Opinião

Congresso Modernismos: para lá e para cá


As comemorações do centenário da Semana de 22, ocorrida no Theatro Municipal de São Paulo, estão programadas para o próximo ano, vários eventos ocorrerão e muitas releituras do movimento modernista estarão em pauta, propondo reflexões e confrontos sobre uma revolução cultural que definiu novos desafios nas artes.

Envolto nessa busca, mas ampliando as suas perspectivas, um encontro cultural entre Brasil e Portugal foi o ponto chave de um congresso que aquilatou a importância do modernismo em ambos os países, abrangendo a arte em todos os seus aspectos, uma dimensão ampla das afinidades e dos confrontos.

Organizado por Dalton Sala e Mila Simões de Abreu, com o apoio da Associação Alter Ibi e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o evento cobriu aspectos importantes entre os Movimentos Modernistas dos dois países, em momentos diversos refletindo contextos políticos e sociais relacionado com as transformações culturais que aconteciam em países europeus e americanos.

Nota-se que alguns temas foram abordados de forma bem conectada com os momentos cruciais da história recente de Portugal e Brasil abrangendo períodos conturbados, precisamente nos regimes de força de Getúlio Vargas e Antônio de Oliveira Salazar.

O congresso foi aberto com uma conferência bem documentada, uma análise sobre Arquitetura, Patrimônio Cultural e Modernismos proferida por Dalton Sala, um grande estudioso. Na sequência, Laura Afonso e Mila Simões proferiram uma conferência sobre Nadir Afonso, arquiteto, pintor e pensador português, que trabalhou com Le Corbusier em Paris e Oscar Niemeyer em São Paulo, colaborando na criação do Parque do Ibirapuera, sendo também um dos pioneiros da arte cinética tendo realizado obras marcantes ao lado de Victor Vasarely, Fernand Léger, August Herbin e André Bloc.

Foto: Dalton Sala

Outros temas foram colocados em destaque como a Construção do Brasil Relações com a Cultura Arquitetônica Portuguesa por Ana Vaz Milheiro. O Desenho de Lina Bo Bardi, fábula, política e poética por Luis Antônio Jorge. Azulejo no Modernismo entre a tradição e a inovação plástica – Arte de influências mútuas por Cláudia Matos Pereira e Luiz Jorge Gonçalves.

Aspectos curiosos e pouco abordados foram colocados em pauta com a apresentação do tema Modernidade e Tradição: A Invenção da Casa Portuguesa em Lúcio Costa por Margareth Escobar Ribas Lima, Rodrigo Mendes de Souza e Juliana Villela Junqueira.

As 21 palestras  e 8 comunicações aconteceram on line e presencialmente, nos  dias 1,2,3 e 4 de julho, os locais sede ocorreram em Boticas, Portugal e Recife, Pernambuco, Brasil, um evento extremamente importante contando com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Universidade de Coimbra, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a Universidade do Porto e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Fundação Nadir Afonso, Arte Agora, Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes, Museu Comune de Breno.

O temário abrangeu as áreas: Artes Visuais (Arquitetura, Pintura, Escultura, Arquitetura de Interiores, Desenhos de Objetos, Mobiliário e Vestuário, Artes Decorativas, Festas e Performances e Crítica de Arte), Cultura (Patrimônio Histórico, História da Arte, Identidade Nacional e Políticas Culturais), Literatura (Poesia, Teatro, Romance e Conto, Crítica Literária), Música, Sessões de Debates e Mesas Redondas.

A abordagem de temas relacionados com a cultura despertaram reflexão e interesse por parte de estudiosos, como a conferencia sobre Modernismos e Gerações literárias por Alexandre Santos e Cláudio Aguiar.

Outro destaque do encontro foi a palestra dada por Laura Afonso sobre o Modernista Nadir Afonso, grande arquiteto que representa um ícone da modernidade. A projeção do filme “1965 Panreal, Um edifício de Nadir Afonso” ilustrou de forma clara e precisa a obra de um mestre, além é claro das considerações de José Paula Santos, Laura Afonso, Artur Afonso e Mila Simões de Abreu.

Projeto da Padaria Panreal. Créditos: Fundação Nadir Afonso

Percorrendo os pontos cruciais do evento destacaram-se as palestras de Federico Troletti (Gusto, architettura e decorazione della borghesia di Breno (Italia) tra ottocento e novecento), de José Eduardo Reis (Modernismo e Utopia), de Jorge Rodrigues (Arquitetura do Modernismo em Portugal: ela está no meio de nós), de Arthur Matuck, de Cristiane Buco (Releitura Modernista de vestígios arqueológicos: pesquisa interdisciplinar), de Maria Alice Milliet (Desafios da Modernidade – Família Gomide-Graz nas décadas de 1920 a 1930), de Gabriel Pedrosa (Quixote andante poesia) e de Catherine Otondo (Desenho e espaço construído: relações entre pensar e fazer na obra de Paulo Mendes da Rocha).

Uma panorâmica bem facetada dos aspectos culturais de dois países com muitas afinidades e diversidades na área da modernidade, um campo vasto para pesquisas e aprofundamentos, uma temática apaixonante que sempre revela algo novo, perspectivas históricas a refletir influencias notáveis na arte e na cultura dos dias atuais.


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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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