A ausência de pessoas negras nas instituições culturais é o assunto tratado no projeto Experiências Negras, idealizado pelas educadoras Jordana Braz e Luciara Ribeiro.
Ele consiste em encontros com profissionais negras e negros (educadores, produtores, pesquisadores, curadores e artistas); websérie e publicação com contribuições de convidados aos debates.
No Brasil, país erguido por mais de quatro milhões de africanos escravizados, a população negra enfrenta, ainda hoje, a desigualdade secular que limita direitos e restringe o acesso a espaços e oportunidades em todas as dimensões da vida.
No sistema das artes e nas instituições de cultura a mesma dinâmica se reflete, sendo o privilégio branco e a consequente diferença social marcada pela cor tão evidente quanto motivo urgente de reparação.
Entre os 2.443 artistas que figuram em 11 livros largamente utilizados em cursos de graduação de Artes Visuais no Brasil, apenas 22 são negros ou negras, dos quais nenhum é brasileiro, fato que revela não apenas a exclusão histórica, mas a continuação das narrativas únicas, pautadas por critérios de um grupo social predominante.
Por isso, é fundamental o papel das instituições de arte, que, por definição, devem provocar o que a cultura fortaleceu, romper com a repetição cega de certas crenças, apontar novas visões de mundo, e às vezes reinventá-lo. Isso é um grande desafio, pois as características estruturais que definem uma sociedade são profundas e complexas, no nosso caso, em primeiro plano, o racismo.
Em nossos programas, convidamos artistas e profissionais negras e negros para protagonizarem mediações, exposições, debates, cursos, oficinas, comissões de júri de nossos prêmios anuais, curadorias e outras contribuições de destaque. Entre as repercussões dessas iniciativas está a de Histórias Afro-Atlânticas, mostra realizada em parceria com o MASP, eleita a melhor exposição do mundo em 2018 pelo The New York Times.
Bloco escrito por: Felipe Arruda, diretor do Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake.
Por meio das pesquisas desenvolvidas, elaboramos processos de diálogo e ação para diversos públicos por meio de programas para professores, assistentes sociais, público escolar, artistas, especialistas e interessados em geral.
Atualmente, a equipe desenvolve experiências para diferentes públicos através de cursos, seminários, formações, grupos de estudos, parcerias, podcast, publicações, encontros, ateliês e outras práticas que, juntas, constroem parte da programação gratuita fornecida pelo Instituto Tomie Ohtake.
Experiências Negras, projeto que nasceu das pesquisas de Jordana Braz e Luciara Ribeiro, está integrado ao posicionamento do Instituto Tomie Ohtake de inserir em suas exposições, programação e na formulação das equipes pautas que ajam em favor de uma sociedade antirracista e participativa.
O projeto possui em sua origem o desejo de buscar e promover outras pesquisas, experiências de pessoas negras em terrenos originalmente brancocêntricos. No meio de tantas ausências, as educadoras-pesquisadoras perguntam pelas presenças de educadorxs, artistas e pensadorxs negrxs no campo das artes e em diálogo com as instituições culturais.
Por meio da criação de um espaço de partilha e abertura para outros protagonismos, os encontros produzem conhecimentos e reconhecimentos, além de publicações periódicas que contribuem para o debate e para as mudanças necessárias nos terrenos da cultura e da educação.
Bloco escrito por: Melina Martinho, coordenadora de Ação e Pesquisa Educativa do Instituto Tomie Ohtake.
O que significa falar de “experiências negras” em instituições culturais? O termo “experiência” é utilizado para nos referirmos às vivências que pessoas negras adquirem em circulações pelas instituições culturais.
Onde as experiências negras em uma instituição cultural são geradas?Geralmente, os profissionais negros que atuam em uma instituição cultural parecem seres solitários nas áreas de atuação com maior visibilidade e poder.
Porém, nos últimos anos, o debate sobre a presença e ausência de pessoas não brancas dentro das instituições culturais do país aumentou. No dia 24 de novembro de 2018, o Instituto Tomie Ohtake promoveu o evento “O corpo negro na prática educativa de museus e instituições culturais”, idealizado por Jordana Braz e Luciara Ribeiro, além disso, em novembro do mesmo ano o Instituto TomieOhtake, em parceria com o British Council e a Feira Preta, recebeu a instalação Race Cards, da artista inglesa Selina Thompson.
Inicialmente, a ideia de fazer o encontro surgiu por reflexões sobre o setor educativo, por ser a área que lida diretamente com os públicos e aplica conceitos relacionados às relações étnico-raciais, como a lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino das culturas e histórias africanas e afro-brasileiras em todos os âmbitos do ensino.
O intuito do projeto Experiências Negras é refletir a presença e permanência de profissionais negras nas instituições e compartilhar experiências realizadas em museus e instituições culturais, trazendo a desconstrução de práticas artísticas, curatoriais e educativas estruturalmente predominantes e a ressignificação das narrativas oficiais.
Apesar de um tema presente, as experiências negras em espaços institucionais ainda são poucas e enfrentam os desafios do racismo institucional, estrutural e diário para não serem apagadas.
A iniciativa desta publicação é compartilhar e discutir experiências educativas que têm como objetivos a desconstrução de práticas museais artísticas,curatoriais, organizacionais e educativas hegemônicas e a ressignificação das narrativas oficiais em busca de uma sociedade antirracista.
Essa matéria faz parte da série Experiências Negras, material desenvolvido pela equipe do Instituto Tomie Ohtake, que agora está em parceria com o portal Arteref.
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