Opinião

50 anos de realismo: As nuances da arte em incursões atuais

Por José Henrique Fabre Rolim - novembro 19, 2018
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As incursões pelo movimentos artísticos marcantes sempre revelam facetas inusitadas, refletem a complexa visão do homem sobre suas potencialidades e conquistas abrangendo até tecnologia de ponta.

A exposição “50 anos de Realismo – Do Fotorrealismo à Realidade Virtual” aberta recentemente no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) possibilita uma leitura ágil dessa linha exponencial da arte contemporânea.

Reunindo 90 obras de 30 artistas, tanto brasileiros como estrangeiros, o visitante se defronta com propostas marcantes do fotorrealismo, do hiper-realismo e da realidade virtual.

O realismo pode ser considerado uma corrente que se manifestou desde o século XVII em reação ao maneirismo (Caravaggio na Itália, Bartolomé Esteban Murillo, José de Ribera e Diego Velásquez na Espanha, Frans Hals e Johannes Vermeer na Holanda, Louis Le Nain entre outros pintores da realidade na França) com notáveis pinturas. O realismo é definido como corrente literária e artística da segunda metade do século XIX que privilegia a representação exata, não idealizada, da realidade humana e social. O tema em si é empolgante, numa visão diversa, o realismo socialista foi um doutrina estética, proclamada na União Soviética em 1934, sobre a influência determinante do ideólogo estalinista Andrei Jdanov, que condenava as pesquisas formais e tinha uma atitude crítica no que concerne à sociedade.

O termo realismo designava particularmente uma tendência na França em meados do século XIX. Manifestava uma dupla reação contra o classicismo acadêmico e as aspirações românticas, marcada por diversas influencias. A Escola de Barbizon foi um marco, os pintores realizavam suas obras em pleno ar livre (en plein air), mas a aproximação das ideias positivistas com o próprio socialismo que florescia incitava Gustave Courbet a privilegiar a vulgaridade do cotidiano, enquanto Jean-Franços Millet se dedicava a paisagens e Honoré Daumier pintava o povo de Paris. Num clima de naturalismo proposto por Émile Zola, despontam Édouard Manet e Edgard Degas numa via divergente, aquela do impressionismo.

Na Europa, a corrente realista se espalha por diversos países entre 1860 e 1890, com os pintores da Escola de Haia, além do alemão Adolph Menzel, do belga Constantin Meunier, dos macchiaioli italianos e do russo Ilya Repin entre tantos valores.  Por outro lado o realismo capta uma nuance insólita de violência com a Nova Objetividade (de 1920 a 1933), destacando-se os alemães Max Beckmann, Otto Dix, Georg Grosz ou de precisão fotográfica (hiper-realismo do final dos anos 60, por obra de pintores como Edward Hopper. Quando ao Novo Realismo europeu surgido nos anos 60, o amago do movimento se delineava em novas abordagens receptivas do real reunindo artistas como Arman, César, Christo, Yves Klein, Martial Raysse, Niki de Saint-Phalle, Daniel Spoerri, Jean Tinguely , entre tantos consagrados. Era um movimento contemporâneo da pop art visando captar o mundo atual na sua realidade sociológica especialmente urbana, se expressando notadamente por uma arte de assemblage (Raysse, Spoerri) e de acumulação de objetos (Arman). Nota-se que na 7º Bienal Internacional de São Paulo (1963), o Novo Realismo teve grande repercussão, na ocasião Waldemar Cordeiro se aproximou de Pierre Restany, um dos idealizadores do movimento.

O realismo portanto permite uma série de incursões por movimentos que marcaram a arte, influenciando várias gerações. A mostra no CCBB focaliza aspectos do fotorrealismo, pinturas que se baseiam na cena fotográfica, que surgiu nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, uma reação ao abstracionismo. O hiper-realismo se tornou uma tendência pictórica nos anos 70, tendo como característica ser mais perfeita que a própria fotografia. Essa tendência persiste na tridimensionalidade como no caso de esculturas ou na própria realidade virtual, realidade expandida e realidade mista que conecta as mais avançadas tecnologias.

Obras que dialogam com o espectador de formas diversas, num ritmo lúdico que proporciona confrontos estéticos e sensoriais. Pinturas, esculturas, vídeos e instalações compondo um conjunto revelador de nuances inovadoras vinculadas com tecnologia e sensibilidade.

Na foto e no hiper-realismo se destacam John Salt, Ralph Goings, Ben Johnson com pinturas de grandes dimensões, Raphaella Spence e suas cenas naturais e Hildebrando de Castro destacando a geometria em fachadas de prédios.

Giovani Caramello é o único brasileiro com produção escultural com uma visão hiper-realista, abordando o tempo e a fragilidade humana.

John De Andrea cria figuras de um realismo impressionante, chega-se a sentir uma presença humana incontestável.

Peter Land com uma pitada de humor capta padrões comportamentais humanos curiosos.

A realidade virtual ocupa o primeiro andar e o subsolo com obras de Akihiko Taniguchi, Bianca Kennedy, Fiona Valentine Thomann e Regina Silveira com um vídeo de animação digital.

A mostra é extremamente oportuna para se compreender as conexões existentes entre períodos diversos que se acoplam na definição dos rumos da arte atual.

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Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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