Opinião

Queermuseu: Arte, fonte de reflexão

Por José Henrique Fabre Rolim - outubro 2, 2017
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Desde os mais remotos tempos o ser humano sempre se expressou pela arte, é a única forma de se compreender a nossa própria complexidade. A arte proporciona reflexões, provoca polemicas, rompe barreiras, eleva o espírito, critica comportamentos, questiona valores, faz releitura histórica, espelha conflitos íntimos e universais, proporciona prazer estético, retrata a fragilidade humana, proporciona incursões pelos malefícios da sociedade contemporânea, confronta os valores morais, inova, busca novas poéticas, novos suportes, utiliza tecnologias avançadas, é visionária por essência, abre perspectivas interpretativas, conecta as pessoas, é comunicação, é profundamente participativa, representa uma época e é pura emoção entre tantas facetas.

Recentemente, o cancelamento da exposição “Queermuseu – Cartografia da diferença na arte brasileira”, iniciativa lamentável do Santander Cultural de Porto Alegre, uma censura provocada pela mediocridade de grupos que protestaram alegando que certas obras eram desrespeitosas, desconhecendo totalmente que a arte provoca reflexões e leituras diversas, a liberdade de expressão é essencial para uma sociedade evoluída.

Felizmente, a mostra está sendo negociada para ser trazida para o MAR Museu de Arte do Rio de Janeiro, reunindo mais de 270 obras, entre pinturas, gravuras, fotografias, colagens, esculturas, cerâmicas e vídeos provenientes de importantes coleções públicas e privadas, espelhando a diversidade de expressão de gênero. Adriana Varejão, Alfredo Volpi, Portinari, Clovis Graciano, Lygia Clark, Hudinilson Jr, são alguns do nomes da arte brasileira que expressam a multifacetada cultura nacional com todas as nuances da complexidade vivencial. As acusações dos falsos moralistas que nem acompanham o movimento artístico nacional, não frequentam mostras em museus em galerias ou espaços alternativos, desconhecem o percurso dos artistas e afirmam que certas obras representam imoralidade, blasfêmia, apologia à zoofilia e à pedofilia, atestam uma total ignorância da arte em toda sua dimensão, ficariam horrorizados com a arte grega ou a arte romana, só par citar dois exemplos. Ignorância e censura sempre caminharam juntas, devemos nos libertar das trevas, buscando na arte a expressão e a reflexão nas suas infinitas representações.

Um abaixo assinado circula na internet com mais de 70 mil assinaturas em defesa da liberdade, refutando as acusações descabidas desses “especialistas em arte”. Muitas obras que participam da mostra já foram expostas em outras ocasiões e são bem conhecidas, algumas publicadas em livros e catálogos dos artistas acusados indevidamente.

Outro lamentável fato aconteceu resultado do olhar maldoso por parte dos falsos moralistas que acusaram a performance “La Bête” ocorrida no 35º Panorama de Arte Brasileira do MAM, como uma manifestação perniciosa do artista fluminense Wagner Schwartz que se apresentou nu fazendo uma leitura interpretativa da obra O Bicho de Lygia Clark. Os espectadores apreciaram a representação, entre as quais uma menina pequena ao lado da mãe, nada de mais aconteceu, nenhum incentivo à pedofilia, simplesmente uma forma de expressão artística. Infelizmente predomina em algumas mentes uma visão retrógrada com uma formação cultural deficitária, facilmente comprovada pelas redes sociais.

Por outro lado para compensar esse período tenebroso aconteceu a abertura do IMS (Instituto Moreira Salles) na Avenida Paulista, um projeto arquitetônico extremamente arrojado que aproveitou muito bem o terreno estreito criando um espaço privilegiado para os frequentadores com uma programação bem diversificada, a mostra de Robert Frank com a série “Os Americanos” reunindo 83 fotografias de uma viagem pelos Estados Unidos é bem impactante. Na Galeria 2, a exposição Corpo a Corpo exibe vídeos e fotos de artistas brasileiros como Barbara Wagner e Sofia Borges além de coletivos como Garapa. Na Galeria 1 é apresentada a videoinstalação de The Clock de Christian Marclay, com 24 horas de duração. No Estúdio, o público tem acesso digital ao acervo da instituição, com a projeção de São Paulo: Três Ensaios Visuais.

O projeto da sede é do Escritório Andrade Morettin Arquitetos que desenvolveu conceitos sustentáveis na elaboração de toda a estrutura, facilitando a circulação dos visitantes.

O SESC por sua vez abriu a sua magnífica unidade na rua 24 de maio, onde antigamente era a Mesbla. Fabulosa iniciativa com conceito arquitetônico assinado por Paulo Mendes da Rocha que visa sobretudo recuperar o degradado centro de São Paulo, proporcionando uma série de atividades, atraindo um público bem amplo, criando mais um polo cultural incentivando a propagação da arte e a sua compreensão entre tantos outros objetivos.

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Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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