visitantes e proporcionando um envolvimento lúdico com o mundo ficcional do grande escritor sertanejo.
Uma oportuna homenagem aos 50 anos de um movimento essencial para se compreender a dimensão cultural de um país multifacetado a ser valorizado em todos os níveis.
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