Opinião

Exposição Beatriz Milhazes: uma incursão lúdica


A esperada grande Exposição de Beatriz Milhazes, aberta no final do ano passado, ocupa duas importantes instituições, o MASP e o Itaú Cultural, reforçando a força do corredor cultural da Avenida Paulista, que por sinal é o título da incrível mostra que estimula a visão lúdica do espectador, são 200 obras que compõem a incursão pela sua produção nos dois espaços.

Tendo participado da importante mostra “Como vai você Geração 80”, em 1984, no Parque Lage, onde chegou a ser aluna e professora, Beatriz Milhazes trilhou um caminho notável se destacando como extremamente inovadora ao criar a técnica assim denominada por ela de monotransfer, que é na verdade uma aplicação de tinta acrílica em uma tira de plástico transparente, sendo em seguida introduzida na tela.

Uma espécie de decalque que lhe possibilitou uma infinidade de sobreposições com efeitos surpreendentes. A explosão de cores é uma das características de sua linguagem captando o dinamismo das tradições carnavalescas do Rio acoplando resquícios da cultura indígena com o frescor de Matisse e Tarsila depois de ter se conectado a magia do barroco. Outras referências marcantes sentidas por Beatriz abrangem Bridget Riley, artista inglesa expressão da pop art, e Sonia Dalaunay, pintora ucraniana que revolucionou a cenografia, a moda e o design.



A exposição

As obras primam estruturalmente por um racionalismo geométrico enraizado no concretismo e no minimalismo rompendo barreiras ao desenvolver uma reflexão da arte em cada confronto de formas almejando uma harmonia intensamente vibrante. A cor é fundamental, para Beatriz, tendo até se definido como carnavalesca conceitual.

O seu trabalho está visceralmente ligado ao Rio de Janeiro, as cores transmitem a diversidade cultural de uma cidade que é a síntese da brasilidade, envolta num ritmo musical que contagia a todos, do chorinho ao samba, da bossa nova ao carnaval, enfim uma abrangência imensurável de criatividade. 

A sua obra alia as experiências cromáticas desenvolvidas por várias tendências artísticas, introduzindo um movimento de formas, em certo sentido prazeroso, espelhando um fluxo intimista nas infinitas elaborações composicionais.

O percurso da artista é mostrado na Exposição Beatriz Milhazes e ela se posiciona no panorama internacional, tendo conquistado reconhecimento por ter crido uma linguagem própria   envolta na paisagem, na flora e na fauna dos trópicos, definindo uma postura que enaltece a brasilidade e a luz do Rio com a essência formal do Barroco.



O seu processo de criação se estrutura na colagem, com materiais básicos de pintura. Pinta os seus temas com tinta acrílica sobre um plástico, depois de certo tempo, essa tinta se torna uma película, que é colada sobre a tela. No momento em que a película estiver seca, o plástico é retirado. Os resultados são sempre surpreendentes: dependendo da espessura da película, as imagens se acoplam em dimensões enaltecedoras da exuberância das cores e das formas.

No Itaú Cultural, o espectador poderá admirar gravuras e colagens de diferentes fases da sua carreira, reunindo 79 obras, tendo como destaque a gravura “Dovetail”, de 2019, a maior já concebida pela artista, com dois metros de comprimento.

No MASP, estão expostas pinturas e esculturas, porém, as telas são de grandes dimensões, estão em cavaletes criados com base nos originais de Lina Bo Bardi. A artista chegou a produzir a tela “Avenida Paulista” visando doar ao acervo da instituição.

Deve ser destacado que no 2º subsolo da Exposição Beatriz Milhazes, onde estão expostos 50 pinturas em grandes dimensões dispostas em cavaletes, o visitante pode admirar uma escultura que pende do teto, denominada “Gamboa”, que envolve o espaço, onde foi instalado um piso de linóleo, uma referência à dança, aliás, a artista colabora com as requintadas produções da companhia de dança de sua irmã Márcia Milhazes, que fará apresentações no próximo ano, no privilegiado espaço expositivo.



A produção de Beatriz é pequena: por ser extremamente artesanal, requer certa paciência e atualmente tem realizado gravuras; a demanda por sua obra é grande, os colecionadores antenados sempre buscam adquirir pinturas ou colagens, ávidos por enriquecer seus acervos. Um caso que exemplifica bem a valorização de suas telas aconteceu com a obra “O Mágico”, adquirida por um colecionador espanhol numa individual em Madri, em 2001, por US$15.000, e que foi arrematada sete anos depois, em março de 2008, por US$1,049 milhão, num leilão na Sotheby’s, em Nova York, pelo investidor argentino Eduardo Constantini, um dos grandes colecionadores da América Latina.

Sua ascensão no mercado internacional é inquestionável, a exuberância das cores, a vibrante sintonia com a visão tropical atrai a atenção dos curadores e dos colecionadores internacionais, acoplando sensações simbólicas de carnavais passados arquivados na memória universal. Em 2012, uma outra tela, denominada “Meu Limão”, foi leiloada por US$2,1 milhões na Sotheby’s, a obra mais valiosa já vendida por uma artista brasileira. Suas obras fazem parte do acervo de importantes instituições americanas e europeias como o Museum of Modern Art (MoMa), em Nova York, e o Museu Reina Sofia, em Madri.



Um dos grandes apreciadores de sua obra é o colecionador alemão Benedikt Taschen, dono da prestigiosa Editora Taschen, que inclusive produziu um livro enfocando a sua arte. Beatriz criou um painel na sofisticada Livraria Taschen de Nova York, projeto do famoso designer Philippe Stark.

A ascensão de Beatriz se deve também à sua integração no circuito dos artistas exclusivos do marchand carioca João Sattamini, falecido, proprietário da Galeria Subdistrito, espaço dos mais ativos nos anos 80, em São Paulo. Seu posicionamento no panorama artístico foi meteórico, tendo conseguido ser capa da cultuada publicação “Art Now”, vol. 2, da Editora Taschen, e fez parte de um rol de 136 nomes da arte internacional contemporânea, publicados na primeira edição.


Exposição:

Distraídos VenceremosLocal: Sesc OsascoEndereço: Av. Sport Clube Corinthians, 1300 – Jardim das Flores Período expositivo: A partir de 12 de janeiro de 2021 Funcionamento: Terça a sexta, das 14h às 20h. Sábado, das 10h às 14hTempo de visitação: 30 minutosAgendamento de visitas: sescsp.org.br/osascoClassificação indicativa: Livre

Serviço:

Beatriz Milhazes: Avenida Paulista

  • Visitação no Itau Cultural – Piso: 1; -1 e -2
  • Endereço: Av. Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01311-000
  • Período expositivo: 12 de dezembro de 2020 a 30 de maio de 2021
  • Funcionamento: Terça à sexta | Horário: 13h às 19h & aos fins de semana e feriado, das 19h às 16h
  • As visitas podem ser agendadas sempre a partir das 9h das segundas-feiras no site: Sympla/agendamento

  • Visitação no MASP
  • Endereço: Av. Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01310-200
  • Período expositivo: 12 de dezembro de 2020 a 30 de maio de 2021
  • Funcionamento: Segunda: Fechado | Terça-feira – Horário: 10h às 20h (entrada até 19H30) | Quarta-feira – Horário: 13h às 19h (entrada até 18h30) | Quinta-feira – Horário: 13h às 19h (entrada até 18h30) | Sábado & Domingo: 10h às 18h (entrada até 17h30)
  • Entrada gratuita as terças.
  • As visitas podem ser agendadas no site do Masp.org.br

Veja também:


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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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